Prefeito de São Paulo recebe relatório de Cátedra da USP para melhorar desempenho e reduzir desigualdades entre estudantes
[Texto de Marília Rocha - Assessoria de Comunicação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira]
O relatório com os principais achados da primeira etapa da parceria entre a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira e a Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Paulo foi oficialmente entregue à rede e ao prefeito da capital, Ricardo Nunes, durante reunião nesta quarta-feira (21). No encontro, o titular da Cátedra, Mozart Neves Ramos, compartilhou análises do trabalho, que integra um conjunto de ações da Secretaria para ampliar o uso de dados educacionais em busca de garantir a aprendizagem dos estudantes. Participaram técnicos da secretaria e representantes da Fapesp e da B3 Social, que apoiam o projeto da Cátedra.
“Acreditamos que, de posse desse material, a Secretaria de Educação de São Paulo estará embasada em dados e evidências que permitirão tomar decisões mais assertivas para a melhoria da aprendizagem escolar e redução da desigualdade, tanto no conjunto da rede como para cada uma de suas treze Diretorias Regionais de Ensino (DREs)”, afirmou Mozart ao entregar o relatório que mostra, entre outras coisas, um desafio maior no desempenho em Matemática – tanto nos Anos Iniciais quanto Finais, mas nestes a situação é mais alarmante –, um cenário de desigualdade entre escolas em todas as DREs, bem como uma correlação entre nível socioeconômico (NSE) e desempenho, mas com cenários específicos que chamam mais a atenção: casos de bons resultados mesmo em NSEs mais baixos e vice-versa.
Ao observar os mapas de georreferenciamento escolar produzidos pela Cátedra, que permitem visualizar os dados em conexão com as regiões da cidade, o prefeito Nunes esclareceu dúvidas e destacou a relevância de construir uma política baseada em evidências. “Pelo investimento que fazemos, nossa educação deveria ter resultados muito melhores. Precisamos ampliar essa cultura para entender os dados das avaliações, entender a importância das metas e saber o que está por trás delas: oferecer oportunidade para todos os alunos”, afirmou durante a reunião.
A equipe da secretaria compartilhou que as análises e o aplicativo desenvolvidos pela Cátedra já estão incorporados nos trabalhos da Unidade de Planejamento e Gestão Estratégica.
“Esse trabalho que a Secretaria está realizando é muito relevante, e vemos um diferencial no uso dos dados para estabelecimento de prioridades. Quem não tem meta, não tem bússola, daí a importância de contar com bons diagnósticos com base na realidade da rede”, destacou Mozart. Segundo ele, a parceria ainda terá novos desdobramentos em uma segunda etapa, rodando análises com uso de dados mais atualizados e desenhando atividades de formação, tanto para a equipe técnica quanto para as lideranças escolares.
Recomendações e próximos passos
O relatório executivo compartilhado com o secretário de Educação, Fernando Padula, sintetiza ainda algumas recomendações para a rede. Entre as sugestões, estão a realização de avaliações em Língua Portuguesa e Matemática para identificar os principais déficits de aprendizagem dos estudantes no 5º e 9º anos, embasando uma formação em serviço para os professores focada nessa matriz dos desafios identificados e que apoie a mudança da prática docente; efetivar uma política de colaboração entre pares de escolas próximas com desempenhos distintos mediante um edital; implantar uma política que promova e valorize a formação de lideranças escolares, do núcleo gestor das escolas; efetivar medidas diferenciadas que enderecem as realidades distintas da rede (modelos únicos para todas as escolas não funcionam em uma realidade tão desigual); e, por fim, instituir uma política permanente de uso de dados e evidências na tomada de decisão no campo da educação.
Segundo Mozart, esta atuação focada na redução de desigualdades é estratégica para atender a meta 13 do Plano Municipal de Educação de São Paulo (que visa garantir a implementação de Planos Regionais de Educação, elaborados em parceria com a comunidade escolar para atender às necessidades específicas de cada região), bem como atender ao condicionante do novo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) no que se refere à melhoria do aprendizado adequado e à redução das desigualdades.
“Essa parceria chegou para ampliar e somar esforços para desenvolvimento de políticas públicas educacionais, considerando a realidade e particularidade de cada região. Reflete o comprometimento da SME e da Cátedra com a melhoria da equidade e garantia do direito de aprendizagem dos nossos estudantes”, destacou Padula.
Histórico da parceria
A parceria entre a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira e a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo teve início em 2024, e foi um desdobramento de um projeto que a Cátedra já vinha realizando com cinco municípios paulistas (Ribeirão Preto, Jundiaí, Batatais, Cordeirópolis e Francisco Morato), com apoio da B3 Social e do edital Proeduca, da Fapesp e Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.
No projeto, a equipe da Cátedra utiliza técnicas estatísticas e, a partir de informações do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e de dados complementares fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação, gera um diagnóstico completo do município e de cada Diretoria Regional de Ensino (DRE), apresentando os resultados em formatos variados, visuais e de fácil compreensão.
Em geral, informações educacionais estão dispersas em diferentes tabelas, formatos e padrões, muitas vezes considerados de difícil acesso e compreensão, mesmo para membros de secretarias com as quais a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira já realiza formações. Ao apresentar os dados de forma intuitiva, a abordagem possibilita visualizar as disparidades, bem como destacar escolas que podem servir como referência.
Neste ano, Mozart e o secretário de Educação, Fernando Padula, já haviam debatido sobre a importância das políticas educacionais com base em evidências durante o webinar Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação. O encontro foi realizado em parceria entre o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a Fapesp, e destacou o trabalho conjunto para identificar fatores que podem favorecer o desempenho escolar em condições diversas, visando estabelecer medidas para a melhoria dos resultados de todos os estudantes.
Na ocasião, Padula comentou que, a partir da análise das evidências, é possível buscar um equilíbrio entre medidas universais e outras, personalizadas. “Algumas medidas você tem que garantir de forma universal, como ter professores bem formados, plano de carreira, materiais de qualidade. Mas também precisamos ter um olhar customizado, conhecer nosso mapa de vulnerabilidade e adotar o que se precisa fazer para virar o jogo nas unidades com maiores dificuldades. Para isso, é preciso primeiro ter as evidências, fazer cruzamentos e pensar um replanejamento local utilizando outras estratégias para reverter o déficit de aprendizagem”, defendeu Padula. “Se você não tiver informação, vai ficar na tentativa e erro, e vai tropeçar. Por isso, esse trabalho da Cátedra é tão importante para a nossa rede municipal.”