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Workshop em São Carlos mostra aplicação de sistemas complexos na área da saúde

por Thais Cardoso - publicado 30/05/2014 12:16 - última modificação 30/05/2014 12:16

workshop sistemas complexos 1Uma área do conhecimento não tão complexa quanto se imagina, que pode ajudar na compreensão de diversas ciências, desde a saúde até as ciências agrárias, e na qual o Brasil está pelo menos 15 anos atrasados. Essa foi a definição básica de sistemas complexos transmitida pelos palestrantes do I Workshop Inovação e Sistemas Complexos em Saúde. O evento foi realizado nos dias 26 e 27 de maio no auditório da Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP).

Um dos exemplos de sistema complexo abordado foi o cérebro. Segundo o coordenador do evento, prof. Dr. Sérgio Mascarenhas, trata-se do sistema mais complexo que evoluiu antropologicamente. O órgão é o principal objeto de estudos de um dos projetos do pesquisador, que envolve a produção de um equipamento não-invasivo de medição da pressão intracraniana.

“A pressão intracraniana não é um número simples. Fazendo uma filtragem desses dados, nós conseguimos ver o coração batendo, não perifericamente, mas sim dentro do cérebro. E não só isso, nós conseguimos ver até a respiração. Com um só equipamento, é possível ver três funções vitais”, afirma ele.

O projeto tem a parceria do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). “A partir desse projeto de medição de pressão intracraniana saíram muitas ideias, afinal, todos os sistemas biológicos e humanos são sistemas complexos e estava faltando dar um enfoque mais específico sobre a particularidade desses sistemas na saúde”, explica o assessor de sistemas de saúde da OPAS Félix Rigoli.

“No Ministério da Saúde, já trabalhamos desde o início da década passada com inovação e com o complexo industrial da saúde, onde é feita essa interrelação da demanda da saúde com a relação soma-produto e com inovação”, conta o coordenador da área de equipamentos médicos do Departamento do Complexo Industrial da Saúde e Insumos Estratégicos (DECIIS) do Ministério da Saúde, Paulo Antonino.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também esteve presente no Workshop, representada pelo coordenador do Núcleo de Estudos sobre Bioética e Diplomacia em Saúde (Nethis), José Paranaguá. Segundo ele, da participação no Workshop surgiu uma nova ideia de expansão da Fundação, por meio de projetos de redes de cooperação entre o órgão e pontos mais dinâmicos, como o polo de desenvolvimento científico e tecnológico existente em São Carlos.

“Isso certamente nos ajudará a compreender a complexidade que cerca todas as dimensões da saúde, que é um objeto de atenção, atuação e preocupação permanente nesses mais de cem anos de nossa fundação, para que nós deixemos de pensar que a complexidade é uma adversária, porque nos a vemos frequentemente com olhos ou atitudes complicadoras. Até penso que o oposto de complexidade não seja a simplicidade, mas sim o complicado. E quem sabe nós transitaremos do polo do complicado, que é sempre nossa atitude sofrida diante dos problemas da saúde pública, para uma atitude de relacionamento prazeroso com a complexidade”, disse Paranaguá durante a abertura do Workshop.

 

Luz contra câncer e infecções

workshop sistemas complexos 2Outro tema ligado a sistemas complexos na saúde abordado durante o evento foi o uso da biofotônica no tratamento e diagnóstico de doenças. O docente do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e coordenador do Centro de Pesquisas em Óptica e Fotônica, Vanderlei Salvador Bagnato, mostrou os principais trabalhos desenvolvidos nessa área.

“A sociedade está mudando. Ou a tecnologia trabalha para a saúde ou teremos problemas. A população está envelhecendo e o número de casos de câncer está aumentando. Quanto mais próximo chegamos dos cem anos de idade, maior as chances de desenvolver tumores”, explica ele.

Para Bagnato, um dos problemas dos tratamentos do câncer é a necessidade de deslocar os pacientes, o que gera custos para a própria família e pode atrapalhar o tratamento. Por isso, os aparelhos que o grupo do docente desenvolve acabam com esse transtorno. “Qualquer técnica que se crie para a saúde pode até ser excepcional, mas só vai ser boa mesmo se levar em conta a realidade econômica da população. Uma pessoa com tumor que viva no Acre não tem que viajar a São Paulo para se tratar”, diz.

As técnicas estudadas pelo grupo de Bagnato estão sendo aplicadas também nas áreas de veterinária, com o uso da terapia fotodinâmica no combate à pitiose, doença de difícil cura causada por micro-organismos semelhantes a fungos, e em odontologia, com o uso de luz para descontaminar dentaduras e assim evitar problemas causados por fungos do gênero Candida.