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Boletim IEA — 35

por Marilda Gifalli - publicado 25/06/2014 20:15 - última modificação 11/08/2014 11:39

1° a 15 de dezembro de 2003

. Nanotecnologia, a última revolução possível

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na ciência e engenharia de materiais

. Grupo de Estudos sobre Nutrição e Pobreza
participará de conferência do Consea

. A guerra na Tchetchênia e o terror em Moscou

nota
Programa de rádio do IEA já pode ser ouvido pela internet

LEMBRETE
Dia 11 de dezembro, quinta-feira, às 18h, acontece o lançamento
da revista
Estudos Avançados n° 49, que traz o dossiê "Mulher, Mulheres"
(o evento terá apresentação do Coral da USP)

contato, volta a ser expedido em fevereiro
BOAS FESTAS E FELIZ ANO NOVO!

 


ARTIGO

Nanotecnologia, a última revolução possível
na ciência e engenharia de materiais

Cylon Gonçalves da Silva*

O começo simbólico da nanotecnologia é marcado por uma palestra proferida no final de 1959, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, pelo físico Richard Feynman (Prêmio Nobel em 1965), intitulada "Há Muito Espaço Lá Embaixo". Um dos pontos que Feynman quis enfatizar com esse título pode ser exemplificado com o DNA. Parece incrível, à primeira vista, que uma molécula de mais de metro de comprimento possa caber dentro do núcleo de uma célula, a qual, normalmente, só podemos enxergar com o auxílio de um microscópio. O fato é que há muito mais espaço lá embaixo do que nossa intuição “macroscópica” nos indica.

Outro ponto levantado por Feynman é a possibilidade de projetar e criar novos materiais, com propriedades físicas e químicas previamente determinadas, mediante a manipulação direta de átomos. Nas suas palavras: "Até agora nós temos nos contentado em escavar o subsolo para encontrar minerais. Nós os aquecemos e lhes fazemos coisas em uma grande escala, com a esperança de ter uma substância pura, com somente tanto de impurezas, e assim por diante. Mas, nós temos sempre de aceitar os arranjos que a natureza nos fornece...O que poderíamos fazer com estruturas em camadas, com as camadas certas? Quais seriam as propriedades dos materiais se nós pudéssemos arrumar os átomos da forma que nós queremos? Não posso ver exatamente o que aconteceria, mas não duvido que quando tivermos algum controle sobre o arranjo das coisas em pequena escala nós teremos uma variedade enormemente maior de propriedades que as substâncias podem ter e das diferentes coisas que podemos fazer [grifo meu]." Para realizar o sonho de Feynman, foi preciso esperar alguns anos.

O desenvolvimento de instrumentos capazes de permitir esse tipo de manipulação controlada e, sobretudo, a visualização de átomos e moléculas individuais, só veio a acontecer a partir do final da década de 1970. Originou-se, então, o que hoje se chama "nanotecnologia", a engenharia de materiais na escala do nanometro**. Sem me alongar demasiadamente sobre o tema, que é vasto, menciono, pelo lado da síntese de materiais nanoestruturados, as chamadas técnicas de crescimento epitaxial. Essas são técnicas que usam diferentes processos, pelos quais se depositam sucessivas camadas de átomos sobre a superfície de um substrato de forma a ter um controle muito delicado da espécie e posicionamento dos átomos em relação ao substrato e da espessura de tais camadas. Essas técnicas permitem fazer o que Feynman queria: produzir novos materiais, camada atômica por camada atômica. Muitos dos laseres semicondutores que empregamos na nossa vida quotidiana, em toca-disco CD e DVD, por exemplo, são produzidos por essas técnicas. Dentre os instrumentos da nanotecnologia, temos ainda: a microscopia eletrônica de alta resolução, as microscopias de varredura (tunelamento e força atômica, entre as principais) e as fontes de luz síncrotron. Alguns desses instrumentos de caracterização de materiais nanoestruturados estão disponíveis em vários laboratórios no País. O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, os possui todos e disponibiliza seu uso para a comunidade científico-tecnológica brasileira de modo aberto e competitivo. Isso mostra que, já há algum tempo, o Brasil vem investindo na formação de recursos humanos e na montagem de uma infra-estrutura laboratorial que pode ser usada para a nanotecnologia.

Cylon Gonçalves da Silva
Cylon Gonçalves da Silva: "Infra-estrutura laboratorial do Brasil pode ser usada para nanotecnologia

 

 

 

 

 

 

Um fato muito importante, do qual se origina, em grande parte, o interesse industrial pela nanotecnologia é que ela surge não apenas como a mais recente revolução em materiais, mas, de fato, a última revolução possível no domínio da ciência e engenharia de materiais. Isto é, a nanotecnologia, por manipular átomos, representa o limite final para o projeto e criação de materiais inovadores capazes de impulsionar a economia mundial para um novo patamar. A complexidade desse problema, contudo, é tão grande, que ele estará conosco ainda por um bom tempo.

A crescente convergência da biotecnologia e da nanotecnologia na nanobiotecnologia é uma das conseqüências da busca de novos paradigmas de manufatura, nos quais os modelos biológicos, de construção "de baixo para cima" (o DNA, a "fábrica", é menor do que o "produto"-indivíduo), começam a ser explorados seriamente como adição aos paradigmas tradicionais de manufatura “de cima para baixo” (a fábrica é maior do que o produto). Essa convergência já está levando ao surgimento de novos processos industriais e de novos produtos – isto é, ao surgimento de novas indústrias e de novos mercados onde as principais barreiras de entrada, no momento, são o conhecimento e a criatividade dos empreendedores. (Para sermos pragmaticamente realistas, uma boa dose de recursos de fomento à pesquisa e desenvolvimento, adicionada de farto capital de risco, ajuda bastante também.) Um exemplo disso são os esforços de síntese do fio de seda da aranha, cujas propriedades físicas, em termos de resistência e elasticidade, fazem dele uma matéria-prima para inúmeras aplicações práticas. Grandes empresas como a Dupont e empresas nascentes como a Nexia do Canadá estão empenhadas a colocar no mercado, o mais breve possível, novas fibras artificiais, produzidas por uma amálgama de tecnologia de DNA recombinante com técnicas tradicionais da engenharia de materiais.

Física, química, biologia, tecnologia da informação, todos se encontram no estudo dos fenômenos em nível nanométrico. Que novos conceitos e novas ferramentas surgirão desta convergência no estudo e compreensão, por exemplo, do cérebro humano? Que manipulações terapêuticas (ou nem tão benévolas) de nossas funções cognitivas esse conhecimento permitirá? Ainda é muito cedo para responder a essas perguntas, mas elas estão sendo feitas e recursos colocados na pesquisa e desenvolvimento de novas interfaces máquina/cérebro.

(*) Cylon Gonçalves da Silva é físico, professor emérito da Unicamp e ex-diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron.

(**) O termo nanotecnologia deriva de "nanometro", a unidade de medida que corresponde a um bilionésimo de metro. O prefixo "nano" é de origem grega e significa "anão". O nanometro é a escala de comprimento com que se mede o tamanho de átomos e moléculas. Os diâmetros atômicos, por exemplo, são da ordem de alguns décimos de nanometro.

Mais: texto extraído do artigo "Uma Introdução à Nanotecnologia", de Cylon Gonçalves da Silva. Uma versão preliminar do artigo foi publicada nos "Cadernos de Estudos Avançados" do Instituto Oswaldo Cruz (volume I, n° 2, 2003); para informações sobre a publicação, entre em contato com Cláudia Chamas, editora-adjunta dos cadernos, pelo e-mail chamas@ioc.fiocruz.br.

 


 

Grupo de Estudos sobre Nutrição e Pobreza
participará de conferência do Consea

Criado em março no IEA, o Grupo de Estudos sobre Nutrição e Pobreza participará da etapa municipal da 2ª Conferência Nacional do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), a realizar-se de 17 a 20 de março de 2004 em Olinda, Pernambuco. Três de seus integrantes, Silvia Cozzolino, presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN) e membro do Consea em São Paulo, Ana Lydia Sawaya, da Unifesp e coordenadora do grupo, e Luís Gaj, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, participarão do subgrupo Educação e Nutrição dessa primeira fase da conferência.

O grupo está convencido de que a participação de especialistas em atividades externas à universidade poderá contribuir com o debate sobre a desnutrição no Brasil, além de ser uma oportunidade para apresentação de propostas concretas para a erradição do problema, que tem origens amplas e complexas.

Entre as atividades desenvolvidas durante 2003, o grupo tem apoiado a criação do primeiro Centro Social de Agricultura e Alimentação, projeto do professor José Eduardo Dutra de Oliveira, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Dutra considera que há muita desinformação sobre boa alimentação e boa nutrição e que é necessário não só dar comida – via distribuição de cestas e outras iniciativas governamentais e sociais –, mas também educar as pessoas, inseri-las em todo o processo da cadeia alimentar.

O centro seria uma espécie de escola, onde se ensinaria a plantar, colher, conservar e preparar os alimentos, inclusive com a criação de animais de pequeno porte, o que serviria para as famílias não só obterem seu sustento como participarem do processo econômico dessa produção. O professor considera que os projetos assistencialistas não criam o comprometimento do cidadão em torno dessa questão e não contribuem para que, a curto e médio prazos, o problema da desnutrição seja resolvido.

Em 2004, o grupo de pretende participar ativamente de outros projetos que possam por em prática aquilo que as pesquisas científicas acumulam e que nem sempre chegam à sociedade como deveriam.

 


 

A guerra na Tchetchênia e o terror em Moscou

O ataque terrorista realizado por uma mulher-bomba no centro de Moscou na terça-feira, dia 9, que resultou em 6 mortos e 13 feridos, não deve estar relacionado diretamente com as recentes eleições russas, embora a estrondosa vitória do partido apoiado pelo presidente Putin possa ter sido interpretado pelos separatistas tchetchenos – que não assumiram o atentado até o momento do fechamento desta edição – como um sinal de que haverá uma linha mais dura em relação ao conflito que mantém com o poder central. Seria, assim, mais um evento vinculado a esse conflito, segundo Lenina Pomeranz, especialista nos países do leste europeu e da ex-URSS.

Lenina, que é colaboradora do IEA, onde possui um acervo sobre os ex-países socialistas, considera que o fim desta segunda guerra na Tchechênia, iniciada em 1999 (a primeira ocorreu no período 1994-96), ainda está distante, porque uma solução política negociada que poderia levar a isso não parece estar na agenda do presidente Putin, que se recusa a "negociar com bandidos".

Os entraves para a solução do conflito são as preocupações russas com dois aspectos, segundo a pesquisadora: se fosse concedida autonomia ou independência a Tchechênia, isso poderia motivar aspirações nacionalistas de outras etnias – há cerca de uma centena delas –, muitas muçulmanas, o que poderia provocar um efeito dominó similar ao que foi a desintegração da URSS; outro aspecto é fato de a Tchechênia, apesar de não produzir petróleo, ser rota de passagem de oleodutos russos provenientes de pólos produtores em torno do Mar Cáspio e em países próximos.

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Putin: alvo de críticas dos defensores dos direitos humanos

O ataque terrorista ao Hotel Nacional é idêntico, no método, aos que ocorrem internacionalmente. "Putin sempre declarou que a Tchetchênia era um problema interno e que a Rússia não aceita ingerências externas. Todavia, depois do ataque de 11 de setembro de 2001, ele alinhou-se ao movimento antiterrorista internacional, como uma forma de legitimar a sua ação na Tchetchênia, alvo de críticas por parte dos defensores dos direitos humanos contra a forma de condução da guerra pela Rússia. Isso, de certa forma internacionalizou o conflito tchetcheno, colocando não só dilemas para formulação da política externa russa, como ainda pode ter criado, eventualmente, vinculações do movimento separatista tchetcheno com o movimento terrorista internacional; é preciso, porém, cautela nessa interpretação", analisa Pomeranz.

Ela lembra que a retomada da guerra contra os separatistas tchetchenos foi um dos fatores determinantes para a eleição de Putin à presidência da Federação Russa em 2000, mas que, apesar do apoio popular inicial ao combate aos separatistas e a continuidade de apoio ao governo em termos gerais, há indícios de crescente reprovação da opinião pública à demora na resolução negociada do conflito.

Mais: análises de Lenina Pomeranz sobre o conflito tchetcheno e sobre a geopolítica russa podem ser lidos em três artigos da pesquisadora publicados no boletim "Panorama", do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional (Gacint) da USP, onde ela coordena a Área de Ex-Países Socialistas. Os artigos são "Os Múltiplos e Complexos Aspectos da Guerra na Tchechênia" (n° 4, dez/99 a abril/00), "A Questão Tchetchena: Dilemas da Política Externa Russa" (n° 16, dez/02 a abril/03) e "Rússia: A Difícil Afirmação no Cenário Internacional" (n° 18, jul-set/03). Os artigos podem ser consultados na página www.usp.br/ccint/gacint.

 

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"Filosofia, Ciências e História",
colóquio em homenagem a Michel PatyVisão geral

Filósofo e historiador da ciência, além de físico, Michel Paty, diretor de pesquisa emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), França, foi homenageado pelo IEA com o colóquio "Filosofia, Ciências e História", que comemorou os 40 anos de colaboração do pesquisador com instituições brasileiras. O encontro teve como expositores, entre outros, Pablo Mariconda, Newton da Costa, Amélia Hamburger, Alberto Cupani, Maurício Pietrocola, Olival Freire Jr, Décio Krause, Francisco Doria, Gerard Grimberg, José Leite Lopes, Maria Amélia Dantas, Maria Aparecida Corrêa, Roberto Salmeron e Shozo Motoyama. O evento foi uma realização da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Faculdade de Educação, Instituto de Física e IEA. (Foto: Visão geral do público)

PATY E O BRASIL

Doutorado em física e depois em filosofia, Paty é pesquisador renomado internacionalmente no campo da epistemologia. É autor, de "Einstein Philosophe" e "La Matière Derobée" (publicado no Brasil com o título "A Matéria Roubada"). Foi professor da Universidade de Brasília e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas de 1965 a 1966. Desde 1982 mantém colaboração com pesquisadores da USP e de outras universidades brasileiras no campo da história e da epistemologia das ciências. Dirigiu, pelo lado francês, dois acordos de cooperação acadêmica entre equipe francesa e a USP. Em setembro de 2003, foi agraciado com o título de diretor de pesquisa emérito do CNRS.

Veja mais fotos do evento

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Nota

Programa de rádio do IEA já pode ser ouvido pela internet

O público interessado em acompanhar as atividades do IEA agora pode ouvir o programa Contexto, produzido pelo Instituto e transmitido pela rádio USP FM (93,7), por meio da internet. A transmissão de toda programação da rádio via rede teve início no dia 1° de dezembro. O site da USP FM é www.usp.br/radiousp. O programa Contexto vai ao ar todos os domingos, às 10h30. Produzido e apresentado pela jornalista Sandra Codo, o programa apresenta entrevistas com professores visitantes, conferencistas convidados e outros pesquisadores, além de informações sobre as publicações e outras iniciativas do IEA.


Participe da consulta pública sobre os novos projetos do IEA:
envie sua mensagem para
ieaconsulta@usp.br


 

UNIVERSIDADE DE SO PAULO
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