Estudo mapeia extremos de calor na Região Metropolitana de São Paulo
- Mapa dos riscos de extremos de calor na Região Metropolitana de São Paulo presente no estudo de Hugo Rogério de Barros
A abrangência territorial dos problemas de extremos de calor na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) revelam a necessidade de expandir políticas e planos climáticos sofisticados para os outros 38 municípios que compõem a região, de acordo com o geógrafo Hugo Rogério de Barros, pesquisador do Centro de Síntese USP Cidades Globais (CS-USP-CG) do IEA.
Ele tratou da questão no estudo de caso “Heat Extremes in Metropolitan Area of São Paulo: A Challenge” (Extremos de Calor na Região Metropolitana de São Paulo: Um Desafio), publicado no dia 7 de maio no repositório das Bibliotecas da Universidade Columbia e no repositório do Programa Cidades e Clima, vinculado à Iniciativa Soluções Ambientais do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts).
O programa do MIT é associado à Rede de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Urbanas (UCCRN, na sigla em inglês), um consórcio global de mais de mil especialistas dedicados à análise da mitigação e adaptação às mudanças climáticas sob uma perspectiva urbana. Sediada no Instituto da Terra da Universidade Columbia e com centros em cidades ao redor do mundo, a UCCRN produz o Relatório de Avaliação sobre Mudanças Climáticas e Cidades (ARC3), que fornece a base científica para as cidades em suas ações de adaptação e mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
A partir dos resultados de seus trabalhos no IEA, Barros iniciou, em 2023, um processo de cooperação internacional entre o CS-USP-CG e a Universidade Columbia, via UCCRN. Agora a cooperação foi consolidada com a publicação de seu estudo baseado em dados meteorológicos estimados por sensoriamento remoto e editados em um sistema de informação geográfica (SIG).
Desafio da adaptação
Ele explica que o tema dos extremos de calor e sua associação com ondas de calor e ilhas de calor ganhou recentemente um espaço político e social especial nas agendas públicas, políticas e planos ambientais da RMSP, mas permanece o desafio de trabalhar a adaptação aos extremos de calor dentro da perspectiva das soluções baseadas na natureza (SBN) nas áreas urbanas da região.
De acordo com autores mencionados por Barros, é considerado um extremo de calor na RMSP quando a temperatura ultrapassa 32ºC, com a faixa de conforto térmico situada de 14 a 26ºC. Temperaturas acima dessa faixa ocasionam risco de morte por doenças associadas com estresse térmico in São Paulo.
Em trabalhos anteriores, Barros definiu os cenários para a expansão territorial da ilha de calor da RMSP para três diferentes condições meteorológicas associadas à intensidade do bloqueio atmosférico causado pela Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS). Também conhecida como Anticiclone do Atlântico Sul ou Anticiclone de Santa Helena, a ASAS é um sistema de alta pressão semipermanente caracterizado pelo movimento para baixo de massas de ar, impedindo a formação de nuvens e chuva.
"Quanto mais próximo o centro da ASAS estiver da superfície continental, maior será o bloqueio atmosférico e, consequentemente, isso determinará a expressão territorial da ilha de calor na cidade de São Paulo", afirma Barros no estudo atual. O geografo demonstrou que a dinâmica atmosférica pode aumentar a intensidade da ilha de calor em 5ºC na superfície e expandir em 697% sua área do centro da RMSP em direção à periferia.
Barros destaca que ainda é recente a atenção política e acadêmica aos impactos dos extremos de calor na vida dos moradores da RMSP, mas já são abordados no Plano de Ação Climática do Município de São Paulo 20220-2050 (PlanClima SP), com foco na avaliação dos riscos potenciais e nas vulnerabilidades do passado, presente e futuro. O plano de ação também apresenta considerações sobre o futuro da cidade quanto ao desenvolvimento de estratégias de adaptação, acrescenta o pesquisador.
No entanto, o estudo de Barros ressalta em sua conclusão que, na escala regional/metropolitana, está claro que os 38 municípios adicionais da RMSP também requerem a mesma atenção política e acadêmica para que sejam realizados estudos sobre extremos de calor e estratégias de adaptação.