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As origens brasileiras do fado

por Sandra Codo - publicado 10/08/2006 00:00 - última modificação 05/02/2014 16:21

O musicólogo Rui Vieira Nery faz no dia 29 de agosto a conferência "O Fado: da Dança Afro-Brasileira à Saudade Portuguesa", no IEA. Ele também proferiu a conferência sobre "A Música na Estratégia Colonial Iluminista: o Morgado de Mateus em São Paulo (1765-1774)". As conferências têm o objetivo de contribuir para o conhecimento do fado e das relações musicais entre Brasil e Portugal.

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O musicólogo português Rui Vieira Nery

No dia 29 de agosto, às 15h, o musicólogo português Rui Vieira Nery faz outra conferência no IEA: "O Fado: da Dança Afro-Brasileira à Saudade Portuguesa". No dia 28 ele falou sobre "A Música na Estratégia Colonial Iluminista: o Morgado de Mateus em São Paulo (1765-1774)".

Nery explica que a história do fado português é um longo processo de trocas interculturais: "No contexto multicultural do Brasil colonial, os ritmos e os padrões de dança africanos combinam-se com as harmonias e as formas européias para gerar uma dança cantada de forte sensualidade. Essa música atravessa o Atlântico e se implanta nos bairros populares do porto de Lisboa".

De acordo com o musicólogo, a interação entre o modelo brasileiro e as tradições locais da canção portuguesa levaram gradualmente ao desaparecimento do elemento de dança e à atenuação do ritmo sincopado original, que deram lugar a uma atmosfera nostálgica e lamentatória, com um forte rubato (alteração do tempo) na declamação do poema. "Quando a aristocracia boêmia e as classes médias urbanas 'redescobriram' o gênero, nas décadas de 1860 e 70, o fado passou a ter lugar no teatro musical ligeiro, começou a ser publicado em edições de folhetos para uso doméstico e acabou por se tornar um dos gêneros favoritos da indústria fonográfica nascente. Ao mesmo tempo, no seu contexto original operário, o fado foi usado como uma canção de luta associada ao arranque do movimento sindical e socialista.”

O evento é uma realização do IEA e do Laboratório de Musicologia (LAM) do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. José Eduardo Martins, coordenador do LAM, será o apresentador do evento. A conferência será seguida do lançamento do volume 11 (2006) da revista "Música", editada pelo departamento.

PERFIL

Professor associado do Departamento de Artes da Universidade de Évora e diretor adjunto do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, Nery foi secretário da Cultura de Portugal e professor do Departamento de Ciências Musicais da Universidade Nova de Lisboa. Iniciou seus estudos musicais na Academia de Música de Santa Cecília e prosseguiu-os no Conservatório Nacional de Lisboa. Licenciou-se em história pela Faculdade de Letras de Lisboa e doutourou-se em musicologia pela Universidade do Texas em Austin, EUA. Os temas de pesquisa de Nery incluem a problemática do Maneirismo e do Barroco na música ibérica e latino-americana e os processos de interpenetração cultural na música portuguesa, do vilancico (gênero de canção do século 16) à modinha e ao fado. Atualmente trabalha num estudo de fundo sobre a vida musical luso-brasileira, na ótica dos viajantes estrangeiros do final do Antigo Regime (1750-1834), e em diversos projetos de edição de música portuguesa dos séculos 16 a 18. É autor de vários estudos sobre história da música portuguesa bem como de largo número de artigos científicos publicados em revistas e obras coletivas especializadas, tanto portuguesas como internacionais. Exerce também intensa atividade como conferencista em Portugal, em outros países da Europa, nos Estados Unidos e no Brasil. É autor de "Para uma História do Fado" (2004) e dos capítulos sobre Portugal, Espanha e América Latina na "History of Baroque Music", de George Buelow (2004).

Assista ao vídeo: O Fado: da Dança Afro-Brasileira à Saudade Portuguesa

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