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Festival Kwanzaa-Escrevivência, da resistência à celebração da cultura negra

por Mauro Bellesa - publicado 17/11/2023 11:25 - última modificação 07/12/2023 09:52

A escritora e professora Conceição Evaristo e o Grupo de Estudos em Escrevivência organizam, de 13 a 15 de dezembro, o Festival Kwanzaa-Escrevivência, com atividades artístico-culturais em vários locais da cidade de São Paulo.

Cartaz do Festival Kwanzaa-EscrevivênciaPara marcar as contribuições das pessoas negras na produção de conhecimentos e comemorar as realizações da titularidade da escritora e professora Conceição Evaristo no período 2022-2023 na Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, acontece, de 13 a 15 de dezembro, o Festival Kwanzaa-Escrevivência, com atividades artístico-culturais em três regiões da cidade de São Paulo [veja a programação].

Os eventos da programação do festival são públicos, gratuitos e contarão com tradução em libras. Para participar, os interessados deverão efetuar inscrição prévia em cada atividade. Haverá oito rodas de conversas nos dias 14 e 15, todas com transmissão ao vivo pela internet.

O festival tem como objetivo celebrar a relevância dos trabalhos acadêmicos e artísticos da escritora, que discutem a formação social brasileira em confluência com epistemologias de vários intelectuais, entre os quais Beatriz Nascimento, Lélia González, Lêda Maria Martins, Sueli Carneiro, Abdias do Nascimento, Eduardo Glissant e Franz Fanon.

A participação de Evaristo na cátedra pautou-se pela reflexão sobre epistemologias afro-diaspóricas por meio de diversas atividades e ações, dentre as quais a criação do Grupo de Estudos Escrevivência: Corpu(s) Estéticos em Diferença, uma disciplina de pós-graduação e um curso de extensão para docentes da educação básica, além de seminários, palestras e participação em eventos que tiveram como audiência tanto a comunidade uspiana quanto o público externo.

Conceição Evaristo - 2023
A escritora Conceição Evaristo, titular da Cátedra Olavo Setubal e promotora do Festival Kwanzaa-Escrevivência

Resistência e expressão

Durante sua titularidade na cátedra, Evaristo expandiu, em parceria com o grupo de estudos que criou, o diálogo do conceito de escrevivência com diferentes áreas de conhecimento.

A intelectual explica que a escrevivência representa uma concepção teórica que busca trazer à luz as vivências tanto individuais quanto coletivas das comunidades negras na diáspora e das populações marginalizadas: “Ela se configura como um ato de resistência e expressão, destacando-se como uma ferramenta poderosa para reivindicar as identidades, memórias e histórias afro-diaspóricas, ressignificando imagens, como a da Mãe Preta, silenciadas historicamente nas sociedades”.

Dessa forma, em consonância com os sete princípios fundamentais do Kwanzaa (unidade, autodeterminação, trabalho coletivo e responsabilidade, economia cooperativa, propósito, criatividade e fé) e por meio da reflexão sobre a escrevivência, o festival busca celebrar a cultura negra, bem como “estimular formas coletivas de vida e resistência das comunidades negras em diáspora”.

Organizado pela Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciências, uma parceria entre o IEA e o Itaú Cultural, o festival conta também com o apoio da Fundação Itaú, Itaú Social, Fundação Tide Setubal, Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária e Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP.


Saiba mais sobre o Kwanzaa

Frutas e velas para a celebração do Kwanzaa
As frutas representam os primeiros resultados da colheita e as velas, os sete princípios do Kwanzaa
O Kwanzaa é uma celebração cultural afro-americana surgida em 1966 por sugestão de Maulana Karenga, um professor de estudos negros atualmente vinculado à Universidade Estadual da Califórnia em Long Beach. Criada no atribulado contexto do movimento pelos direitos civis estadunidense, a festividade é comemorada principalmente nos Estados Unidos, de 26 de dezembro a 1º de janeiro.

Segundo Hernani Francisco da Silva, o Kwanzaa foi concebido como um ritual ligado à época de colheita. Durante a semana em que ele transcorre, os participantes se reúnem com familiares e amigos para trocar presentes à luz de uma série de velas nas cores preta, vermelha e verde, que simbolizam os sete valores fundamentais da vida familiar afro-americana, identificados por termos da língua suaíli: umoja (unidade), kujichagulia (autodeterminação), ujima (trabalho coletivo e responsabilidade), ujamaa (economia cooperativa), nia (propósito), kuumba (criatividade) e imani (fé).

Para Conceição Evaristo, comemorar o Kwanzaa no Brasil implica “celebrar as raízes africanas, estar em sintonia com a herança e ancestralidade trazidas pelos povos africanos e reforçar que, apesar dos desafios enfrentados pelas populações afro-brasileiras, a resiliência e a celebração das conquistas persistem como testemunhos poderosos de uma história rica e vibrante”. Para ela, a celebração fortalece os laços comunitários e inspira a continuidade do legado cultural, promovendo a conscientização.


Festival Kwanzaa-Escrevivência
13 a 15 de dezembro
IEA, Each-USP e Itaú Cultural
Mais informações: Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1678
Pagina do festival

Fotos (a partir do alto): Leonor Calasans/IEA-USP e RDN Stock project/Pexels