Formação oferecida aos policiais no Brasil é tema do USP Analisa desta semana
No Brasil, o policiamento ostensivo nas ruas é desempenhado basicamente pela Polícia Militar. Mas que tipo de preparo esses profissionais recebem não apenas na parte técnica, mas também para o contato com a população em geral? É sobre esse tema que o USP Analisa desta quinta (05/06) vai tratar. Os pesquisadores do Núcleo de Estudos da Violência da USP, Fernando Salla e Viviane Cubas são os entrevistados.
Viviane explica que a formação dos policiais é bastante desigual porque cada Estado é responsável por sua própria polícia. Os principais pontos em comum são o modelo pedagógico, que é permeado por normas e regulamentos do Exército, e a divisão em duas carreiras, ou seja, os praças - patentes mais baixas, responsáveis pelo patrulhamento - e os oficiais - patentes mais altas, responsáveis pela gestão.
Segundo ela, essa divisão impede que soldados, cabos e sargentos cheguem aos postos mais altos, ainda que tenham larga experiência na carreira. “É muito difícil para que um praça abandone a sua atividade para se dedicar aos estudos e concorrer a uma vaga para oficial. Recentemente, a gente conversou com um oficial que teve essa trajetória. Ele era praça, já era casado, tinha família, e decidiu ingressar na Academia do Barro Branco. Ele conta que conseguiu ingressar com muito sacrifício, porque é um trabalho exaustivo e tinha que se dedicar aos estudos. Mas após o ingresso, o salário dele era menor que o de praça. E há um modo interno de você, como praça, ingressar na carreira de oficial. Porém, o máximo que você chega é major”.
Fernando destaca que durante a redemocratização do país, no final da década de 80, sabia-se que uma revisão de todos os procedimentos policiais era algo que contribuiria para esse processo. Mas ainda hoje, esse é um campo repleto de disputas e tensões, porque envolvem duas dimensões, as intervenções propriamente técnicas e o relacionamento com a população.
“Em tudo isso houve um avanço muito grande, pelo menos em alguns estados. Mas ao mesmo tempo houve, vamos dizer assim, toda uma dificuldade de fazer avanços substantivos nessa relação da polícia com a população. Porque isso envolve valores, envolve concepções de democracia, de respeito aos seres humanos, às populações mais vulneráveis. Então, é um processo, como a Viviane observou, bastante desigual pelo Brasil e que eu acho que se a gente avançou na linha da formação técnica, muita coisa ainda a gente tem que avançar nesse sentido da relação da polícia com a população”, diz ele.
O USP Analisa é quinzenal e leva ao ar pela Rádio USP às quintas-feiras, às 16h40, um pequeno trecho do podcast de mesmo nome, que pode ser acessado na íntegra nas principais plataformas de podcast.
O programa é uma produção conjunta do Instituto de Estudos Avançados Polo Ribeirão Preto (IEA-RP) da USP e da Rádio USP Ribeirão Preto. Para saber mais novidades sobre o USP Analisa e outras atividades do IEA-RP, inscreva-se em nosso canal no Telegram ou em nosso grupo no Whatsapp.