Grupo revela deterioração do Museu das Missões, parte de patrimônio da Unesco
- As produções artísticas jesuíticas-guaranis do Museu foram prejudicadas pelas condições climáticas e falta de preservação. Fotos: Luca Ruggieri
A falta de preservação do Museu das Missões, no Rio Grande do Sul, e a deterioração de seu patrimônio serão tratadas no dia 5 de maio, às 14h, em evento promovido pelo Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento do IEA. O encontro “Patrimônio: Desafios, Riscos e Ações de Preservação - O Caso do Museu de São Miguel das Missões” faz parte do esforço do grupo em revelar à sociedade o estado de abandono do local e a importância de sua conservação. Soma-se a isso a publicação da nota técnica “Patrimônio Monumental dos Sete Povos (RS): Urgência de Ações para sua Preservação e Valorização”, editada pelo IEA e que será lançada na ocasião. A atividade acontecerá na Sala Alfredo Bosi, com transmissão ao vivo pelo YouTube do IEA. Inscreva-se aqui para participar.
Estarão no debate especialistas na história do museu, e gestores institucionais diretamente envolvidos nas ações de manutenção e restauro do local, como membros do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O pesquisador italiano Luca Ruggieri, da Universidade Roma Tre, relatará a visita que fez a São Miguel das Missões em setembro do ano passado e que incitou o grupo a promover este evento. Veja a programação completa.
O Museu pertence ao conjunto dos Trinta Povos das Missões, que atualmente são sítios arqueológicos. Esses abrigam as ruínas das chamadas Reduções, núcleos urbanos habitados pelas populações guaranis e por pequenos grupos de missionários da Companhia de Jesus, entre o início do século XVII até 1756. O local guarda importante parte do patrimônio artístico produzido por escultores guaranis e jesuítas.
Fechado desde 2016 devido a uma forte ventania e tempestade na região, o museu integra o sítio arqueológico de São Miguel das Missões, declarado patrimônio mundial, natural e cultural pela Unesco em 1987, mas tem a integridade de seu acervo sob risco, segundo Ruggieri. No website do local, a justificativa para a suspensão das visitas não é atualizada há pelo menos dois anos: “Em virtude da pandemia de ordem mundial por Covid-19, o Museu das Missões encontra-se fechado para a visitação do público”. Para o pesquisador italiano, a pandemia serviu apenas como um pretexto para prolongar a privação.
Ele relata que o calor no interior da construção é o maior problema. As janelas modernistas de vidro escolhidas pelo arquiteto Lúcio Costa ao projetar o museu em 1938 aumentam a fragilidade do ambiente, afetam os visitantes e prejudicam as esculturas, que sofrem com “rachaduras e perda da inestimável policromia espanhola”.
“A ausência de turistas também contribui para a negligência com pequenos detalhes, agravando o deterioramento das peças. Frequentemente, encontram-se grandes teias de aranha com animais mortos, permanecendo ali por longos períodos”, diz.
Nota técnica
Editada pelo IEA e escrita por Marina Massimi, coordenadora do grupo de pesquisa e professora sênior do Instituto, a nota técnica resgata a história dos Sete Povos e a importância deste patrimônio, finalizando com propostas concretas para a sua preservação.
“O esquecimento da região faz parte do grande abandono [dos patrimônios culturais e históricos] no Brasil inteiro, devido a um descuido e falta de investimentos pelos governos e poderes locais”, avalia Marina. Ela explica que o Museu das Missões, em São Miguel das Missões, faz parte da região guaranítica (que englobava parte do Rio Grande do Sul, do Paraguai e da Argentina) e do patrimônio dos Sete Povos.
Marina pontua que a falta de ação consistente e de investimentos para preservar o espaço acarretam na perda do turismo e do patrimônio que, segundo ela, também é ameaçado pelo avanço do agronegócio. “Nosso trabalho com o grupo no IEA é proporcionar o conhecimento do patrimônio pela população e pela universidade. Visitamos os demais sítios arqueológicos dos 30 Povos das Missões nos outros países [Paraguai e Argentina] e vimos que a situação brasileira dos Sete Povos está bem pior”, acrescenta.
Entre as propostas de ações apresentadas pela pesquisadora estão: 1. constituição de um grupo de arqueólogos e especialistas em restauro e conservação do patrimônio; 2. lançamento de editais para incentivar projetos de pesquisa pelas universidades na região; 3. busca de patrocínio e apoio de empresas para restauro da arquitetura e dos objetos; 4. iniciativas para engajar a população local; 5. resgate e valorização do trabalho artesanal das comunidades indígenas da região.
Além da nota, o Grupo de Pesquisa Tempo, Memória e Pertencimento já produziu dois cursos sobre o tema, disponíveis de forma gratuita no Coursera, escreveu um livro que está em processo de aprovação e uma série de encontros no IEA sobre as missões jesuíticas. “Estamos planejando um grande evento científico em 2026 na USP, quando se completam 400 anos da fundação de São Nicolau, no RS.”
Com edição de Fernanda Rezende
Patrimônio: Desafios, Riscos e Ações de Preservação - O Caso do Museu de São Miguel das Missões
5 de maio, das 14h às 17h
Local: Sala Alfredo Bosi, Rua da Praça do Relógio, 109, térreo, Cidade Universitária, São Paulo
Transmissão ao vivo no canal do YouTube do IEA
Evento gratuito e aberto ao público, com inscrição prévia