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As prioridades do ensino superior e da pesquisa no Japão

por Mauro Bellesa - publicado 10/03/2016 15:40 - última modificação 17/03/2016 15:24

O presidente da Agência de Ciência e Tecnologia do Japão (JST), Michinari Hamaguchi, proferiu a conferência "A Educação Superior e a Pesquisa Acadêmica no Japão do Ponto de Vista do Financiamento" no dia 7 de março, no primeiro dia de exposições da Fase Nagoya da Intercontinental Academia.
Michinari Hamaguchi
Michinari Hamaguchi: "Meta da
pesquisa no Japão é a inovação"

A pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico no Japão devem se pautar pelo uso social do conhecimento, inovação e cooperação entre cientistas, instituições e países. A recomendação é do presidente da Agência de Ciência e Tecnologia do Japão (JST na sigla em inglês), Michinari Hamaguchi.

Ele fez a exposição final do primeiro dia (7 de março) de conferências da Fase Nagoya da Intercontinental Academia. O tema de sua fala foi A Educação Superior e a Pesquisa Acadêmica no Japão do Ponto de Vista do Financiamento.

Hamaguchi disse que a humanidade precisa enfrentar a exaustão de recursos naturais, a crise alimentar, o aquecimento global, a degradação ambiental e o crescimento populacional. Segundo ele, esses desafios não podem ser resolvidos isoladamente por instituições e setores da pesquisa e nem mesmo por um país específico.

A esse quadro ele acrescenta as transformações na vida e na sociedade decorrentes do acelerado desenvolvimento tecnológico, como o das tecnologias de informação e comunicação: “Vivemos num mundo totalmente diferente do que ele era há 30 anos. Empregos estão desaparecendo e cada vez mais pessoas consideram que vivemos uma falsa revolução industrial, sendo a atualidade de fato uma época crítica”.

No caso japonês, Hamaguchi destacou que há um componente social adicional: o envelhecimento da população devido ao aumento da longevidade e à baixa taxa de nascimentos.

Ciência para a sociedade

Ele lembrou que na Declaração sobre a Ciência e Uso do Conhecimento Científico, elaborada em conferência mundial organizada pela Unesco e pelo International Council for Science (ICSU) em Budapeste, Hungria, em 1999, o papel da ciência foi definido a partir de quatro objetivos:

  • ciência para o conhecimento, conhecimento para o progresso;
  • ciência para a paz;
  • ciência para o desenvolvimento;
  • ciência na sociedade e ciência para a sociedade.

 

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Tragédia

Em relação à contribuição da ciência com a sociedade, Hamaguchi destacou a premência de esforços no caso japonês para a superação das consequências do terremoto e do tsunami dele decorrente que devastaram o nordeste do Japão em 11 de março de 2011, quando mais de 18 mil pessoas morrerem, principalmente por causa do tsunami: “Como podemos contribuir por meio do desenvolvimento científico e tecnológico para que os sobreviventes reconstruam suas vidas e recuperem a alegria?”.

A tragédia também teve um impacto profundo na credibilidade dos cientistas japoneses. Antes do terremoto, quase 80% dos japoneses confiavam nos cientistas, mas esse percentual caiu para 40% depois da tragédia, chegando agora a 60%, afirmou Hamaguchi.

Ele disse que o Japão precisa se preparar para eventos similares aos de 2011. O mais importante, segundo ele, é buscar soluções para questões de infraestrutura, educação, áreas urbanas, alimentação e redes de comunicação.

Hamaguchi detalhou as ações da JST para o suporte às comunidades afetadas pelo tsunami e pelo vazamento radioativo nos reatores de Fukushima. Um dos exemplos que citou foi o desenvolvimento de um equipamento para verificar com rapidez se o arroz produzido na região está contaminado ou não por radiação.

Universidades

O conferencista frisou que a revolução tecnológica, além de afetar profundamente a indústria, a empregabilidade e vários aspectos da vida do indivíduo e da sociedade, também leva a mudanças drásticas na universidade e na produção de conhecimento.

Para ele, as formas tradicionais de educação não terão mais função como meio de transmissão de conhecimentos para as novas gerações e os professores estão perdendo seu papel especial na sociedade e talvez se tornem simples cidadãos em uma rede. Diante disso, considera essencial que o Japão crie um novo sistema acadêmico e uma nova forma de constituição de redes de universidades baseadas no trabalho cooperativo.

Programas da JST

Hamaguchi disse que os principais programas para financiamento de pesquisa da JST destinam-se a estimular a inovação, inclusive aqueles relacionados com a pesquisa básica. Uma das preocupações, afirmou, é apoiar a propriedade intelectual e formar profissionais que atuem na interação entre as empresas e a academia.

De acordo com ele, o principal programa dedicado à inovação considera três premissas: envelhecimento da população, uma sociedade inteligente e sustentabilidade. A iniciativa têm três diretrizes de desenvolvimento: 1) "abordagem backcast": imaginar a sociedade futura, que necessidades ela terá daqui a 10, 20 anos, e planejar os passos a serem dados para que os objetivos sejam alcançados; 2) "sob o mesmo teto": reunir num mesmo espaço pesquisadores da indústria e da universidade para que harmonizem suas diferenças de atuação, como o tempo dedicado a uma pesquisa de longo prazo, por exemplo;  3) maior prazo de financiamento: a JST financia por 9 anos, algo incomum no Japão, onde os projetos são costumam ser apoiados durante 3 a 5 anos.

Mudanças

Após a conferência, ele respondeu a algumas questões da plateia. Carsten Dose, diretor executivo do Instituto de Estudos Avançados de Freiburg, Alemanha, e secretário geral da Intercontinental Academia, perguntou a Hamaguchi sobre suas expectativas em relação às mudanças nas universidades japoneses para que se tornem melhores em termos de inovação, dada a sua experiência de reitor da Universidade de Nagoya de 2009 a 2015. Ele respondeu que o Japão precisa mudar o estilo de fazer ciência, dedicando maior atenção às necessidades da sociedade.

A seu ver, outro aspecto importante a exigir mudanças é o fato de o Japão possuir 2018 programas de graduação e estar enfrentando o problema da redução da população japonesa. Um indicador desse descompasso é a redução na competição nos exames de ingresso na universidade este ano, afirmou. "A geração com 18 anos está diminuindo rapidamente. Até 2025, o Japão terá uma redução de 103 mil (10%) no número de pessoas com essa idade. Atualmente, essa população já representa menos de 60% daquela existente no período de pico. Isso significa que o sistema entrará em colapso."

Acrescentou que existem 760 universidades no Japão, sendo que 40% delas apresentam problemas. "Esperamos uma espécie de desastre em alguns anos. Por isso precisamos descobrir como reformar o ensino superior, mas no momento ninguém sabe como fazer isso."

Martin Grossmann, ex-diretor do IEA e integrante do Comitê Sênior da International Academia, quis saber de Hamaguchi se existe uma crise das ciências sociais e humanidades nas universidades japonesas, uma vez que o noticiário tem informado que as instituições do país darão menor atenção a elas.

Hamaguchi disse que o importante incorporar cientistas sociais desde o início dos projetos relacionados com as ciências naturais e também harmonizar os estilos das duas áreas: “As ciências sociais geralmente trabalham com longos períodos do passado e o Japão precisa pensar no futuro. Além disso, os cientistas naturais trabalham em grupo, ao passo que as pesquisas em ciências sociais costumam ser realizadas por apenas um pesquisador”.