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As transformações na Rússia

por Flávia Dourado - publicado 01/11/2005 00:00 - última modificação 08/04/2013 15:28

"O Processo de Transformação Sistêmica na Rússia" é o título do projeto de pesquisa que a economista Lenina Pomeranz, pesquisadora visitante do IEA, desenvolverá no Instituto no biênio 2006/7.

A economista Lenina Pomeranz, professora associada da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e pesquisadora visitante do IEA, desenvolverá no biênio 2006/7 o projeto "O Processo de Transformação Sistêmica na Rússia". O objetivo é a produção de um livro que consolide as investigações que ela vem realizando desde o final dos anos 80.

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A economista Lenina Pomeranz

O estudo da experiência soviética não será exaustivo. Partindo do exame das especificidades do sistema constituído a partir dos anos 30, a pesquisadora centrará o esforço analítico nos pontos da evolução do sistema que permitam avaliar as tentativas de ajustá-lo e os impasses surgidos. Ela pensa especificamente nas reformas de Khrushev, Kossygin e Gorbachev. "Essas reformas implicavam em mudanças na estrutura e nos métodos da gestão econômica, fornecendo elementos para a análise crítica dos mecanismos de funcionamento do sistema e também das relações entre a gestão econômica e o controle político desta."

A hipótese de trabalho adotada por Pomeranz é a de que a derrocada do sistema se explica - com base na interpenetração entre o aparelho do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e o aparelho estatal na condução do país - pela deterioração gradativa da liderança política do PCUS, particularmente a partir da segunda metade dos anos 50, a qual determinou sua incapacidade de ajustar a gestão econômica e política às condições ditadas: 1) por uma realidade social mais complexa, surgida do próprio desenvolvimento econômico e das denúncias do terror stalinista; 2) pelas restrições de ordem econômico-financeira, impostas pelo confronto estabelecido na Guerra Fria; e 3) pelo enorme desafio representado pela nova revolução tecnológica em que se assenta a transformação atual do capitalismo mundial.

Quanto ao processo de transição para o sistema capitalista, a análise de Pomeranz partirá do pressuposto de que, embora se possa afirmar que a Rússia é hoje um país capitalista, "é preciso qualificar de que capitalismo se trata, não só em função de suas particularidades, mas também em função do seu nível de desenvolvimento e de sua integração no concerto do capitalismo mundial".

A hipótese nesse caso é de que a natureza e o modo de funcionamento do novo sistema russo pode ser caracterizado por elementos com fonte: 1) no passado socialista, do qual foram herdadas uma estrutura socioeconômica e uma cultura dadas, além de uma posição estratégica no cenário internacional; 2) na condução de um processo de transformação sistêmica, fortemente determinado pelo desejo de impedir qualquer retrocesso e de afirmar o país no concerto dos países capitalistas e pela grande influência de uma assessoria internacional, não propriamente preocupada com a construção institucional da economia; e 3) no processo político tumultuoso em que se conduziu essa transformação.

Nas duas partes, a pesquisa será desenvolvida com base em bibliografia relevante sobre os temas e nas entrevistas com estudiosos realizadas por Pomeranz nas suas viagens à Rússia em 2003 e 2005.

Pomeranz especializou-se em planificação econômica na Escola Superior de Planificação e Estatística da Polônia (1964) e obteve o doutorado na mesma área no Instituto Plejanov de Moscou de Planificação da Economia Nacional (1967). Fez pós-doutorado no Center for Latin American Development Studies, nos EUA (1980-81). É autora de 39 artigos e de três livros, co-autora de outro livro e organizadora de outros três. Pomeranz desenvolveu sua carreira docente na USP, tendo se aposentado em 1998 como livre docente do Departamento de Economia da FEA, onde é professora associada de economia política contemporânea para a graduação desde 2001. Atua no IEA desde 1991. Criou o Núcleo de Pesquisa sobre os Ex-Países Socialistas em Transformação, posteriormente transformado em Grupo de Estudos da Área de Assuntos Internacionais então existente. Integra também o Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da USP, onde coordena a Área dos Ex-Países Socialistas.

Foto: Mauro Bellesa/IEA-USP