Geopolítica mundial, inserção internacional do Brasil e Nova Rota da Seda - Entrevista com Janina Onuki
A cientista política Janina Onuki concorda parcialmente com os analistas que veem certa similaridade entre o panorama geopolítico atual e aquele do século 19. Em sua participação* na série 3por1, ela aponta as diferenças entre os dois períodos. Também comenta os desafios do Brasil para se relacionar com os polos divergentes do sistema internacional, além da relação econômica e política do país com a China e a eventual participação na Nova Rota da Sede.
Onuki é professora titular do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, onde bacharelou-se em ciências sociais e obteve os títulos de mestre e doutora em ciências política. Realizou o pós-doutorado na Escola de Negócios Públicos e Internacionais da Universidade do Estado da Carolina do Norte, nos EUA. Foi diretora do Instituto de Relações Internacionais da USP. No IEA, participou do Programa Ano Sabático em 2022 e atualmente coordena o Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas e preside a Comissão de Pesquisa e Inovação. Coordena também o Projeto Temático Fapesp Gender STI: Igualdade de Gênero em Ciência, Tecnologia e Inovação: Diálogos Bilaterais e Multilaterais.
Entrevista
3por1 – Professora Janina Onuki, há quem considere o panorama geopolítico atual similar àquele do século 19, com ênfases nacionalistas, emergência de uma nova potência e disputas por áreas de influência. A senhora concorda com essa visão?
Assista ao vídeo da entrevista com Janina Onuki |
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JO – Eu concordo em parte, porque nós estamos num contexto de emergência de governos nacionalistas a extremistas, mas acho que é uma conjuntura diferente do século 19 por duas razões: primeiro, porque nós temos um impacto muito grande da internet, acho que essa disseminação das informações e do impacto que os conflitos geram é muito maior, e também o fato de a gente ter a emergência de governos extremistas com outros interesses, muito mais amplos do que os que tínhamos no século 19.
3por1 – É possível um país como o Brasil ter um relacionamento simultâneo e proveitoso com polos divergentes do sistema internacional?
JO – O Brasil sempre preservou sua política externa, o multilateralismo, ações pacíficas e a negociação, o diálogo com países com diferentes perfis internacionais. O fato é que é cada vez mais difícil num mundo tão polarizado nós conseguirmos manter as relações com países com divergências tão grandes com o Brasil.
3por1 – O que convém ao Brasil, ingressar ou não na Nova Rota da Seda chinesa?
JO – Acho que o Brasil tem tido cada vez mais uma relação comercial e econômica bastante importante com a China. Acredito que o Brasil vá dar continuidade a essa relação, que não é apenas comercial, mas é [também] muito importante politicamente. Resta saber como o Brasil vai conseguir equilibrar a relação com a China – um país que vem crescendo e ganhando um espaço político cada vez maior – com a relação com outros países, como os Estados Unidos. O Brasil vai ter um desafio pela frente e, a partir da diplomacia e das negociações, tentar estabelecer um equilíbrio com a China e com os demais países do Ocidente. Mas eu vejo como inevitável a relação do Brasil com a China e a participação na Nova Rota da Seda.
* Entrevista gravada em 4 de julho de 2025 na sede do IEA.