Cerimônia de posse da Diretoria do IEA destaca luta contra o negacionismo
Essa é a visão da importância do Instituto manifestada pelo reitor Vahan Agopyan durante a cerimônia de posse oficial de Guilherme Ary Plonski e Roseli de Deus Lopes como novos diretor e vice-diretora do IEA, no dia 6 de novembro, na Sala Alfredo Bosi do Instituto. Plonski e Roseli respondem pela Diretoria desde 12 de abril, mas a posse oficial teve de ser postergada em razão das restrições impostas pela pandemia.
Além de Agopyan, Plonski e Roseli, também participaram da parte presencial da cerimônia ex-diretor Paulo Saldiva e o secretário geral da USP, Pedro Vitoriano de Oliveira. Na plateia estavam familiares dos empossados e equipes do IEA e da Reitoria. De maneira online, a solenidade foi prestigiada por pesquisadores e conselheiros do Instituto, dirigentes de unidades e órgãos da USP, dirigentes de universidades de São Paulo e de outros estados e representantes de órgãos federais e estaduais, agências de fomento, grupos empresariais, instituições parceiras e da comunidade israelita de São Paulo.
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Agopyan agradeceu a Saldiva pelo trabalho realizado e aos novos diretor e vice-diretora por terem se proposto a comandar o Instituto. Afirmou que a mudança da diretoria de uma unidade não é apenas um ato burocrático, mas sim “um momento em que a unidade se debruça sobre si mesma, analisa o que tem feito e planeja seu futuro, um momento de reflexão, de acerto de rumo.”
O reitor disse ter uma visão sobre o IEA igual à do ex-reitor José Goldemberg, criador do Instituto: “Não é uma unidade comum. Tem uma função muito específica: trazer os desafios para dentro da Universidade. Mais do que nunca precisamos de uma instituição como o IEA para poder discutir, planejar e difundir novas ideias na Universidade".Para ele, além de problemas similares aos do século 20, o mundo enfrenta agora um agravante: o negacionismo científico. “Nunca em minha vida enfrentei esse tipo de postura enraizada nas sociedades brasileira e mundial.”
Em sua fala de posse, Plonski destacou o papel agregador do Instituto, "pelo qual passaram mais de 250 pesquisadores nos últimos cinco anos, entre eles integrantes de 40 das 51 unidades da USP".
Também enfatizou a importância da parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa, como no caso do Programa Ano Sabático, e colaborações importantes com as demais pró-reitorias.
“O IEA é efetivamente da USP”, disse, exemplificando com o processo de escolha da direção, que inclui a participação no Colégio Eleitoral dos diretores das unidades e os representantes das respectivas congregações no Conselho Universitário, além de conselheiros, ex-diretores, ex-conselheiros e o presidente da Comissão de Pesquisa.
Para Plonski, tornar-se diretor do Instituto é assumir um conjunto de desafios, entre os quais o de assegurar a continuidade da missão recebida de José Goldemberg: “Favorecer novas ideias, resultante do convívio, do confronto e da interação entres as diversas áreas do trabalho intelectual", nas palavras do ex-reitor.
Ele manifestou o quanto é desafiador “manter uma ambiência de confronto de ideias nesse tempo de sentimentos à flor da pele e com o agravante da pandemia”.
Segundo Plonski, outro desafio é manter o IEA à altura dos imperativos do século 21. “Não dá para fugir de que estamos numa era de extremos, alguns semelhantes aos do século 20”.
Ao lado de temas tradicionais do instituto, como as questões climáticas e acessos à educação e saúde de qualidade, ele considera essencial que o Instituto adote um papel transformador, sendo não apenas um laboratório de ideias, mas “um ateliê de ideias, com centros de síntese (a exemplo do USP Cidades Globais), gerando protótipos (caso da formação de professores pela Cátedra Educação Básica), organizando think tanks (como o recém-criado sobre o 5G no Brasil) e participando de iniciativas ousadas (característica do Amazônia 4.0)”
Aniversário do IEA
A cerimônia de posse oficial da nova Diretoria foi complementada com a comemoração do 34º aniversário do Instituto, transcorrido no dia 29 de outubro.
Além das falas da nova vice-diretora e de Saldiva, houve a transmissão de vídeo com depoimentos do primeiro diretor do Instituto, Carlos Guilherme da Mota, dos coordenadores dos Polos Ribeirão Preto e São Carlos ( Antonio José da Costa Filho e Valtencir Zucolotto, respectivamente), da conselheira Cláudia Costin, da ex-conselheira Regina Markus, da funcionária Leonor Calasans e dos pesquisadores Carlos Nobre, Eliana Sousa Silva, José Álvaro Moisés, Glauco Arbix, Tatiana Cortese e Jeffrey Lesser.
Para Roseli, "aos 34 anos, o IEA ainda é superjovem, é muitos docentes ainda não têm ideia de sua importância para a Universidade".
Ela ressaltou o trabalho do Instituto com temas complexos, o exercício da colaboração - com diferentes perspectivas de análise -, as conexões (“com todo o planeta, pesquisadores e sociedade civil”) que possibilita à USP e a importância de transmitir o conhecimento produzido à sociedade num “momento de obscurantismo e de ataques à ciência”.
Saldiva afirmou que os quatro anos em que esteve à frente do Instituto foram os mais importantes de sua carreira acadêmica e que “saiu diferente, para melhor.”
Ele destacou o papel do Instituto como lugar de debate de ideias e laboratório e incubadora de projetos. “Quando surgiu, o IEA se preocupava com o momento político do país. Depois vieram temas importantes, como a cultura, florestas, oceano. Desde o Projeto Floram [lançado em1990], a Amazônia está no foco do IEA, bem como no mundo.”
“E mundo está esquisito. Não é uma crise política, como no século 20, com a ameaça atômica. Vivemos uma crise civilizatória. Antes, os líderes, fossem de esquerda ou de direita, não falavam contra vacinas nem diziam que a Terra plana.”
Para Saldiva, quem determina os rumos do IEA são as pessoas que o frequentam. “Na direção, todo dia aparecia alguém com uma ideia sobre a qual eu não tinha pensado”. Dirigindo-se ao reitor, afirmou que seu desejo é que o Instituto seja mais utilizado pela Universidade.
Fotos: Leonor Calasans/IEA-USP