“Crescer saudavelmente” e descentralizar a Pinacoteca estão entre os planos do novo diretor-geral
Jochen Volz debateu com especialistas sobre o futuro da Pinacoteca |
O novo diretor-geral da Pinacoteca, Jochen Volz, quer que o museu continue crescendo, mas com um cuidado: é preciso observar o quanto se pode gastar, para não extrapolar os limites orçamentários. “Com a redução de recursos, os museus caminham para uma realidade onde serão possíveis apenas eventos pontuais, precisamos ter cuidado e fazer de tudo para que isso aconteça devagar”, justificou Volz durante encontro promovido pelo Grupo de Pesquisa Fórum Permanente: Sistema Cultural Entre o Público e o Privado no IEA no último dia 7 de agosto. A atividade reuniu 16 especialistas da área para debaterem com o diretor-geral do museu seus planos e suas ideias para a Pina.
No cargo desde junho, ele ressaltou a importância de “crescer saudavelmente”: é melhor manter a coleção a focar na velocidade com que ela cresce. A preocupação de Volz com as finanças é justificada. Apenas em 2015, por exemplo, a Pinacoteca teve uma redução de 15% do orçamento devido aos cortes feitos pela Secretaria de Estado da Cultura em São Paulo, o que causou a demissão de 29 funcionários e redução no horário de funcionamento do museu.
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Para contornar esse problema, Volz sugere um diálogo entre estado e museu, buscando meios de valorizar os acervos, já que são patrimônio de toda a população. “Precisamos garantir que daqui a 100 anos a cidade de São Paulo ainda tenha exposições de arte”.
Outro desafio para a Pinacoteca – e para qualquer instituição de arte – é a tentativa de descentralizar a instituição e atingir o público mais distante. Diretor artístico por sete anos do Inhotim, em Brumadinho-MG, considerado o maior museu de arte contemporânea em espaço aberto do mundo, Volz diz que é importante trazer o “fora” para São Paulo, mas também levar São Paulo para fora.
Volz: "A Pinacoteca é um museu de ordem global de arte brasileira" |
A Pinacoteca, por exemplo, já realiza viagens e exposições fora da cidade. Porém, atingir cada vez mais as outras partes da própria cidade, como a periferia, também faz parte dos planos do diretor. “Gosto sempre de usar ‘público’, no singular, sem divisão de nichos. Para mim, não existe ‘públicos’. Entendo que a Pina não faz exposições para um grupo, mas, sim, para um público, que compreende todos”.
Questionado sobre as potencialidades da Pinacoteca, Volz elogiou a estrutura que encontrou e a força da coleção pertencente ao museu, a qual continua crescendo com obras da arte contemporânea. “É uma instituição com uma rica história, que conta com uma equipe forte, consolidada e com know-how, além de ser referência nacional e internacional. A Pinacoteca é um museu de ordem global de arte brasileira”, diz.
Outro ponto abordado na conversa foi a respeito do diálogo com outras instituições. Volz acredita ser importante o contato com colegas e com pessoas que admira, mas ressalta que é essencial que cada instituição busque seu próprio perfil, sua função. Um exemplo citado foi o da relação da Pina com o Memorial da Resistência. O museu que preserva as memórias da resistência e da repressão políticas do estado de São Paulo divide o mesmo edifício com a Estação Pinacoteca. Volz diz que pretende cada vez mais pensar as programações de forma integrada, criando projetos em conjunto com o Memorial.
Sobre Jochen Volz
Alemão, nascido em 1971, Volz é casado com a artista mineira Rivane Neuenschwander e viveu em Belo Horizonte até o início deste ano, quando se mudou para São Paulo para assumir a curadoria da Bienal de São Paulo.
Antes da Pina, Volz foi diretor de programação da Serpentine Gallerie, em Londres, de 2012 a 2015; diretor artístico do Instituto Inhotim, em Minas Gerais, de 2005 a 2012; e curador do Portikus, em Frankfurt, Alemanha, de 2001 a 2004. Na Bienal de São Paulo, foi curador-chefe da 32ª edição, realizada em 2016, além de co-curador convidado da 27ª, em 2006. Em outras mostras internacionais, Volz foi o co-curador da 53ª Bienal de Veneza, em 2009, e da 1ª Aichi Triennial, em Nagoya, Japão, em 2010.
Fotos: Leonor Calasans / IEA-USP