Em entrevista ao Estadão, Carlos Guilherme Mota fala sobre as perspectivas políticas para o Brasil
Carlos Guilherme Mota, primeiro diretor do IEA-USP, falou sobre o horizonte político brasileiro à coluna de Sônia Racy no jornal O Estado de S. Paulo. Na entrevista, publicada no dia 21 de janeiro, Mota reiterou a importância de instituições como o IEA para o avanço intelectual de questões sensíveis ao país, principalmente no atual “cenário de anacronismos” que o Brasil atravessa.
Questionado sobre os motivos que levaram Jair Bolsonaro à Presidência da República, o historiador culpou o esvaziamento ideológico dos partidos políticos. “Esqueceram, na classe política, que partidos têm de se basear num sistema de valores, num conjunto de ideias”, pontuou. Essa é, para ele, a principal justificativa para a derrocada do Partido dos Trabalhadores (PT), que “perdeu seus objetivos e aderiu aos vícios da política convencional”, abrindo espaço para o projeto de governo eleito em 2018.
Apesar do grande número de militares que compõem o primeiro escalão do atual governo, Mota não acredita que existam grandes paralelos entre o período atual e a ditadura militar (1964-1985). “Pode-se fazer alguma relação histórica”, disse. “Embora, é claro, sem os traços fortemente ditatoriais daquele período.” Os militares apresentam ainda um rigor incomum na política convencional e nos setores da esquerda, lembrou.
Ele entende, por outro lado, que há um certo anacronismo no governo Bolsonaro: “Somos agora um país que tem ideólogos, que tem guru”. Mota afirmou ainda que “soa ridículo” que um dos discípulos de Olavo de Carvalho, o guru em questão, ocupe a principal cadeira do Itamaraty. O historiador classificou o núcleo do atual comando político como “uma ordem autocrática com aparência democrática”. Sobre o futuro do Brasil, Mota foi breve: “O horizonte é de construção para longo prazo, e temos, nós brasileiros, de aprender essa lição”.
Veja a íntegra da entrevista aqui.
Foto: Leonor Calasans/IEA-USP