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Cátedra lança plataforma digital que reúne conhecimento científico da USP sobre favelas e periferias

por Vinícius Lucena - publicado 16/08/2021 14:25 - última modificação 22/10/2021 11:14

Em evento de lançamento da plataforma Conexões USP-Periferias, pesquisadores e parceiros da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência debateram a necessidade da universidade facilitar o acesso da sociedade ao conhecimento produzido.

Logo Conexões USP-Periferias

A plataforma digital Conexões USP-Periferias (vinculada ao site do IEA), foi lançada no dia 2 de agosto, em evento online. Pesquisadores e a sociedade em geral agora têm acesso a uma base de dados multidisciplinar sobre iniciativas da USP relacionadas com periferias e favelas. A implantação da plataforma integra o projeto Democracia, Artes e Saberes Plurais (Dasp) da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência, parceria entre o IEA e o Itaú Cultural.

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Vídeo completo do evento de lançamento da plataforma

O evento foi mediado pelo pesquisador do Dasp Leandro de Oliva Costa Penha e teve a participação de pesquisadores que fizeram parte da criação da plataforma e representantes das instituições parceiras que viabilizaram e apoiaram o projeto. O diretor do IEA, Guilherme Ary Plonski, ressaltou a importância deste lançamento. “Se a USP soubesse tudo o que a USP sabe sobre as periferias, a USP seria muito melhor. No caso, agora é muito melhor graças a esta iniciativa”, comentou.

Participantes do evento de lançamento da plataforma USP-Periferias
Participaram do evento pesquisadores e parceiros da Cátedra Olavo Setubal de Arte, Cultura e Ciência que promoveram a criação da plataforma
Eliana Sousa Silva, ex-titular da Cátedra Olavo Setubal e idealizadora do Dasp, destacou a necessidade da universidade olhar para a diversidade do nosso país e da USP zelar pela sua legitimidade social. “A plataforma tem esse objetivo maior de tornar público um espaço virtual que qualquer pessoa possa acessar e não somente as pessoas que estão dentro da universidade”, afirmou.

Eliana também apontou que a plataforma não se encerra em si mesma, ou seja, há a necessidade de continuar ampliando a base de dados e difundir o site para a sociedade: “Lançamos o que foi possível fazer dentro desse tempo e das possibilidades que nós conseguimos ter, então a gente precisa manter essa plataforma viva e alimentada todos os dias, porque todos os dias a gente tem novas produções acontecendo”.

Divulgação para além do mundo acadêmico

Pesquisadora em pós-doutorado no IEA no período de produção da plataforma, Érica Peçanha foi a responsável pela coordenação do projeto. Ela apresentou o site, suas funções e relatou o processo de desenvolvimento da base, que reúne desde dados sobre a produção acadêmica consolidada em publicações até informações sobre a atuação individual ou coletiva de docentes e estudantes em atividades de ensino, pesquisa e extensão. A perspectiva é que seu conteúdo se torne referência para pesquisadores e formuladores de políticas públicas em comunidades periféricas.

Gráfico dos registros na plataforma Conexões USP-Periferias

Até agora, a plataforma inclui 3.474 registros acadêmicos, sendo: 1.617 teses e dissertações, 622 publicações (livros, capítulos de livro, produção didática ou artística, textos de jornal ou internet, relatórios técnicos), 623 artigos de periódicos acadêmicos, 491 trabalhos de eventos e 121 trabalhos de conclusão de curso de graduação.

O professor da Unifesp e coordenador do Centro de Estudos Periféricos (CEP), Tiaraju Pablo D'Andrea, que explorou o conceito de “sujeitos periféricos” em seu doutorado, ressaltou que é muito importante a USP reunir e agregar toda a produção de conhecimento que a universidade fez sobre os territórios mais empobrecidos e precarizados do nosso país. “Eu acho que a sistematização desse conhecimento ajuda na diminuição dessa invisibilidade que existe acerca das periferias e favelas no debate público nacional. Falo isso porque sempre existiu uma relação conflituosa entre a Universidade de São Paulo e as periferias, por uma série de questões que têm a ver com a estruturação das universidades no nosso país, muito marcada por um elitismo”, afirma.

Para Neca Setubal, presidente do Conselho Consultivo da Fundação Tide Setubal, que apoiou o Dasp, a plataforma dá visibilidade e incentiva projetos de periferias, colocando sujeitos periféricos como protagonistas, e não apenas objetos de estudo. Ela defendeu também a importância da produção de conhecimento para além da universidade, com cursos de extensão e formação de líderes em diferentes setores com um olhar reforçado para os sujeitos periféricos.

“Muitos professores falam ‘não têm autores da periferia e autores negros’, o que não é verdade. Eles foram muito invisibilizados e ainda são”, afirmou. Na opinião de Neca, a plataforma trará visibilidade para uma extensa bibliografia que pode impactar os cursos da USP e muitos outros: “Estamos aprendendo a olhar para esta outra bibliografia que não é apenas europeia e branca”.

Uma ponte digital com a sociedade

A assessora da Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) da USP, Ana Paula Tavares Magalhães, associou a criação da plataforma Conexões USP-Periferias com o compromisso das universidades públicas em promover, por meio da inovação, a universalização do conhecimento e a democratização dos saberes.

“A periferia aqui se encontra contemplada neste projeto como sujeito e como participante da pesquisa e da produção da ciência. Na iniciativa desta plataforma eu identifico dois expedientes que são caros à universidade: a ciência aberta e a ciência cidadã”, afirmou Magalhães. A PRP-USP foi uma das parceiras da Cátedra na realização do Dasp, concedendo bolsas aos alunos da USP que integraram o projeto.

Equipe de criação da plataforma Conexões USP-Periferias
O site foi desenvolvido por alunos da graduação, pesquisadores e colaboradores do IEA.
Luciana Modé, coordenadora do Observatório do Itaú Cultural, disse que o site cumpre o papel fundamental de dar um retorno social da universidade para as comunidades, que são muitas vezes objetos destes estudos e mal conhecem o resultado das pesquisas. “A plataforma só terá sentido se for divulgada e usada pela sociedade que atua nas periferias para elucidar as desigualdades e violações de direitos nesses territórios e principalmente fazer valer os direitos dessas populações a partir de dados e evidências”, finalizou Luciana.

A vice-diretora do IEA Roseli de Deus Lopes destacou a importância do desenvolvimento de tecnologias digitais como um modo de disseminação dos trabalhos que são desenvolvidos dentro da universidade, para que alcancem o público externo. Ela apontou para a futura incorporação de “outros mecanismos de diálogo” para que o IEA possa ampliar o potencial deste projeto.

No encerramento, a coordenadora da plataforma, Érica Peçanha, apresentou e agradeceu a toda a equipe que participou da construção do site.