Região Metropolitana de Ribeirão Preto recebe apoio de Cátedra da USP para recomposição de aprendizagens
[Texto de Marília Rocha - Assessoria de Comunicação da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira]
As secretarias de Educação da Região Metropolitana de Ribeirão Preto foram convidadas para o primeiro evento regional da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto da USP, para discutir formas de melhorar a aprendizagem dos estudantes, garantir fluência leitora e habilidades matemáticas. Representantes de 21 municípios compareceram ao encontro, no dia 26 de maio, e acompanharam apresentações de especialistas do setor, além de conhecer o trabalho da Cátedra.
“Ficamos muito felizes de ver tantas redes aqui, é o resultado de um esforço coletivo que viemos fazendo há mais de cinco anos. Na região temos muitos gestores novos, com quatro anos pela frente para conseguir transformar os resultados em educação. Se fizermos um pacto coletivo e fortalecermos o espírito de colaboração, podemos avançar em dimensões importantes”, afirmou Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra. “Mesmo com diversidades e situações específicas de cada município, não é possível deixarmos de fazer trocas para resolver problemas comuns. Nossa ideia é não parar por aqui, seguir trabalhando em parceria e buscando sinergias.”
Ao considerar que o ano de 2025 traz um duplo desafio para as redes – muitas delas ainda em início de novas gestões, mas ao mesmo tempo já tendo que se preparar para o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) aplicado no final do ano –, a Cátedra escolheu a recomposição de aprendizagens como tema principal do encontro. A presidente do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna de Inovação em Avaliação Educacional, Maria Helena Guimarães de Castro, falou sobre a importância de garantir fluência leitora para todos os estudantes como um dos elementos que impactam no desempenho futuro.
A partir de dados do 5º ano do Ensino Fundamental nas últimas avaliações do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), Maria Helena mostrou como têm sido os resultados das redes, além da importância de se conhecer a matriz de avaliação e os descritores avaliados. “Espero que o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira] apresente exemplos sobre o que vai mudar na prova do 5º ano para as redes poderem compreender e se preparar para o que será avaliado”, afirmou, defendendo que sejam analisadas também as competências dos estudantes segundo a matriz da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
País precisa garantir aprendizagem em Matemática
Em seguida, a diretora-executiva do Instituto Reúna e também presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, Kátia Smole, abordou a urgência de implementar uma política de melhoria da qualidade da aprendizagem em Matemática. Em todos os ciclos avaliados, este campo do conhecimento tem alcançado indicadores extremamente abaixo do desejado, na maior parte das redes de ensino.
“O ser humano tem capacidade lógica como uma característica inerente, todos são capazes de aprender Matemática, então por que nossos estudantes não conseguem resolver problemas bem simples? O que está deixando de ser feito para termos esse desastre?”, questionou Kátia. Segundo ela, a prova do Saeb avalia todo o ciclo, portanto no 5º ano caem conhecimentos que deveriam ter sido aprendidos desde o 1º, e no 9º entram habilidades desde o 6º. Portanto, são anos particularmente relevantes para se fazer a recomposição de aprendizagens que não foram adquiridas nos anos anteriores.
“Quem está no 9º ano agora, estava no 4º ano durante a pandemia, quando sabemos que a aprendizagem por telas não funcionou, especialmente na matemática. Ou o País faz um trabalho sério de recomposição de aprendizagens agora, ou vai ficar cada vez mais difícil para essas crianças terem seu direito de uma educação de qualidade garantido”, defendeu. Segundo ela, habilidades do pensamento matemático no Anos Iniciais são fundamentais para resolução de problemas complexos nos ciclos seguintes, e se tornam estruturantes para a aprendizagem ao longo da vida. “Nós parecemos agir como se a pandemia não tivesse mais efeito, mas ela tem. Seguimos num buraco sem tamanho e estamos ainda titubeando.”
Ao refletir sobre o fato de que a maioria das redes passa os três primeiros anos do Ensino Fundamental com foco quase exclusivo na alfabetização, Kátia destacou que a falta de consistência e atenção ao ensino da matemática tem consequências graves. “Não podemos esperar o aluno estar no 4º ano para começar a dominar o pensamento numérico, isso gera déficits que vão se acumulando. Precisamos de uma alfabetização matemática também: as redes municipais precisam fazer um grande esforço para que professores dos Anos Iniciais ensinem matemática com a mesma ênfase que ensinam a leitura e escrita”, defendeu ela, apontando sugestões concretas sobre como construir currículos priorizados, trabalho com agrupamentos de estudantes por habilidades, reforço de formações para professores com foco nas lacunas que os estudantes demonstram e uso de avaliações diagnósticas mais eficazes.
No encerramento do encontro, os analistas de dados da Cátedra Larissa Maciel e Leomar da Silva introduziram um estudo que foi feito com os dados dos 34 municípios da Região Metropolitana de Ribeirão. A partir da metodologia de Análise de Componentes Principais, utilizada pela Cátedra em diversos estudos, foram identificados alguns padrões no desempenho de 159 escolas dos Anos Iniciais e 68 dos Anos Finais do Ensino Fundamental.
“Nós sempre fizemos esse tipo de estudo por município, agora, conseguimos construir uma análise regional. Isso é só uma amostra pois queremos muito ajudar os municípios a fortalecer uma cultura de uso de dados e evidências para tomar as melhores decisões em educação”, analisou Mozart.
Uma das participantes, a secretária de Educação de Olímpia, Jéssica dos Santos, valorizou a iniciativa. “O que a gente observa é que mesmo as redes municipais que já possuem esse embasamento em dados, esse é um processo que sempre pode ser qualificado. Então juntando a sabedoria de dentro do território, com aquele conhecimento que é sistematicamente construído em outros locais, com certeza a gente tem um processo formativo melhor e melhores capacidades para a tomada de decisão enquanto gestores públicos”, afirmou.
“Quando a gente escuta especialistas, pessoas que estão há muito tempo nesse ramo estudando, nos mostrando onde estão os maiores desafios, é como se nos ajudasse a redirecionar rotas olhando o que é mais essencial. As nossas crianças não podem mais perder tempo e a gente precisa ser bastante assertivo nas tomadas de decisões. Essa aproximação da Cátedra com municípios, para nos fundamentar, para auxiliar nas formações, é fundamental”, reforçou Jéssica.