Novos titulares da Cátedra Olavo Setubal tomam posse no dia 18 de agosto
- Alemberg Quindins, Nísia Trindade Lima e Fernando José de Almeida, novos titulares da Cátedra Olavo Setubal, tratarão de temas transversais que perpassam a noção de território
No século 20, o território deixou de ser considerado apenas um espaço delimitado geograficamente para constituir-se numa construção social moldada pelas relações de poder e práticas sociais. A partir dessa ampliação de significado, via geografia crítica, as ciências sociais e as humanidades passaram a vê-lo como um campo de relações, memórias, afetos, lutas e criação coletiva, no qual se evidenciam desigualdades históricas e estruturais, mas também onde florescem redes solidárias, respostas criativas e aprendizados sociais.
É com base nessa concepção que Alemberg Quindins, Fernando José de Almeida e Nísia Trindade Lima, novos titulares da Cátedra Olavo Setubal – Transversalidades: Arte, Cultura, Ciência e Educação (parceria entre o IEA e a Fundação Itaú) irão desenvolver o programa Territórios: Diversidades, Desigualdades e Aprendizados Sociais até meados de 2026.
Apesar de terem iniciado em junho as atividades de seu programa de trabalho, eles tomarão posse oficialmente no dia 18 de agosto, às 14h30, em cerimônia na Sala do Conselho Universitário da USP, com transmissão pelo canal do IEA no YouTube. É necessário fazer inscrição prévia online para acompanhar a cerimônia presencialmente ou pela internet.
Quindins é músico, empreendedor social, escritor e criador da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, em Nova Olinda, CE. Filósofo e educador, Almeida atua como professor universitário e gestor público na área de educação de São Paulo, onde já foi secretário municipal ; Lima é socióloga, professora universitária e foi a primeira mulher a presidir a Fiocruz e a responder pelo Ministério da Saúde [leia notícia sobre a escolha dos três e a nova proposta acadêmica da cátedra].
Diversidade
De acordo com a coordenação acadêmica da cátedra, a diversidade de formação e áreas de atuação dos novos titulares cria um espaço privilegiado de convergência entre arte, cultura, ciência, educação, saúde e gestão pública, articulando saberes acadêmicos, iniciativas institucionais e experiências territoriais.
Ao elaborar o programa de sua titularidade, os três reafirmaram a compreensão do território como espaço socialmente construído em constante transformação e atravessado por dimensões afetivas e políticas. Também ressaltaram sua especificidade como local de manifestação de diversidades (reconhecidas como expressões da riqueza cultural, étnica, de gênero e de saberes) e desigualdades (com complexidade estrutural a impor urgência de políticas públicas e práticas de enfrentamento sensíveis às especificidades de cada realidade).
Os catedráticos atentaram também para a importância de valorizar o território como lugar de aprendizados sociais, entendidos como processos coletivos de inovação, resistência e reinvenção que emergem em contextos de crise e nas vivências cotidianas. Outra característica do programa é assumir a ciência como componente da cultura presente no território, reconhecendo a importância da integração entre saberes acadêmicos e populares, bem como das múltiplas formas de produção e circulação de conhecimento em diferentes contextos. O plano de atividades do programa inclui três iniciativas:
- série Cátedra em Movimento – Encontros Territoriais compreende atividades em diversos lugares de junho a outubro de 2025 (já ocorreram encontros na Fiocruz e redondezas, no Rio de Janeiro, e em Nova Olinda (CE), em julho);
- seminário “Territorialidade: Diversidades, Desigualdades e Aprendizados Sociais”, em novembro de 2025, que fará um balanço dos encontros territoriais;
- disciplina de pós-graduação “Territorialidade: Diversidades, Desigualdades e Aprendizados Sociais”, a ser oferecida em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação no primeiro semestre de 2026.
Transversalidade
A abordagem metodológica do programa será a da transversalidade, de acordo com as diretrizes da cátedra. Nesse sentido, as atividades almejam integrar arte, ciência, cultura, educação e saúde, rompendo fronteiras disciplinares. Com essa preocupação, o programa será desenvolvido a partir de uma série de eixos estruturantes. Entre eles está o exame da questão do pertencimento ao território, com ênfase na exploração das relações entre espaço, memória, afetividade e identidade.
O programa também analisará as múltiplas desigualdades dos territórios a serem estudados, mas com a preocupação simultânea de identificar estratégias públicas de enfrentamento adequadas às especificidades locais. Em paralelo a isso, os catedráticos pretendem adotar uma postura "crítica às perspectivas que dão relevo ao que falta ao Brasil, em especial aos grupos que mais sofrem o impacto das desigualdades sociais, sejam elas de classe, gênero ou etnorraciais, ignorando as potencialidades presentes na sociedade".
Nesse processo de valorização de potencialidades, o programa pretende investigar temas como memória, trabalho e política como campos de aprendizado, resistência e reinvenção social, com atenção especial ao papel das experiências locais na sistematização e difusão de práticas inovadoras e inspiradoras com potencial transformador.
Entre os aspectos ligados às experiências a serem analisados estão: as práticas educativas enraizadas nas realidades locais; as lições e novas práticas emergentes em função da pandemia de Covid-19; e o mapeamento, articulação e fortalecimento de redes institucionais, acadêmicas e comunitárias.
No âmbito cultural, a preocupação é com o reconhecimento do patrimônio como catalisador de inclusão e identidade, integrando arqueologia social inclusiva, museus orgânicos, moradas de conteúdo e saberes de mestres locais, e a abordagem do encantamento e sensibilidade por meio da visão da estética e do afeto como dimensões fundamentais da transformação social.
O programa também se preocupa com a ética do cuidado do futuro, com discussões sobre o compromisso com a responsabilidade intergeracional e com os princípios de sustentabilidade para orientar ações presentes e futuras.
Foto: Pedro Arcanjo/Fundação Casa Grande