Instituto oficializa acordo de cooperação acadêmica com o Núcleo de Estudos da Violência
Wanda Maria Risso Günther e Marcos César Alvarez |
O Centro de Síntese USP Cidades Globais, sediado no IEA, e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP) formalizaram um acordo de cooperação acadêmica durante o seminário “Cidades e Violência em Perspectiva”, no dia 15 de junho. Os grupos já mantinham contato acadêmico entre seus pesquisadores, mas pretendem, com a assinatura da parceria, aprofundar a relação.
“Para a parceria entre o NEV e o IEA, estudar a cidade de São Paulo em toda sua heterogeneidade é fundamental”, disse o sociólogo Marcelo Batista Nery, do NEV. “O acordo contribuirá com políticas públicas muito necessárias nesse momento”, completou Wanda Maria Risso Günther, coordenadora do Centro de Síntese USP Cidades Globais.
Durante o evento, Nery ressaltou a importância de pesquisas que seguem uma visão holística da criminalidade, integrando dados de violência com outros indicadores sociais. Ele defende que não é possível fazer a melhor política pública sem compreender essa heterogeneidade.
Pesquisadores do NEV e do USP Cidades Globais já estão, dentro dessa perspectiva, desenvolvendo uma nova metodologia de análise de dados que leva em conta o espaço geográfico onde o crime violento ocorreu e o observa sob diversos prismas. “Queremos olhar o entorno geográfico da violência: qual é o nível de arborização daquele lugar, qual é o padrão urbano, qual a distância para um equipamento de saúde, de educação, entre outros dados”, explicou Nery. Essa abordagem é, segundo o sociólogo, inovadora por permitir verificar a existência de ocorrências que podem ser estudadas em conjunto devido às características sociais semelhantes do seu entorno.
Estudo já realizado com participação das duas organizações - e publicado na Revista Estudos Avançados em 2019 - também levou em conta a complexidade e segmentação da cidade. A pesquisa, que tinha como objetivo estudar a violência da cidade, revelou que São Paulo não é dividida apenas entre centro e periferia. Ela é, na verdade, composta por pelo menos oito tipos de padrões urbanos diferentes, que não correspondem às divisões político-administrativas existentes.
Essa nova compreensão foi usada em outro trabalho acadêmico de relevância. Pesquisa de Marcos Buckeridge, do USP Cidades Globais, indicou que, durante a pandemia, cada um dos oito padrões urbanos apresentou diferente nível de contágio e de mortalidade por Covid-19. “Isso demonstra que esse entendimento da cidade não está relacionado apenas à questão da violência”, argumentou Nery.
Violência e sustentabilidade urbana
Marcelo Batista Nery, Wanda Maria Risso Günther, Marcos César Alvarez e Debora Sotto |
A violência nas cidades também oferece grande desafio para o combate às mudanças climáticas. Debora Sotto, pesquisadora colaboradora do Centro de Síntese USP Cidades Globais, explicou que a crise do clima afeta de maneira desproporcional os assentamentos urbanos informais e as regiões de baixa renda. A escassez hídrica e a exposição a doenças infecciosas, por exemplo, atingem com mais intensidade os grupos sociais mais vulneráveis - que são justamente as mulheres, as crianças, os idosos e as comunidades que sofrem exclusão étnica e racial. Esses também são os grupos mais sujeitos à violência, segundo Sotto.
A pesquisadora argumentou que é necessário que as cidades tomem ações de adaptação climática. Contudo, se as alterações do uso e ocupação do solo urbano não forem alinhadas à proteção de direitos fundamentais, poderão acentuar desigualdades. Remover populações e economias locais no território perpetuam, dessa maneira, violências sistêmicas promovem o que ela chamou de gentrificação verde.