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Uma academia de vanguarda

por Flávia Dourado - publicado 22/02/2013 00:00 - última modificação 04/08/2015 14:07

Em encontro realizado no dia 15 de fevereiro, o IEA e o instituto de estudos avançados da Universidade de Nagoya refinaram o projeto piloto da Academia Intercontinental.

Dapeng Cai
Dapeng Cai e Susumu Saito foram os expositores do encontro que discutiu a criação da 'Academia Intercontinental'

"A Academia Intercontinental funcionará como um laboratório de como a universidade poderá trabalhar no futuro de maneira colaborativa. Trata-se de um projeto em pequena escala, mas com potencial para resultar num novo formato para a educação superior".

Essa é a expectativa de Martin Grossmann, diretor do IEA, em relação à Academia Intercontinental dos University-Based Institutes for Advanced Study (Ubias), rede que integra 33 institutos de estudos avançados vinculados a universidades de todo o mundo.

O projeto piloto da Academia, que está sob a responsabilidade do IEA e do Instituto de Pesquisa Avançada (IAR, na sigla em inglês) da Universidade de Nagoya, no Japão, foi apresentado pela primeira vez a um público amplo no encontro A Pesquisa Avançada em Nagoya, que aconteceu no dia 15 de fevereiro, no IEA. Os expositores foram o químico Susumu Saito e o economista Dapeng Cai, ambos pesquisadores em tempo integral do IAR.

O evento foi dividido em duas partes. Na primeira, Saito falou sobre as boas práticas adotadas pelo IAR para o desenvolvimento de pesquisas de alto nível e impacto mundial (ver box). Na segunda, Cai fez uma exposição sobre o conceito e o funcionamento da Academia, que foram definidos na manhã do mesmo dia, em reunião fechada com os dois pesquisadores, a direção do IEA, integrantes de grupos de pesquisa e curadoria do IEA, bem como representantes da Vice-Reitoria Executiva de Relações Internacionais.

O conceito da Academia
A proposta de criar a Academia Intercontinental surgiu no encontro do Comitê de Coordenação dos Ubias, realizado em março de 2012 no Instituto de Estudos Avançados Jawaharlal Nehru, em Nova Delhi, Índia. Na ocasião, o IEA e o IAR foram convidados para serem os responsáveis pelo projeto-piloto dessa iniciativa, que funcionará como uma joint venture, como definiu Cai.

De acordo com o economista, o conceito da Academia se resume na expressão "2+2+2+2": dois Ubias de dois continentes diferentes vão se unir para a organização de uma pesquisa conjunta a ser desenvolvida ao longo de dois anos, período em que serão realizados dois workshops.

A ideia é promover o intercâmbio científico entre gerações, disciplinas e culturas. Para isso, serão selecionados 15 jovens pesquisadores de várias universidades do mundo e de diferentes áreas do conhecimento para se dedicarem a um estudo colaborativo de caráter interdisciplinar, sob a orientação de três cientistas seniores – ganhadores do Prêmio Nobel ou de distinção semelhante, que coordenarão as atividades.

Esse grupo manterá contato durante o biênio do projeto e se reunirá em dois workshops de um mês cada - um em São Paulo, previsto para março de 2014, e outro em Nagoya, previsto para março de 2015. Nesses encontros de imersão, os pesquisadores terão oportunidade de trocar experiências, participar de atividades interculturais e programas sociais e de discutir o tema de pesquisa por meio de conferências, leituras, seminários e debates.

Segundo Cai, esse tipo de iniciativa é tão importante porque "as pesquisas desenvolvidas nas universidades são focadas e especializadas demais, de modo que os pesquisadores não compartilham linguagens, não se relacionam com outros campos e esquecem como se comunicar uns com os outros".

O economista destacou que a Academia Intercontinental orienta-se por três objetivos: estimular a pesquisa conjunta entre os institutos membros dos Ubias; promover a formação de redes de cooperação entre líderes científicos da próxima geração; e explorar novas formas de prática acadêmica coletiva e novos formatos de formação, colaboração e disseminação científica.

Grossmann observou que o termo academia pode ter uma conotação pejorativa, uma vez que é usado para fazer referência ao conjunto dos grandes nomes da ciência, reconhecidos pela qualidade do conhecimento que geraram, mas sem um compromisso em transformar o pensamento corrente. "Entretanto, no sentido que estamos utilizando na Academia Intercontinental, o termo refere-se a um ambiente de vanguarda, um espaço experimental, de riscos, de debates, que possibilita encontros inusitados", ressaltou.

Processo de seleção
Um trio de pesquisadores internacionais seniores escolhido pelos associados dos UBIAS será responsável por conduzir a seleção do grupo de 15 jovens cientistas. Cada membro dos Ubias poderá indicar até 3 candidatos, jovens pesquisadores com nível de pós-doutor a professor assistente. De acordo com Cai, a ideia é reunir as melhores jovens cabeças de todo o mundo e de diversas disciplinas para pensar soluções para desafios globais.

Também ficará a cargo dos seniores propor o programa de pesquisa da Academia. O IEA e o IAR sugeriram como tema os diversos sentidos e significados do "tempo", abrangendo o ponto de vista físico, social, literário, histórico, artístico, biológico, entre outros. E, como sub-tema, propuseram os ciclos circadianos, objeto de estudo de Takao Kondo, atual diretor do IAR. Tais ciclos referem-se aos ritmos biológicos diários dos seres vivos, que oscilam conforme a variação do dia e da noite.

O papel dos anfitriões
Aos institutos anfitriões cabe funcionar como um secretariado, assessorando no processo de seleção; proporcionar a estrutura necessária para as atividades acadêmicas; organizar programas interculturais e sociais para interação dos integrantes da Academia; arcar com os custos dos seniores; e ajudar a encontrar acomodações para os jovens cientistas.

Em troca, o IEA e o IAR terão o benefício de colocar a comunidade universitária em contato com esse seleto grupo de pesquisadores e de direcionar a escolha do trio de sêniores, dos jovens cientistas e do programa de pesquisa conforme as necessidades da região e da universidade que os acolhem.

A EXPERIÊNCIA DO IAR

A estrutura dirigente do IAR é constituída pelo diretor, três vice-diretores, dois pesquisadores em tempo integral (os dois que participaram do evento) e um Comitê Diretivo com quatro membros.

O núcleo acadêmico do instituto conta com 11 cientistas proeminentes, sendo quatro deles ganhadores do Prêmio Nobel: o diretor fundador do Instituto Ryoji Noyori (Química, 2001), Toshihide Maskawa (Física, 2008), Osamu Shinomura (Química, 2008) e Makoto Kobayashi (Física, 2008).

De acordo com Saito, uma das diretrizes orientadoras do Instituto é promover a troca entre gerações, aproximando os pesquisadores mais experientes, como os do núcleo acadêmico, de pesquisadores nos primeiros estágios da carreira. Entre as missões do Instituto, está a de garantir a independência de jovens cientistas e, assim, fomentar a formação de novos quadros para a Universidade.

O químico ressaltou, ainda, que o IAR busca proporcionar um ambiente de pesquisa produtivo, organizando palestras, seminários e encontros informais nos quais pesquisadores de diferentes áreas podem dialogar e discutir temas de interesse comum.

Foto: Sandra Codo/IEA-USP