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Cátedra Olavo Setubal escolhe 3 novos titulares e adota proposta baseada em transversalidades

por Mauro Bellesa - publicado 28/04/2025 12:05 - última modificação 12/05/2025 13:29

Alemberg Quindins, Nísia Trindade e Fernando José de Almeida são os novos titulares da cátedra, que passa a se chamar Cátedra Olavo Setubal – Transversalidades: Arte, Cultura, Ciência e Educação

Novo logo da Cátedra Olavo SetubalApós 10 anos de atividades, a Cátedra Olavo Setubal está com uma nova proposta de trabalho e um nome que a reflita. A partir de agora, ela se baseia numa articulação do campo cultural com a arte, a ciência e a educação, em chave amplificadora, com o intuito de promover transformações baseadas na interdependência e compromisso mútuo desses saberes. Seu nome passa a ser Cátedra Olavo Setubal – Transversalidades: Arte, Cultura, Ciência e Educação.

Outra alteração foi a da parceria institucional. O Itaú Cultural, que financiou as atividades no primeiro decênio, agora foi substituído pela Fundação Itaú (engloba o Itaú Cultural, o Itaú Educação e Trabalho e o Itaú Social) no convênio com a USP que viabiliza a cátedra no IEA.

Alemberg Quindins - Cátedra Olavo Setubal
Alemberg Quindins, empreendedor social

Novos titulares

Em conformidade com as diretrizes da nova proposta acadêmica, os responsáveis pela cátedra escolheram três titulares com linhas de trabalho pessoais diferenciadas, mas cujos projetos serão baseados nas transversalidades de conhecimentos.

O trabalho conjunto do artista e empreendedor social Alemberg Quindins, da socióloga Nísia Trindade Lima e do educador e filósofo Fernando José de Almeida deverá revelar “ambiguidades bem-intencionadas, baseadas em conexões, convergências e talvez algumas distensões”, de acordo com Martin Grossmann, coordenador acadêmico da cátedra.

Músico de formação popular, empreendedor social, escritor e artista, Quindins é o idealizador e fundador da Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri, em Nova Olinda, Ceará.

Nísia Trindade Lima, socióloga, pesquisadora e professora universitária, foi a primeira mulher ministra da Saúde, de janeiro de 2023 a março de 2025, além de primeira mulher a presidir, de 2017 a 2022, a Fundação Oswaldo Cruz em seus 120 de história.

Nísia Trindade - Cátedra Olavo Setubal
Nísia Trindade Lima, socióloga

Filósofo, educador e professor titular da PUC-SP, onde também foi vice-reitor, Fernando José de Almeida é mestre e doutor em filosofia da educação e foi secretário da Educação da cidade de São Paulo no período 2001-2002.

A formação da nova trinca de titulares se apoia, principalmente, nos conceitos de territorialidade, formação e diversidade, levando em conta o problema histórico e sistêmico que afeta a maioria da população brasileira: a desigualdade social.

Em suas distintas trajetórias e atuações, Quindins, Lima e Almeida participaram ativamente em processos de transformação social e mitigação das desigualdades, levando em conta seus contextos de formação e atuação. Grossmann comenta que os três são formadores natos, educadores com perfis muito diversos, atentos à contextualidade e territorialidade dos processos nos quais têm e tiveram participação central, integral, afetiva e efetiva. “São líderes sensíveis, dialógicos, afeitos ao trabalho coletivo, integrado, em rede.”

Os três possuem laços significativos com países africanos e latino-americanos, e atuam não só em suas localidades, como também participam da formulação de políticas culturais, educativas e de saúde de âmbito municipal, estadual e nacional, ou seja, “conhecem o seu lugar, a sua cidade, o seu território e o Brasil e estão aterrados em e antenados com este planeta”, segundo o coordenador acadêmico. Para ele, esse encontro inusitado no IEA tem um potencial para contribuir qualitativamente em projetos interculturais no país, que incentivem processos interdisciplinares participativos, descentralizados e transversais.

Fernando José de Almeida - Cátedra Olavo Setubal
Fernando José de Almeida, educador
Transversalidades

“Ao referenciar a versão 3.0 da Cátedra Olavo Setubal em ‘transversalidades’, estamos ampliando o escopo de atuação dessa plataforma de ação acadêmica e cultural do IEA que intenta, entre outros objetivos, incentivar a modelagem de conhecimento transdisciplinar, crítico, prospectivo e colaborativo”, afirma Grossmann.

Ele lembra que nos 10 primeiros anos, a cátedra fundamentou-se nas relações entre arte, cultura e ciência, tendo como base a complexidade e poética da cultura contemporânea. Em reação crítica e orgânica às transformações em curso na sociedade nessa última década, como também na geopolítica e nas condições climáticas planetárias, agora a coordenação entende que se impõe a necessidade de ampliação do campo de reflexão e ação da cátedra. “Reagimos também às transformações em andamento seja na esfera institucional do IEA e da própria USP, como também de nosso parceiro, a Fundação Itaú.”

Considerando a natureza laboratorial e, portanto, experimental da cátedra, a decisão foi investir ainda mais na interdisciplinaridade e no encontro de diversos saberes e conhecimentos, bem como de práticas, “almejando sempre a transdisciplinaridade e, porque não, a invenção”, explica.

A proposta também inclui o campo social, o meio ambiente e as novas tecnologias no rol das abordagens transversais previstas para a modelagem de “paisagens instigantes que favoreçam abordagens setoriais”. O intuito é possibilitar colaborações e proposições voltadas a ações e políticas públicas culturais, artísticas, educacionais e científicas.

O objetivo central é contribuir qualitativamente no desenho de um projeto intercultural, participativo, descentralizado e transversal para o Brasil, capaz de representar sua diversidade e pluriculturalidade.

Para esse fim, a cátedra pretende incidir sobre políticas públicas e privadas para cultura, arte, ciência e educação, além de promover encontros intergeracionais, transdisciplinares e interculturais e atuar na formação de jovens pesquisadores. Essa atuação será complementada pelos programas a serem propostos pelos titulares da cátedra.

Contexto

De acordo com Grossmann, “desde o final do século 20, a cultura vem operando mais como um campo em tensionamento, ampliativo, multidimensional, topológico e poético, em contraste com a arte, que vem se conformando a uma atuação restrita, delimitada, sistêmica, monocultural e mercadológica”.

Para ele, a interculturalidade não vem sendo suficientemente explorada no campo da arte e da ciência, pois os sistemas (“operacionais”) em uso, não estão sendo revistos criticamente, atuando dentro dos conformes pré-estabelecidos pelas instituições, pelo mercado, pela formação de novos quadros (escolas, academias e universidades).

No caso da arte no Brasil, no entanto, tem havido uma apropriação de elementos orgânicos próprios de sua pluriculturalidade, “em sua estrutura monocultural institucionalizada, consolidada pelo modernismo tropicalizado, modernismo que não só abrange as artes e a arquitetura, mas que também modelou a educação e a ciência moderna no Brasil”, segundo Grossmann.

Ele considera que a cultura dominante não permitiu que essa pluralidade operasse de forma emancipada e acabou condicionando, segregando e minimizando expressões e saberes ao longo do século 20, principalmente dos povos originários e dos afrodescendentes.

“A complexificação do âmbito de nossa existência em múltiplas dimensões, ubiquamente, seja pelos avanços tecnológicos, seja pela ampliação dos sentidos, da consciência e de condições multi e pluriculturais, vem gerando a necessidade de inclusão/ampliação do acesso a um contingente da população alijado pela narrativa monocultural até então dominante.”

Diante desse diagnóstico, Grossmann pergunta: “Seria possível delinear um novo programa sócio-ambiental-científico-cultural-educativo que represente o Brasil no século 21?”. Responder a isso é justamente o objeto da nova fase da Cátedra Olavo Setubal.

Fotos (a partir do alto): Itaú Cultural, Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados e Secretaria Municipal da Educação de São Paulo