Grupo de Estudos de Modelos de Apoio à Ciência - Gema Filantropia

Instalado em agosto de 2023, o Grupo de Estudos de Modelos de Apoio à Ciência (Gema Filantropia, na forma abreviada) investiga de maneira interdisciplinar os pontos de conexão entre ciência e filantropia no Brasil, desenvolvendo projetos interligados sobre o tema.
O objetivo é contribuir com a transformação na maneira como a ciência é financiada no país, promovendo a colaboração entre os setores científico-acadêmico e filantrópico, além de incentivar uma maior participação da sociedade no apoio à ciência.
Segundo seu coordenador, professor Guilherme Ary Plonski, ex-diretor do IEA e professor sênior do IEA e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, o grupo conta com uma parceria com a Science Philanthropy Alliance, entidade de referência internacional, para aproveitar a experiência global no aporte da filantropia visionária ao avanço da ciência.
O projeto do Gema Filantropia nasceu por iniciativa do professor Marcos Kisil, da Faculdade de Saúde Pública da USP, com ampla experiência em gestão de instituições nacionais e internacionais no campo da filantropia e do investimento social privado. De acordo com ele, a ideia-força do Gema Filantropia é que "há uma crescente consciência global sobre a importância da filantropia na ciência e de que ela é capaz de apoiar a pesquisa em áreas negligenciadas por outras fontes de financiamento".
Além de Plonski e Kissil, integram o grupo a pesquisadora de pós-doutorado Andréa Martini Pineda, responsável pela condução dos estudos na área, e Gerson Damiani, que atua com as parcerias e relações institucionais do Gema Filantropia.
Atualmente, o Gema Filantropia conta com o apoio financeiro da Fundação José Luiz Setúbal, que torna possível a realização de sua fase inicial de atividades.
Filantropia na práticaCoerente com sua finalidade, o Gema Filantropia terá dois terços dos custos de suas atividades (pesquisa, produção de publicações, organização de eventos presenciais e online etc.) financiados, via doação à Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp), pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES), uma organização que atua em iniciativas sociais dedicadas à melhoria da qualidade de vida na infância. A entidade também se dedica a produzir e divulgar conhecimento científico sobre saúde infantil e à assistência médica infanto-juvenil. Além de executar projetos e iniciativas próprios, a fundação é a mantenedora do Hospital Infantil Sabará, do Instituto Pensi e da organização Autismo e Realidade. Ao comentar a importância da criação do projeto no IEA, o médico e filantropo José Luiz Egydio Setúbal, presidente da FJLES, destacou que "a pandemia nos mostrou o quanto a ciência brasileira é dependente de recursos públicos que podem estar à mercê de governantes descrentes da ciência para o desenvolvimento sustentável". Setúbal frisou que "a cultura filantrópica ainda não chegou a investir em ciência". Daí a importância do Gema Filantropia, que "tem entre suas prioridades investigar caminhos que poderiam aproximar cientistas a filantropos, universidades e centros de pesquisa aos que podem apoiá-los financeiramente". A implantação de uma verdadeira cultura filantrópica para a área pode "viabilizar fundos patrimoniais, infraestrutura, treinamento, patrocínio a projetos de pesquisa básicas - transnacionais ou de inovação - e obtenção de novos produtos para o bem-estar da humanidade", afirmou. |
Visão
Como um programa pioneiro do IEA/USP, sua implantação requer o uso de diferentes atividades estratégicas para um público heterogêneo, composto de cientistas, filantropos, gestores acadêmicos, membros da sociedade civil - como associações, academias, sociedades profissionais - membros da mídia e comunicação, políticos do executivo e legislativo, membros do aparelho de governo federal, estadual e municipal.
A proposta de criação do grupo destaca que a filantropia pode desempenhar um papel crucial na promoção e sustentação da ciência, especialmente em países como o Brasil, que enfrentam severas restrições de financiamento em pesquisa e desenvolvimento. Entre os benefícios apontados pelos pesquisadores estão:
. acelerar o desenvolvimento de inovações;
. viabilizar projetos de alto risco e alto impacto, que dificilmente recebem apoio por meios tradicionais;
. fortalecer a colaboração entre pesquisadores, universidades, setor privado e governo.
Natureza e dinâmica
No entanto, as interações entre a filantropia e a ciência no Brasil ainda são pouco estudadas e compreendidas. Para que esse quadro mude, primeiro é preciso compreender a natureza e a dinâmica da filantropia no contexto brasileiro para, depois, avaliar a possibilidade de ela desempenhar plenamente seu papel no apoio ao desenvolvimento da ciência.
O Gema Filantropia defende a realização de uma análise aprofundada das motivações dos filantropos, das estruturas e processos de doação e do impacto da filantropia na ciência. Também é preciso discutir os desafios que ela encontra para promover a ciência no brasil e as oportunidades que propicia.
O grupo pretende abordar essas questões a partir de várias perspectivas científicas e sem se restringir à filosofia praticada por ultrarricos, analisando também aquela de iniciativa da classe média e da parcela de baixa renda no Brasil.
Nossos objetivos
O Gema Filantropia busca consolidar um espaço de reflexão e produção de conhecimento sobre o papel da filantropia no desenvolvimento científico, com horizonte inicial de três anos de atuação. Entre seus objetivos estão:
. Filantropia como ciência (Philanthropy as a Science): construir um corpo de conhecimentos sobre a filantropia a partir de diferentes áreas, como economia, sociologia, psicologia, antropologia e religião, discutindo como o tema vem sendo estudado no Brasil.
. Prática da filantropia (Philanthropy as a Practice): sistematizar modelos de motivação, captação, doação, gestão por programas e projetos, bem como metodologias de monitoramento e avaliação de resultados e impactos.
. Filantropia para a ciência (Science Philanthropy): analisar a evolução, o impacto e os casos em que a filantropia impulsionou o desenvolvimento científico, com destaque para o papel das Fundações de Apoio às Universidades e Centros de Pesquisa.
. Modelos de filantropia no Brasil: elaborar uma taxonomia nacional sobre interesses e práticas de doadores, cientistas e gestores, incluindo a criação de um Data Center que reúna informações dispersas em bancos de dados nacionais e internacionais.
Foto: pt.vecteezy.com