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As ideias de nação e nacionalismo em perspectiva

por Flávia Dourado - publicado 07/04/2008 00:00 - última modificação 02/10/2015 14:23

"Estudos Avançados" nº 62 traz dossiê sobre "Nação/Nacionalismo". A edição será lançada no dia 8 de maio, com debate sobre a política externa brasileira.

capa62.jpgA próxima edição da revista "Estudos Avançados" (nº 62) trará o dossiê "Nação, Nacionalismo", com 16 artigos e uma entrevista. O lançamento será no dia 8 de maio, às 15, no IEA, com debate sobre a política externa brasileira. Os debatedores serão: Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do Itamaraty), Luiz Carlos Bresser-Pereira (FGV/SP), Fábio Wanderley Reis (UFMG), Laura Greenhalgh ("O Estado de S.Paulo") e Eliane Cantanhêde ("Folha de S.Paulo").

Em seguida ao debate, Alfredo Bosi, editor da publicação, apresentará a edição. De acordo ele, o objetivo do dossiê "Nação/Nacionalismo" é contribuir para a retomada e o aprofundamento de uma das questões candentes do contexto econômico e político internacional da atualidade.

Para Bosi, não é por acaso que o fato e a idéia de globalização — predominantes a partir do último quartel do século 20 — tenham sido acompanhados de surtos mais ou menos violentos de reivindicações nacionais: "As partes reagem dialeticamente a uma totalidade que, em vez de incluí-las democraticamente, tende a excluí-las, reduzindo-lhes a capacidade de se autogerirem e interferindo nos projetos econômicos ou políticos".

Os seis primeiros artigos do dossiê são fruto de uma série de conferências organizada pela Escola Superior de Estudos Históricos da Universidade de San Marino em outubro de 2006, sobre o tema "Nação, Nacionalismo, Internacionalismo".

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Segundo Paulo Butti de Lima, responsável científico da instituição samarinesa, os autores analisaram a história mais ou menos recente dos "sentimentos" nacionais e dos processos históricos de afirmação das nações no mundo moderno e contemporâneo.

Lima explica que, a partir de uma perspectiva multidisciplinar, a série de conferências procurou chamar a atenção para as várias faces do argumento e para o caráter não-unívoco de sua expressão. "No fundo, encontra-se a questão: somos ainda os 'herdeiros' deste mundo das nações? Por que não conseguimos pensar e agir diferentemente, tratando-se de política e cidadania?"

Em complemento aos temas e abordagens das conferências de San Marino, a revista convidou vários estudiosos para tratarem do tema a partir de experiências e perspectivas brasileiras. Essa segunda parte conta com artigos escritos por Rubens Ricupero, Samuel Pinheiro Guimarães, Fábio Wanderley Reis, Luis Carlos Bresser-Pereira, Paulo Bonavides, Giovani Clark, João Antônio de Paula, Carlos Lessa, István Jancsó e Hélio Jaguaribe e uma entrevista com Paulo Nogueira Batista Jr.

Marco Antônio Coelho (*), editor executivo da revista, comenta o dossiê:

Nação e nacionalismo: essa é a questão examinada no dossiê da edição de nº 62 de  “Estudos Avançados”, que circula a partir do início de maio. Dedicado a tratar de assuntos relacionados com as políticas públicas, o veículo do Instituto de Estudos Avançados resolveu contribuir para o aprofundamento de um dos problemas mais intrincados e explosivos do panorama internacional.

A promoção desse debate foi iniciada por um  seminário  efetuado pela Universidade de San Marino,  divulgando seis conferências em que participaram pesquisadores italianos de diversas formações. Nelas foram apresentadas análises teóricas e curiosas informações sobre o tema. Segundo o professor Paulo Butti de Lima, da Universidade de Bari, naquele encontro em San Marino foi debatida a história mais ou menos recente dos "sentimentos" nacionais e dos processos de afirmação das nações no mundo moderno.

O dossiê foi enriquecido com respostas  de pesquisadores brasileiros ao convite da editoria de "Estudos Avançados" de também emitirem um juízo sobre a questão. Aparentemente pode parecer exagerada a preocupação com o tema. Talvez  porque, aqui em nosso país, felizmente, não há controvérsias agudas sobre a Nação brasileira. E muitos julgam que esse conceito é  pacífico e indiscutível entre nós.

Todavia, a simples leitura do noticiário sobre o que sucede no mundo suscita perguntas que atormentam  o homem comum. Exemplos:  deve-se apoiar ou não a independência de Kosovo e da Chechênia?  A China tem razão em não aceitar a independência do Tibete?  Qual o futuro da "nação boliviana", desde que entre quéchuas e  aimarás existem muitos que desejam pôr em questão a unidade nacional?  Com a globalização as nações tendem a desaparecer? Nada, portanto, é tão controverso na opinião pública do que o tema apresentado no dossiê.

No exame da questão aparecem  fatos e análises que normalmente não são assinalados nos meios de divulgação. Um  exemplo é a divergência ocorrida no auge da Revolução Francesa, entre  girondinos e Robespierre, quando  este  combateu  a política  de exportar a revolução, enquanto Danton e seus companheiros  apresentaram a tese da intervenção do exército francês para "libertar" os povos ainda oprimidos pelo “despotismo”. Curiosa polêmica  que se repetiu, quase nos mesmos termos, na Revolução de Outubro na Rússia.

Os textos que publicamos de pesquisadores brasileiros acrescentam diferentes análises, tendo como ponto de partida teses que traduzem a visão prevalecente em nossos círculos acadêmicos.  Dois exemplos enfatizam tal juízo. De um lado, o embaixador Rubens Ricupero com sua longa experiência nas atividades diplomáticas brasileiras dá um quadro minucioso  das controvérsias sobre o problema nacional nos quatro cantos do mundo, entendimento que também reflete o fato de haver exercido durante vários anos o cargo de secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad).

Ao lado disso, está no dossiê um exame meticuloso de como o Itamaraty reage em face do desdobramento da questão nacional e do nacionalismo, texto elaborado pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Ministério Relações Exteriores e professor da Universidade de Brasília.

Nossos leitores terão assim um conjunto de trabalhos que focalizam as razões pelas quais, neste início de milênio, estão crescendo os  surtos mais ou menos violentos de reivindicações nacionais. Fato que demanda a necessidade de acompanhá-los com atenção, para  advertirmos contra a ocorrência de conflitos bélicos devastadores para a humanidade, como sucedeu no século passado.

* Jornalista, editor executivo de "Estudos Avançados.

Foto: Eric Hart