Primeira Temporada da Série Conversas sobre Complexidade

Facilitadores: Marcia Blasques (SCS-USP) e José Eli da Veiga (Programa Professor Sênior)

Por mais difícil que seja definir complexidade, o fato é que ela vem sendo entendida, por amplo leque de pesquisadores, como “um novo ramo científico”, “uma nova ciência”, ou “um conjunto de novas ciências”.

Para muitos, trata-se de investigar o que pode haver de comum aos inúmeros “sistemas adaptativos complexos” (SAC), também chamados de “sistemas dinâmicos não lineares” (SDNL). Outros até estariam empenhados em encontrar “as leis fundamentais” que os regem.

Ao menos duas noções básicas são aceitas por todos os cientistas e filósofos que lidam com a complexidade: emergência e auto-organização.

O entendimento da primeira – emergência – pode parecer fácil, pois se refere a alguma novidade qualitativa resultante da interação entre partes de um conjunto, porém ausente em cada uma delas. Mas é um daqueles casos em que as aparências enganam.

Basta dar uma espiada em qualquer dicionário ou enciclopédia de filosofia para se dar conta de que a noção de emergência é - desde 1875 -, objeto de debate dos mais controversos. Sofreu um eclipse entre 1930 e 1950, mas, desde então, parece se tornar cada vez mais intrincado.

O entendimento da segunda noção básica da complexidade – a auto-organização – talvez tenha avançado um pouco mais. É uma dinâmica em que alguma forma de ordem geral surge de interações entre partes de um sistema inicialmente desordenado. Tal dinâmica pode ser espontânea, quando há energia suficiente disponível, não necessitando de controle por nenhum agente externo.

A auto-organização pode ser desencadeada por flutuações aparentemente aleatórias, amplificadas por feedbacks. A organização resultante é totalmente descentralizada, distribuída por todos os componentes do sistema, caracterizando o que alguns classificam como “sistema de controle do tipo enxame (swarm)”.

O fato é que – dos mercados ao sistema imunológico, passando por um cérebro, uma árvore ou um formigueiro, não faltam fenômenos nos quais amplas redes auto-organizadas fazem emergir – mediante simples esquemas operacionais e sem qualquer controle central – sofisticados comportamentos e tratamento de informações.

Além disto, a capacidade adaptativa dos SACs ou SDNLs pode decorrer de evolução ou de aprendizado. O essencial está nas interações que levam a comportamentos não lineares que - longe do equilíbrio - tanto podem se manter relativamente estáveis quanto se mostrar capazes de mudanças de estado que geram oscilações abruptas, explosão de bolhas, crashes, convulsões e colapsos.

A grande dúvida é se os estudos sobre tais interações estão avançando tanto quanto prognosticou Stephen Hawking ao declarar que a ciência deste século será a da complexidade.

Para discutir tal profecia e avaliar quais têm sido os avanços das pesquisas e debates sobre a complexidade, foram convidados, para uma primeira temporada de conversas online - sempre das 15h às 17h - facilitadas pela jornalista Marcia Blasques e por José Eli da Veiga, professor sênior do IEA/USP, meia dúzia de tarimbados pesquisadores que lidam com a temática por diferentes ângulos:

Artigo:

As Charadas na Obra de Charles Darwin, Jornal da USP, 16 de março de 2023