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A importancia dos polinizadores para os ecossistemas e a agricultura

por Flávia Dourado - publicado 21/10/2009 00:00 - última modificação 27/08/2013 16:53

Em seminário a ser realizado no dia 29 de outubro, o Grupo de Pesquisa de Serviços dos Ecossistemas do IEA falará sobre o tema e sobre o projeto que vem desenvolvendo em parceria com o CNPq.

O Grupo de Pesquisa de Serviços dos Ecossistemas do IEA realiza no dia 29 de outubro, quinta-feira, das 9h30 às 12h, o seminário "Polinizadores e Serviços Ambientais". O encontro tratará dos programas de polinizadores existentes no mundo, do apoio governamental a essas ações e dos avanços da área no Brasil. Além disso, será apresentado o projeto "Avaliação do Uso Sustentável e Conservação dos Serviços Ambientais Realizados pelos Polinizadores no Brasil", uma nova iniciativa que está sendo desenvolvido pelo grupo numa parceria IEA-CNPq. (Leia abaixo artigo de Vera Lucia Imperatriz Fonseca, coordenadora do grupo de pesquisa, sobre a importância dos polinizadores para a agricultura.)

O encontro acontece no Auditório Alberto Carvalho da Silva, sede do IEA, Av. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 374, térreo, Edifício da Antiga Reitoria, Cidade Universitária, São Paulo.

PROGRAMA
9h30 Abertura
9h45 A Iniciativa Internacional para a Conservação e Uso Sustentado de Polinizadores (IPI) e seus Desdobramentos Globais
Vera Lucia Imperatriz Fonseca, coordenadora do Grupo de Pesquisa de Serviços dos Ecossistemas do IEA
10h30 O Projeto Brasileiro FAO/MMA/GEF
Marina Landeiro, do Ministério do Meio Ambiente
10h50 A Rede Brasileira de Coleções de Polinizadores
Dora Ann Lange Canhos, do Centro de Referência de Informações Ambientais (Cria)
11h10 A Rede Latino-Americana de Polinizadores
Antônio Mauro Saraiva e Etienne Cartolano Jr., do Laboratório de Automação Agrícola da Escola Politécnica da USP
11h30 Apresentação do projeto IEA-CNPq "Avaliação do Uso Sustentável e
Conservação dos Serviços Ambientais Realizados pelos Polinizadores no Brasil"

 

Polinizadores e agricultura

VERA LUCIA IMPERATRIZ FONSECA*

Na agenda da Convenção da Diversidade Biológica e da economia agrícola os polinizadores já ocupam um lugar de destaque. As informações existentes na literatura mundial sobre polinizadores indicam que o declínio das espécies é real onde foi medido, que sofrem com as alterações climáticas em curso, que não há disponibilidade de polinizadores nativos para a agricultura, se consideramos o quadro atual de desenvolvimento da pesquisa, e que os polinizadores aumentam a produção agrícola de plantas importantes para o consumo humano, entre outros aspectos. Para o agronegócio brasileiro eles têm uma grande relevância, uma vez que promovem maior rendimento das áreas agriculturáveis e maior qualidade de frutos.

Em estudo publicado em janeiro, Nicola Gallai, Jean-Michel Salles, Josef Settele e Bernard E. Vaissière demonstraram a importância econômica das abelhas como polinizadoras de plantas que servem como alimento para o homem, bem como a vulnerabilidade da produção de alimento ao declínio de polinizadores no mundo.[1] O valor econômico anual total da polinização calculado é de cerca de € 153 bilhões, que representam 9,5% do valor da produção agrícola mundial para a alimentação humana em 2005. Os vegetais e frutas lideram as categorias de alimento que necessitam de insetos para polinização (€ 50 bilhões para cada um deles). Seguem as culturas oleaginosas, estimulantes, amêndoas e especiarias.

Os pesquisadores citados estimam também que em média o valor das culturas que não dependem da polinização por insetos é de € 151 bilhões por ano, enquanto que o das dependentes da polinização é de € 761 bilhões. Eles também calcularam um valor para a vulnerabilidade ocasionada pela perda de polinizadores para cada categoria de cultura nas escalas regionais e globais e, além disso, determinaram que há uma correlação positiva entre a taxa de vulnerabilidade para o declínio de polinizadores para cada categoria de cultivo e seu valor por unidade de produção. Estimaram que o declínio de polinizadores possa ter como consequência a redução da produção de frutas, vegetais e estimulantes (como café, por exemplo) para números abaixo do necessário para o consumo atual, se pensarmos numa escala global. Segundo eles, para que essa situação possa ser considerada um cenário, é necessário que sejam introduzidas as respostas estratégicas dos mercados.

Em outro estudo recente, Marcelo A. Aizen, Lucas A. Garibaldi, Saul A. Cunningham e Alexandra M. Klein[2] focalizaram o problema a partir de bases de dados da Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e consideraram os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, verificando a produção agrícola das plantas dependentes e das independentes de polinização, para verificar se havia uma tendência crescente de declínio de polinizadores.

Durante os últimos 45 anos houve um aumento líquido da área cultivada e um maior aumento de cultivos de plantas dependentes de polinizadores. Se essa tendência continuar, haverá uma enorme demanda de polinizadores no futuro, em escala global, segundo Marcelo A. Aizen e Lawrence D. Harder.[3] Além disso, é preciso considerar que o aumento da agricultura se dá em áreas antes ocupadas por vegetação nativa ou em pastos, que também perderam polinizadores nativos.[4]

Atualmente, mais de 2/3 das áreas cultivadas do mundo estão em países subdesenvolvidos, que por sua vez têm uma agricultura 50% mais dependente de polinizadores do que as dos países desenvolvidos.[5] A destruição ambiental e o manejo da paisagem não amigável aos polinizadores têm como consequência uma produção menor, que será compensada através de plantios em áreas maiores, impactando ainda mais a conservação dos polinizadores e das áreas naturais. Esse limite entre agricultura e conservação é o maior desafio dos tempos modernos, porque os assuntos estão interligados e poucos compreendem isso.

* Professora titular (aposentada) de ecologia do Instituto de Biociências da USP, pesquisadora visitante do IEA, onde coordena o Grupo de Pesquisa de Serviços de Ecossistemas. É especialista em abelhas sem ferrão, comportamento animal e conservação biológica.

[1] GALLAI, N.; SALLES, J. M.; SETTELE, J. & VAISSIÈRE, B. Economic variation of the vulnerability of world agriculture confronted with pollinator decline. Ecological Economics, v. 68, n. 3, p. 810-821, 2009.
[2] AIZEN, M. A.; GARIBALDI, L. A.; CUNNINGHAM, S. A. & KLEIN, A. M. How much does agriculture depend on pollinators? Lessons from long term trends in crop production. Annals of Botany, v. 103, p. 1.579-1.588, 2009.
[3] AIZEN, M. A. & HARDER, L.D. The global stock of domesticated honey bees is growing slower than agricultural demand for pollination.Current Biology v. 19, p. 915-918, 2009.
[4] MORTON, D. C.; DeFRIES, R . S.; SHIMABUKURO, Y. E.; ANDERSON, L. O.; ESPÍRITO-SANTO, F. B.; FREITAS, R. et al. Cropland expansion changes deforestation dynamics in the southern Brazilian Amazon. Proceedings of the National Academy of Sciences, Washington, v. 103, n. 39, p. 14.637-14.641, 2006.
[5] AIZEN M. A.; GARIBALDI L. A.; CUNNINGHAM S. A.; KLEIN A. M. Long-term global trends in crop yield and production reveal no current pollination shortage but increasing pollinator dependency. Current Biology v.18, n. 20, p.1.572-1.575, 2008. GARIBALDI, L.A.; AIZEN, M.A.;CUNNINGHAM, S.A.& KLEIN, A.M. Pollinator shortage and global crop yield. Communicative and Integrative Biology, v.2, n.1, p.37-39, 2009.