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Alta letalidade na atuação das polícias não se reflete em maior segurança, dizem pesquisadores

por Thais Cardoso - publicado 19/06/2025 10:00 - última modificação 13/06/2025 16:01

Fernando Salla e Viviane Cubas, do NEV-USP, discutem essa questão no episódio do USP Analisa que vai ao ar pela Rádio USP nesta quinta, dia 19

É muito comum, tanto na própria sociedade quanto entre autoridades de segurança, fazer uma associação entre alta letalidade e eficiência das polícias. Mas, afinal, será que um maior número de mortes de criminosos gera mais segurança para a população? O USP Analisa desta quinta (19) traz para o debate esse tema, com a ajuda dos pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da USP Fernando Salla e Viviane Cubas.

Para Viviane, o que leva a esse tipo de associação é a falta de respaldo científico nas políticas de segurança. Segundo ela, não existem, em parte alguma do mundo, estudos que comprovem a relação entre eficiência e letalidade. “Aliás, não existe nenhuma experiência bem-sucedida de segurança pública em qualquer lugar do mundo que tenha usado esse tipo de expediente, muito pelo contrário. Eu acredito que muitas vezes as decisões políticas são definidas a partir dos apelos do momento e sem ter essa fundamentação. E é uma forma de você implementar a política do ‘bandido bom é bandido morto’”.

A pesquisadora destaca ainda que uma das atribuições legais da Polícia Militar seria o trabalho de prevenção, mas a corporação tem poucos expedientes que permitam a concretização desse tipo de tarefa. “Se você tem uma polícia que passa a investir mais em armamento não letal, em policiais mais bem treinados em defesa e nas artes marciais, estratégias, de fato, de policiamento comunitário, de aproximação com a comunidade, de estabelecimento de programas de prevenção, de trabalho contínuo, de prevenção de segurança, você pode começar a mudar a autoimagem e o fazer policial. Porque uma alta letalidade de civis também implica numa alta letalidade de policiais ou no impacto para a saúde desses policiais. É muito comum, a gente ouviu os policiais dizendo que, mesmo quando eles estão com a família, passeando, eles estão em alerta 24 horas por dia”.

Segundo Fernando, falta também trazer para o debate público questões envolvidas na atuação policial que extrapolam a competência da polícia, como desigualdades sociais, econômicas e de gênero, e que geram conflitos de todas as naturezas na sociedade. “Infelizmente, é um debate que é público, que não é colocado, porque isso interfere diretamente na própria forma de ser da nossa sociedade brasileira, que é capaz de fazer todo santo dia uma operação nas favelas do Rio ou num bairro de periferia todo santo dia de forma violenta e não trazer ao debate esse problema das desigualdades econômicas, das desigualdades sociais que a gente tem. Segurança pública é a atuação dos corpos policiais. Sim, mas e o restante dos problemas? Geração de emprego, geração de renda, assistência social, nada disso é discutido.

O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP às quintas-feiras, às 16h40, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas principais plataformas de podcast.

O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.