Direito à cidade e governança urbana: entrevista com Ana Fani Alessandri Carlos
Em sua participação na série de entrevistas em vídeo 3por1, a geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos fala sobre a importância de o direito à cidade mobilizar a sociedade para que se pense numa cidade diferente daquela condicionada pelo poder econômico. Ela comenta também a forma de constituição das regiões metropolitanas e a democratização da gestão inframunicipal.
Ana Fani é professora sênior do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde coordena o Grupo de Estudos sobre São Paulo - Geografia Urbana Crítica Radical. No IEA ela coordena o Grupo de Estudos Teoria Urbana Crítica. Sua formação acadêmica da graduação à livre-docência ocorreu na USP. Realizou pesquisas de pós-doutorado nas Universidades Paris 1 Panthéon-Sorbonne e Paris Diderot. Tornou-se professora titular do Departamento de Geografia da FFLCH em 2005. Foi professora visitante em universidades da Espanha, Argentina, México e Colômbia e coordenou ou coordena convênios com instituições acadêmicas em vários países europeus.
Entrevista
3por1 – Professora Ana Fani Alessandri Carlos, o direito à cidade permanecerá uma utopia enquanto o poder econômico controlar o desenvolvimento urbano?
Assista ao vídeo da entrevista trevista com Ana Fani Alessandri Carlos |
AFAC – Quanto a isso, não resta a menor dúvida. O problema do crescimento e do desenvolvimento urbano é que o processo é feito a partir daquilo que interessa aos setores imobiliários e setores econômicos da nossa sociedade. O direito à cidade é um outro [diferente] da ideia de que a cidade é fonte de negócios. O direito à cidade está associado à ideia do fim da desigualdade socioespacial que nós estamos vivendo. Claro que a gente não pode acabar com essa desigualdade socioespacial de um dia para o outro, mas a gente precisa pensar na possibilidade de caminhar na direção de que o direito à cidade mobilize a sociedade para pensar uma outra cidade que não seja aquela dos negócios.
3por1 – As regiões metropolitanas brasileiras estão adequadamente estruturadas para a atuação coordenada de seus municípios?
AFAC – Veja, o debate sobre as regiões metropolitanas tem uma fase histórica que é a constituição do processo de urbanização que produz a grande cidade, que produz a metrópole, e o seu desenvolvimento e o crescimento da mancha urbana extrapolam o município central. E temos regiões metropolitanas que são leis, são formadas através de leis. Então nós temos dois movimentos contrários. Um que é o movimento natural do processo de urbanização, natural no sentido de que ele é socioespacial espontâneo, e aquele que é formulado através de lei. Essa formulação através de lei, ela agrupa municípios em função de gestão e não como um movimento de processo de urbanização.
3por1 – Para tornar mais democrática a governança de cidades com subprefeituras, caso de São Paulo, os subprefeitos e pelo menos parte de seus conselheiros não deveriam ser eleitos pelos moradores?
AFAC – Veja, não resta a menor dúvida de quanto mais a sociedade puder escolher os seus governantes, mais próximo ela estará de uma vivência, de um cotidiano democrático. O problema é como se fazer esse tipo de votação e como é que se podem criar laços entre os candidatos e os eleitores, através de um amplo debate sobre o que é o bairro, sobre o que é a vida do bairro e como é possível a subprefeitura, através de um diálogo mais próximo com os cidadãos, com os habitantes da cidade, conseguir pensar primeiro no espaço mais restrito da vida para no segundo momento pensar, a partir do bairro, o que pensar ou como agir ou como interpretar e viver na cidade de forma mais ampla.
Entrevista gravada em 12 de maio de 2025 na sede do IEA.