CNPq aprova proposta de INCT sobre sistema agroalimentar brasileiro
O IEA agora é sede de um Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) do CNPq dedicado à erradicação da fome e à segurança alimentar no Brasil. A aprovação da iniciativa constou do resultado final da Chamada INCT 46/2024, divulgado no dia 30 de junho.
Com o título "Superar a Tríplice Monotonia do Sistema Agroalimentar", a proposta foi elaborada pela Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. O coordenador do novo INCT é o professor sênior do IEA e pesquisador da cátedra Ricardo Abramovay. O total de recursos aprovado pelo CNPq para o instituto é de cerca de R$ 7,3 milhões.
Além da Cátedra Josué de Castro e do IEA, integram o INCT: o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, a Embrapa Acre, o Instituto Federal Catarinense em Santa Rosa do Sul, o Instituto Fome Zero, o Centro de Pesquisa Climática Woodwell e Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam Amazônia). As instituições parceiras são a plataforma francesa Agropolis International e quatro institutos: Comida do Amanhã, Clima e Sociedade, Ibirapitanga e Folio.
De acordo com autores da proposta, o sistema agroalimentar contemporâneo responde por nada menos que um terço das emissões globais de gases de efeito estufa. Ele é também o mais importante vetor de erosão da biodiversidade e está na raiz de algumas das formas mais graves de poluição, afirmam.
"A ingestão de calorias e de produtos animais no mundo é muito superior às necessidades metabólicas das pessoas. Não é o aumento das safras que permitirá zerar a fome nas regiões onde ela se concentra e sim a estabilidade política, a conquista da democracia e de meios para o acesso a uma alimentação saudável e diversificada", acrescentam os pesquisadores.
Diante desse quadro, apresentam-se três desafios centrais (ligados à "triplice monotonia do sistema agroalimentar" brasileiro), segundo os responsáveis pelo INCT:
- elaborar métodos que permitam introduzir biodiversidade no interior das culturas agrícolas;
- reduzir drasticamente o vínculo entre produção animal (sobretudo de aves e suínos) e o uso de antibióticos;
- aumentar a diversidade da dieta, algo que passa tanto pela redução no consumo de produtos animais quanto pela quase completa eliminação dos ultraprocessados.
A decisão de tratar desses desafios por meio de um INCT se deve ao fato de esse tipo de organização permitir a criação de redes de pesquisa, facilitando a colaboração entre diferentes instituições e pesquisadores, promovem a formação e qualificação de recursos humanos, e possibilitando a transferência de conhecimento e tecnologias para a sociedade, por meio de parcerias com o setor público e empresarial. Entre os objetivos do INCT estão:
- produzir uma agenda de inovações institucionais para a transição justa e sustentável do sistema agroalimentar brasileiro;
- contribuir para a intensificação sustentável da pecuária bovina e, assim, para a redução de suas emissões de gases efeito estufa;
- Contribuir para a transparência no uso de antimicrobianos na criação animal brasileira e para métodos produtivos que reduzam a concentração animal e o uso de antibióticos;
- ampliar o bem-estar dos animais;
- apresentar propostas abrangentes que possam garantir o acesso a alimentos saudáveis nas cidades;
- investigar os potenciais impactos da redução do consumo de produtos de origem animal na ingestão de proteínas e nutrientes pela população brasileira.
Foto: Governo de Rondônia