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Ariano Suassuna e Walter Zanini, dirigentes e promotores culturais

por Mauro Bellesa - publicado 03/10/2017 09:30 - última modificação 10/11/2017 09:49

O seminário "Dirigentes Culturais: Dos Anos 50 à Atualidade - Ariano Suassuna e Walter Zanini" foi realizado pela Cátedra Olavo Setubal no dia 26 de setembro, no Museu de Arte Contenporânea (MAC) da USP.
Antonio Nóbrega, Regina Silveira e Ricardo Ohtake - Dirigentes Culturais: Dos Anos 50 à Atualidade - Ariano Suassuna e Walter Zanini - 26/9/2017
Antonio Nóbrega e Regina Silveira foram os expositores do seminário coordenado por Ricardo Ohtake (à dir.)

ciclo Cultura, Institucionalidade e Gestão tratou em seu quarto encontro, realizado no dia 26 de setembro, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, de duas experiências bastante diferentes de gestão e promoção cultural fortemente marcadas pelas ideias de seus protagonistas: a preocupação com as raízes populares da cultura brasileira por parte de Ariano Suassuna (1927-2014) e a dedicação de Walter Zanini (1925-2013) à difusão de novas linguagens e meios nas artes visuais.

Intitulado Dirigentes Culturais: Dos Anos 50 à Atualidade - Ariano Suassuna e Walter Zanini, o seminário teve apresentações da artista visual Regina Silveira, ex-professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), e do músico, cantor, ator e dançarino Antônio Nóbrega. Regina tratou da carreira de Zanini como dirigente cultural, curador e professor. Nóbrega falou das características do Movimento Armorial, criado por Suassuna, e sua influência na trajetória do escritor como ativista cultural e gestor público.

O ciclo é uma realização da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, iniciativa do IEA que tem o Itaú Cultural como parceiro e patrocinador. O atual titular da cátedra é o gestor cultural e designer gráfico Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake. Além de responder pela organização do ciclo, ele tem coordenado todos os encontros.

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Um traço marcante de Zanini era compartilhar sua vida com os artistas e estar sempre próximo da produção contemporânea, segundo Regina Silveira, que teve o primeiro contato com ele em 1963. "O MAC, na administração de Zanine [1963 até 1978], estava sempre de portas abertas para os artistas, que iam discutir seus projetos com ele".

Regina Silveira - Dirigentes Culturais: Dos Anos 50 à Atualidade - Ariano Suassuna e Walter Zanini - 26/9/2017
Regina Silveira

O museu era pobre mas funcionava como uma janela para a produção artística internacional e para os artistas conceituais, afirmou a artista. "O museu também era um lugar de pesquisa, com uma ótima biblioteca."

A realização das mostras Jovem Arte Contemporânea foi um dos pontos marcantes da trajetória de Zanini no museu: "A de 1972, em especial, foi bastante provocativa e recebeu várias críticas, mas foi uma abertura para novas posturas artísticas".

Outras ações importantes dele foram, de acordo com Regina, a organização de mostras de importantes artistas brasileiros no exterior, a mistura de várias gerações nos projetos do museu e o estímulo aos estudantes que ele identificava como talentosos. "Ele também tinha interesse nas artes postais [que tinham sido introduzidas por Julio Plaza (1938-2003)], tendo apresentado a produção de mais de 200 artistas que se dedicavam a esse tipo de trabalho."

O interesse de Zanini por novas linguagens e os novos meios de expressão artística o levou a tornar o MAC um polo de videoarte. "Ele comprou equipamentos para isso e promoveu a interação do museus com polos semelhantes na Argentina e na Europa."

Ela lembrou também a participação de Zanini na criação, em parceria com ela, Julio Plaza e Donato Ferrari, do Centro de Artes Visuais Aster, para o qual convidavam "todo mundo para dar aula e assessoria artística".

Quanto à atuação de Zanini como curador das Bienais de 1981(16ª) e 1983 (17ª), Regina disse que na primeira ele procurou resgatar a mostra depois dos boicotes que ela sofrera em edições anteriores. "Ele conseguiu organizar a de 1981 com a ajuda dos amigos artistas e com a presença maciça de seus alunos da Faap na monitoria". Na Bienal de 1983, ele pode se dedicar mais à aplicação de suas ideias, voltando-se a segmentação por linguagens e não mais por países. "Novamente formamos um mutirão para ajudá-lo e até hospedávamos alguns artistas em nossas casas."

Do período em que Zanini foi diretor da ECA, ela destacou as várias idas dele a Brasília para convencer o CNPq a criar uma área específica para as artes e o empenho para que fosse criado na USP um núcleo de artes, "o que não conseguiu, devido a várias objeções". Desse período ela mencionou o evento Skyart, organizado por ele com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dos EUA, em 1986, com transmissões de imagens via satélite.

Segundo Regina, nos últimos anos de vida, Zanini se dedicou a pesquisa e à elaboração de um livro. "Quando ele morreu, sua mulher me pediu para cuidar do livro, que agora está pronto, editado pela Martins Fontes e patrocinado pelo Itaú-Unibanco. O lançamento será em outubro."

Antonio Nóbrega - Dirigentes Culturais: Dos Anos 50 à Atualidade - Ariano Suassuna e Walter Zanini - 26/9/2017
Antonio Nóbrega

Raízes populares

Nóbrega, que integrou o Quinteto Armorial, criado por Suassuna em 1970, disse que as atividades do escritor como gestor cultural (duas vezes secretário de Cultura de Pernambuco e uma vez do Recife) foram uma forma de "propiciar que suas ideias artísticas se materializassem fora dele".

A primeira atividade de promoção cultural de Suassuna foi a organização do "Congresso de Violeiros" em 1946, quando ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, segundo Nóbrega. "Ele trouxe os grandes cantadores para se apresentar no Teatro Santa Izabel", um reduto da arte erudita. O congresso foi um prenúncio das preocupações do escritor em trabalhar com as raízes populares da cultura brasileira, manifestas já nas suas primeiras peças, "A Mulher Vestida de Sol", de 1947, e "Auto da Compadecida" de 1955.

Em 1956, Suassuna deixou a advocacia e ingressou como professor na UFPE, onde também se graduou em filosofia e passou a lecionar estética no começo dos anos 60. Desse período, Nóbrega citou a parceria de Suassuna com Hermilo Borba Filho (1917-1976) na criação do Teatro Popular do Nordeste, a participação do escritor como um dos membros fundadores do Conselho Federal de Cultura, onde tinha a companhia de João Guimarães Rosa e Raquel de Queiroz, e sua nomeação como diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE em 1969.

Em 1970, além do Quinteto Armorial, Suassuna criou a Orquestra Armorial de Câmara  e lançou, em outubro, o manifesto do Movimento Armorial, uma iniciativa voltada para "a criação de uma arte erudita brasileira a partir das raízes populares da cultura do país", de acordo com Nóbrega.

O termo" armorial" Suassuna retirou da designação das figuras presentes em brasões de armas, tendo como referências as imagens que ilustram as capas de folhetos de cordel, explicou Nóbrega. O escritor considerava o ano de 1980 como o de encerramento do movimento, apesar de vários artistas, como o próprio Nóbrega, terem prosseguido no trabalho de fusão de elementos da arte popular e da arte erudita.

Fotos: Leonor Calasans/IEA-USP