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Nick Couldry faz conferência sobre impactos do poder simbólico das plataformas digitais

por Mauro Bellesa - publicado 20/04/2023 10:50 - última modificação 26/04/2023 12:59

O sociólogo britânico Nick Couldry faz a conferência O Espaço do Mundo: Plataformas Digitais e Perspectivas para a Solidariedade Humana no Século 21 no dia 27, às 14h.

Nick Couldry
O sociólogo Nick Couldry, da Escola de Economia e Ciência Política de Londres

Construído nas últimas três décadas por meio da internet e do surgimento de plataformas digitais, a esfera global de comunicação e interação social será discutido pelo sociólogo britânico Nick Couldry na conferência O Espaço do Mundo: Plataformas Digitais e Perspectivas para a Solidariedade Humana no Século 21no dia 27, às 14h.

A conferência é organizada pela Cátedra Oscar Sala, parceria entre o IEA e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), braço executivo do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). A moderação será do cientista da computação Virgílio Almeida, da UFMG, titular da cátedra. O evento será em inglês, com tradução e transmissão ao vivo pela internet.

Professor do Departamento de Mídia e Comunicação da Escola de Economia e Ciência Política de Londres, Couldry tem como áreas de pesquisa: mídia e comunicação; cultura e poder; e teoria social. Sua preocupação principal é com as consequências da concentração de poder simbólico em instituições midiáticas na realidade do dia a dia.

Ao contextualizar a importância da temática a ser abordada por Couldry, Virgílio Almeida destaca que o modelo de negócios das plataformas digitais depende da extração de dados de seus usuários, de forma a modelar seu comportamento e otimizá-lo para gerar valor publicitário. Diante disso, ele pergunta: “E se essas condições – válidas, talvez, em seus próprios termos comerciais – tiverem garantido um espaço de interação humana maior, mais polarizado, mais intenso e mais tóxico do que o compatível com a solidariedade humana?”.

Para ele, isso seria um grande problema para a humanidade, para o qual a teoria social "poderia desempenhar algum papel na desconstrução e potencialmente até na solução, formulando alternativas”.

A questão que se coloca, segundo Almeida, é "como poderíamos imaginar um espaço diferente do mundo que fosse menos propenso à toxidade e mais propenso a gerar a solidariedade e a cooperação efetiva de que a humanidade precisa, para termos alguma chance de enfrentar os enormes desafios compartilhados".

Segunda realidade

Ao longo de sua trajetória acadêmica, Couldry procurou confrontar uma contradição básica: a de que as tecnologias da informação e da comunicação, por apresentarem a todos uma ‘realidade’ todos os dias, "podem facilmente parecer uma segunda Natureza".

Com isso, o que sempre poderia ser contestado pode acabar parecendo algo sem desafio, uma estrutura de poder difícil de mover ou romper, afirma. “Essa estrutura, embora escrita na linguagem ‘suave’ dos símbolos, é forte o suficiente para destruir vidas.”

Couldry relembra que, inicialmente, focou seu trabalho no poder da mídia tradicional (especialmente televisão e imprensa) para definir a realidade política e social. Mais recentemente, passou a se interessar em como uma série de novas instituições digitais associadas à mídia assumiram esse poder.

“Hoje, o trabalho de construção da realidade é feito com igual relevância por meio de algoritmos e processamento de dados que medem nossas atividades em plataformas online ou quando usamos objetos conectados (‘internet das coisas’).”

Diante disso, Coudry apresenta duas questões: como a teoria social pode contribuir para o entendimento desses processos e seus efeitos transformadores na sociedade e na vida das pessoas? ela pode revelar como, quando parecemos ser mais “nós mesmos” e mais “juntos” com os outros, na verdade podemos estar mais enfronhados nos profundos maquinações do poder? “Isso certamente nunca foi tão verdadeiro quanto nesta era dos Big Data”, afirma.

O projeto mais recente de Couldry sobre essas preocupações é o desenvolvimento da estrutura do colonialismo de dados, apresentado inicialmente no livro ““The Costs of Connexion: How Data Are Colonizing Human Life and Approprietade It for Capitalism”, de 2019, coescrito com Ulisses Ali Mejias. Outros livros recentes dele são “Media, Voice, Space and Power: Essays of Reflection” e “Media: Why It Matters”, ambos também de 2019.

Foto: Marcos Santos/Jornal da USP