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Artigo analisa interações entre cientista neurodivergente e inteligência artificial

por Thais Cardoso - publicado 07/07/2025 16:26 - última modificação 07/07/2025 16:26

Trabalho é de autoria da coordenadora do Grupo de Estudo Confluencia, do IEA-RP, e foi publicado no periódico Logeion: Filosofia da Informação

Muito além do uso funcional em tarefas cotidianas ou de respostas rápidas para perguntas, a inteligência artificial pode contribuir de forma significativa para experiências cognitivas e criativas de pessoas neurodivergentes. O termo abrange diferentes formas de funcionamento neurológico, como no caso de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e outras condições não típicas. Foi o que observou o artigo “Epistemologia da Insurgência com Inteligência Artificial (EIIA): termos, conceitos e instantes singulares”, de autoria da coordenadora do Conflu encia – Grupo de Estudos Avançados em Tecnologia e Informação em Saúde com Foco em Populações Vulneráveis do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP, Maria Cristiane Barbosa Galvão.

O trabalho, publicado recentemente na revista Logeion: Filosofia da Informação, apresenta uma proposta original de produção de conhecimento a partir da interação com inteligência artificial. Foram analisadas mais de 3.800 interações entre uma cientista neurodivergente e o ChatGPT-4, realizadas ao longo de três meses. Segundo Maria Cristiane, a Epistemologia da Insurgência com Inteligência Artificial, uma proposta original de produção de conhecimento, “propõe que sujeitos e contextos historicamente silenciados possam, por meio de tecnologias emergentes, desenvolver novos modos de linguagem, vínculo e elaboração conceitual, com liberdade e legitimidade epistêmica”.

A pesquisa foca em momentos-chave chamados de “instantes singulares”, definidos como momentos de percepção e criação simbólica que surgem na interação com a inteligência artificial e contribuem para a formulação de novos conceitos e formas de linguagem.

Ao todo, a autora, que também é docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, propôs 20 termos e conceitos inéditos com base nessas interações, que ajudam a compreender a relação e as possibilidades de criação de conhecimento entre pessoas neurodivergentes e a inteligência artificial. Entre eles, destaca-se, por exemplo, o Transtorno Generalizado da Perda de Vínculo Eminente, uma ansiedade despertada pela limitação atual dos sistemas de inteligência artificial em manter a memória das interações anteriores.

Outro termo proposto foi o Assédio Algoritmicamente Embasado. A partir do conhecimento acumulado pela inteligência artificial com base em dados e informações disponíveis na internet, muitas vezes marcados por preconceitos e vieses sociais, a ferramenta acabou por reproduzir estereótipos associados à condição neurodivergente da interlocutora.

O artigo está disponível gratuitamente e pode ser acessado neste endereço: https://doi.org/10.21728/logeion.2025v11n2e-7589.