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América Latina: integração, democracia, conflitos e cultura

por Sandra Codo - publicado 10/12/2005 00:00 - última modificação 11/06/2020 05:57

A edição nº 50 também privilegia as temáticas “Questão Energética”, “Florestan Fernandes”, “Polêmicas”, “Caminhos da Crítica” e “Memórias”.

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Várias faces da história, da atualidade e dos desafios da América Latina compõem o dossiê que a revista Estudos Avançados publica em sua edição nº 55, lançada em dezembro de 2005. De autoria de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, os artigos tratam de processos de integração, transformações políticas, conflitos armados, produção e tráfico de drogas, soberania alimentar, literatura e artes visuais.

INTEGRAÇÃO

Três artigos discutem aspectos da integração da América do Sul: “Brasil, Argentina e América do Sul”, de Paulo Nogueira Batista Jr.; “O Mercosul e a Penhora da Casa”, de Ricardo Seitenfus; e “Rumo para a Construção de uma Agenda para as Políticas Ativas de Mercado de Trabalho no Mercosul”, de Maria Cristina Cacciamali.

Batista Jr. destaca que na maior parte da América do Sul “instalou-se, ou começou a instalar-se, um saudável ceticismo em relação a conselhos externos e supostos consensos econômicos internacionais”. Ele vê um avanço gradual da integração do Mercosul com o resto da América do Sul e países em desenvolvimento de outras regiões e considera a aliança estratégica entre o Brasil e a Argentina o elemento central para os esforços de integração. Seitenfus traça um panorama das dificuldades encontradas pelo Mercosul desde sua criação em 1991 e as questões que agora se colocam diante da perspectiva de constituição da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). Cacciamali analisa as políticas de mercado de trabalho nos países do Mersosul, ressaltando as dificuldades na articulação das ações e das políticas de trabalho com políticas de investimento em geral e de desenvolvimento local.

POLÍTICA

Em “Venezuela: Mudanças Políticas na Era Chávez”, Rafael Duarte Villa apresenta um estudo sobre os fatores da mudança político institucional venezuelana em quatro momentos: durante o auge e a queda do Pacto de Punto Fijo (1958-1989), o início do fenômeno chavista e suas características, a polarização social e política com Chávez e a Venezuela pós-referendo presidencial.

Aníbal Quijano participa com o artigo “Dom Quixote e os Moinhos de Vento na América Latina”, onde discute a formação do subcontinente e seu papel e lugar na configuração da colonialidade do poder como padrão do poder mundialmente dominante e na emergência da Europa Ocidental como centro de controle desse padrão.

As conseqüências que a crise vivida pela Argentina em 2001 e início de 2002 trouxe para o sistema partidário do país são tratadas por Edgardo Mocca no texto “O Futuro Incerto dos Partidos Políticos Argentinos”. Ele analisa por que, ao contrário dos prognósticos, os partidos não implodiram sob os efeitos do múltiplo desmoronamento e reflete sobre as mudanças graduais surgidas na cena política argentina.

O conflito armado na Colômbia envolvendo Estado, guerrilha e paramilitares e sua influência decisiva no incremento da produção e tráfico de drogas são o tema de León Valencia no artigo “Drogas, Conflito e os EUA – A Colômbia no Início do Século”. Valencia defende que o melhor caminho para o fim do conflito armado – e, por conseguinte, da violência, corrupção e outros males causados pelas drogas – é a negociação política e a inclusão social de amplos setores camponeses e urbanos.

Em “Mística Revolucionária: José Carlos Mariátegui e a Religião”, Michel Lövy analisa a visão de mundo romântico-revolucionária do escritor peruano. Lövy destaca que a contribuição mais original e inovadora de Mariátegui à reflexão marxista sobre a religião é sua hipótese sobre a dimensão religiosa do socialismo.

Em “Das Montanhas Mexicanas ao Ciberespaço”, Pedro Ortiz discute as estratégias políticas e de comunicação (inclusive via Internet) do Exército Zapatista de Libertação Nacional, do Estado de Chiapas, México. Ortiz as considera diferenciais importantes em relação a outras experiências guerrilheiras na América Latina.

CULTURA

capa55.jpgNa área cultural, o dossiê traz o artigo “José Maria Arguedas aquém da Literatura”, de Marcos Piason Natali, que discorre sobre a teoria da representação do escritor peruano. De acordo com Natali, o que se vê em Arguedas é a tentativa de ritualização da literatura e a defesa de algo que poderia ser chamado de um direito a não ser literatura.

“Transeuntes” apresenta reproduções de dez obras da exposição realizada no Museu de Arte Contemporânea da USP de setembro a novembro de 2005, acompanhadas de texto de Elza Ajzenberg, curadora da exposição, que teve como referência a obra do artista chileno Nemésio Antunes.

O dossiê conta também com artigo de Jacques Chonchol sobre “A Soberania Alimentar”. O autor enfoca os principais problemas da situação alimentar no mundo, inclusive na América Latina. Segundo ele, devido às mudanças na estrutura do mercado, está ocorrendo uma forte tendência à concentração e internacionalização da produção na América Latina, com o conseqüente desaparecimento da soberania alimentar.

Os outros temas da edição

A edição nº 55 traz ainda cinco blocos temáticos: “Questão Energética”, “Florestan Fernandes”, “Polêmicas”, “Caminhos da Crítica” e “Memórias”.

Ignacy Sachs participa do bloco sobre energia com o texto “Da Civilização do Petróleo a uma Nova Civilização Verde”. Para Sachs, a substituição do petróleo por biocombustíveis deve ser acompanhada de medidas para maior eficiência e conservação energética, promoção do desenvolvimento sustentável e geração de empregos. José Goldemberg e José Roberto Moreira participam com “Política Energética no Brasil”, onde ressaltam a importância do planejamento governamental para o setor, em função dos grandes investimentos necessários e pelo fato de grande parte da produção estar nas mãos da iniciativa privada.

“Florestan Fernandes: Revisitado” é o título do artigo de Bárbara Freitag, que descreve a biografia intelectual do sociólogo em três etapas: “fase científico-acadêmica” (1941-1968), “fase político-revolucionária” (1970-1986) e “fase solitário-militante” (1986-1995). O outro artigo é de autoria de Gabriel Cohn: “Florestan Fernandes e o Radicalismo Plebeu em Sociologia”, no qual ele discute o programa de trabalho desenvolvido por Florestan ao longo de sua carreira.

No bloco “Polêmicas”, Dante Gallian contribui com o artigo “Por detrás do Último Ato da Ciência-Espetáculo: as Células-Tronco Embrionárias”, onde procura discutir o tema à luz de considerações científicas, filosóficas e éticas. Hernan Chaimovich participa com o texto “Biosseguridade”, no qual descreve o estado do debate internacional sobre a questão, inclusive sobre o bioterrorismo, e conclama a USP a um posicionamento público mais enfático sobre o tema. A terceira polêmica é apresentada por Nílson José Machado em “A Maioria sempre Tem Razão – Ou não”, onde examina as circunstâncias em que o recurso à regra da maioria é um procedimento adequado ou não.

“Caminhos da Crítica” reúne os depoimentos dados por Benedito Nunes, Eduardo Portela, Alfredo Bosi e Leyla Perrone-Moisés no III Ciclo de Conferências “Caminhos do Crítico”, organizado pela Academia Brasileira de Letras em maio de 2005. Nunes fala do entrelaçamento em sua carreira da crítica filosófica com a crítica literária. Portela contrasta sua trajetória intelectual com as tendências críticas da segunda metade do século 20. Bosi resume seu itinerário como historiador da literatura brasileira, teórico de poesia e estudioso da formação cultural brasileira. Perrone-Moisés apresenta seu percurso como crítica, iniciado na imprensa paulista, e sua carreira acadêmica no Brasil e no Exterior.

A edição se completa com o bloco “Memórias”. Em “A Voga do Biografismo Nativo”, Walnice Nogueira Galvão reflete sobre a tendência cada vez mais forte de um novo biografismo no País, escrito por brasileiros e sobre brasileiros. Fernando Frochtengarten analisa, em “A Memória Oral no Mundo Contemporâneo”, as condições psicossociais que levam ao decaimento da memória e as circunstâncias que promovem sua revalorização.