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Pesquisadores recebem sugestões de mentores da ICA 4 e estabelecem parcerias

por Mauro Bellesa - publicado 05/11/2021 10:05 - última modificação 06/01/2022 14:08

Fase de Paris da 4ª Intercontinental Academia aconteceu de 18 a 27 de outubro. O tema desta vez é Inteligência e Inteligência Artificial.

Sessão da Intercontinental Academia 4 em Paris - outubro/2021
Sessão da primeira fase da Intercontinental Academia 4, realizada no Instituto de Estudos Avançados de Paris

Três brasileiros estiveram entre os 19 jovens pesquisadores participantes da primeira fase da 4ª edição da Intercontinental Academia (ICA 4), realizada em Paris de 18 a 27 de outubro". Desta vez o tema da ICA é Inteligência e Inteligência Artificial. O objetivo é explorar questões interdisciplinares fundamentais na interseção da ciência cognitiva, neurociência e inteligência artificial.

Dois participantes brasileiros são da USP: André Fujita, professor do Departamento de Ciência da Computação do Instituto de Matemática e Estatística, indicado pelo IEA, e a especialista em avaliação de tecnologias para saúde Patricia Coelho de Soárez, professora da Faculdade de Medicina, que a indicou. O terceiro brasileiro e o professor de linguista computacional Evandro Cunha, da Faculdade de Letras da UFMG.

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A ICA é uma iniciativa da rede internacional de IEAs Ubias (University Based Institutes for Advanced Study) e cada edição é organizada por dois IEAs de continentes diferentes. A 4ª edição tem como realizadores o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da UFMG e o Instituto de Estudos Avançados de Paris. A segunda fase será realizada em junho de 2022, em Belo Horizonte, MG.

Os pesquisadores brasileiros participaram de todas as atividades do encontro em Paris. Durante os oito dias de seminários (seguidos de discussões e sessões de brainstorm, além de visitas a universidades da capital francesa) foram discutidos diversos temas de forma abrangente, segundo Fujita e Patrícia.

Os temas debatidos incluíram: o que é inteligência, filosofia da computação, princípios éticos em IA, futuro da IA e seus desafios, relações entre humanos e máquinas, consciência e emoção, Teoria da Instalação (novo campo dedicado ao entendimento, análise e mudança do comportamento), robôs do futuro, impacto da IA na economia, arcabouços teóricos do funcionamento das redes neurais profundas e a indagação se é realmente necessário desenvolver máquinas inteligentes que mimetizem os humanos e para que elas serviriam.

André Fujita e Toshio Fukuda - ICA4 - 2021
André Fujita (à esq.) e Toshio Fukuda em encontro na Escola Normal Superior Paris-Saclay; Fukuda é professor emérito da Universidade de Nagoya, Japão, e uma das maiores autoridades mundiais em robótica

Ao longo do encontro, Fujita manteve encontros individuais com sete dos mentores (pesquisadores seniores), ocasiões em que descreveu seus projetos de pesquisas e áreas de atuação e solicitou críticas e sugestões. Os mentores consultados foram Xiao-Jing Wang, Toshio Fukuda, Marc Mézard, Zaven Paré, Saadi Lahlou, Simon Luck e Olivier Bouin.

Wang, Fukuda e Mézard elogiaram os aspectos inovadores das pesquisas de Fujita em network statistics e no uso da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) na construção de interface coração-máquina, segundo o brasileiro. Eles também apresentaram sugestões para maior amplitude dos trabalhos. Luck e Bouin trataram das possibilidades de bolsas de pesquisa nos IEAs da França e de oportunidades para o financiamento do trabalho de Fujita na Europa.

Ele também estabeleceu pontes para eventual cooperação com Deshen Moodley e Surange Kasturi, dois dos pesquisadores juniores participantes da ICA 4. Com o primeiro, discutiu a possibilidade de cooperação na área de VFC. Com o segundo, tratou de um possível encontro no primeiro semestre de 2022 nos Estados Unidos, uma vez que Kasturi trabalha com o uso de IA na análise de dados na área da saúde.

Patricia destacou as exposições "Na IA nós confiamos - Poder, Ilusão e Controle de Algoritmos Preditivos”, proferida por Helga Nowotny, professora emérita do Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique, e " Mitos e mal-entendidos sobre a responsabilidade pelo impacto não intencional da Inteligência Artificial", feita por Karen Yeung, pesquisadora de direito, ética e informática da Universidade de Birmingham, Reino Unido. “Suas falas despertaram meu interesse em estudar mais profundamente as implicações econômicas, éticas e sociais da aplicação da IA ao campo da saúde, no contexto brasileiro.”

Laura Candiotto e Patricia Coelho Soárez - outubro/2021
Patricia Soárez (à dir.) com Laura Candiotto, do Centro de Ética da Universidade de Pardubice, República Checa
Karen foi escolhida por Patricia como mentora durante a ICA4. “Ela está envolvida ativamente em políticas de tecnologia no Reino Unido e tem-se dedicado a compreensão dos desafios associados à regulação e governança das tecnologias emergentes", disse a brasileira.

De acordo com Patricia, os trabalhos recentes de Karen estão voltados para as implicações legais, éticas e sociais do uso dessas novas tecnologias. “Iniciamos a discussão sobre o desenvolvimento de um projeto provisoriamente nomeado ‘Uma Abordagem Interdisciplinar das Aplicações da Inteligência Artificial em Cancerologia: Efetividade Clinica e Implicações sociais’, afirmou.

Como desdobramento dessa colaboração inicial, e apoiada por Sue Gilligan, gestora de projetos de pesquisa interdisciplinares da Universidade de Birmingham, Patrícia está trabalhando com um grupo de pesquisadores participantes da ICA4 na organização de uma proposta de um encontro intermediário em Birmingham, em março de 2022, para discussão de seus projetos individuais, antes do segundo etapa da ICA4 em novembro, em Belo Horizonte.

Outra iniciativa dos pesquisadores, disse Fujita, será a produção de um artigo sobre os diversos pontos de vista a respeito da IA e o que se espera na área para os próximos 20 anos.

Será um tipo de manifesto assinado por todos, afirmou. "Para isso, nos reuniremos virtualmente a cada duas semanas. Inicialmente programamos seminários para que cada um possa entender melhor as pesquisas realizadas pelos demais. Também leremos artigos sobre IA escolhidos por cada um de nós. Vale notar que somos um grupo bastante heterogêneo, formado por especialistas em ciência da computação, engenharia, biologia, filosofia, economia, direito, neurociência, entre outras áreas. Isso nos permitirá ter uma ideia bastante ampla sobre o tema."

Para Patricia, a participação na ICA 4 a desafiou a inaugurar uma nova forma de pensar, articular e fazer sua pesquisa: “O maior aprendizado que ganhei foi o despertar para a possibilidade de desenvolvimento de novos projetos de pesquisa com uma abordagem interdisciplinar. E o melhor produto foi o potencial de estabelecimento de uma rede acadêmica, sólida e diversificada de pesquisadores ao redor do mundo. Espero num futuro próximo vivenciar a celebração da excelência e do impacto da pesquisa desenvolvida por essa rede de colaboração”.

Ela também destacou que as visitas feitas à Universidade Paris-Saclay, o Centro de Inteligência Artificial da Sorbonne e à Escola Normal Superior Paris-Saclay ampliaram as possibilidades de networking para além do Instituto de Estudos Avançados de Paris.

 

Fotos: Instituto de Estudos Avançados de Paris