Debate aborda criatividade para alavancar economia das cidades
Utilizar a inteligência criativa para alavancar a economia das cidades e exercer a cidadania. Sob esse tema, foi realizado ontem no Sesc, em São Carlos (SP), o Agenda São Carlos, evento promovido por uma parceria entre a Oceano Azul, Jornal Tribuna de Araraquara, Rádio Jovem Pan e com apoio da EPTV. O coordenador do IEA Polo São Carlos, Renato Anelli, foi um dos participantes do debate.
Na abertura, que contou com a participação do prefeito Paulo Altomani e do presidente da câmara dos vereadores Lucão Fernandes (PMDB), o diretor de relações institucionais do Grupo EPTV Paulo Brasileiro ressaltou que a discussão é importante, dado o atual cenário do País, pautado pela queda na produção, no consumo e pelo desemprego.
“É preciso discutir alternativas e buscar criatividade até mesmo para auxiliar a administração pública. Sabemos da responsabilidade que temos para buscar qualidade de vida e o desenvolvimento da cidade e da região”, afirmou.
A urbanista e economista Ana Carla Fonseca lembrou em sua palestra as evoluções nos modos de trabalho trazidas pela tecnologia e destacou a valorização do ser humano. “Antes, para um país, ter dinheiro era o que permitia alcançar o protagonismo. Hoje não. A tecnologia é secundária frente à capacidade que as pessoas têm de inventar algo. Por isso, há uma necessidade vital de investir em pessoas”.
Ana Carla trouxe vários exemplos de negócios bem sucedidos desenvolvidos com uma boa dose de criatividade, geralmente a partir de uma situação de crise. Ela lembrou também que a economia não vive desvinculada do território, e que as cidades precisam desenvolver estratégias para atrair talentos capazes de desenvolver negócios criativos.
Segundo a urbanista, não existe um conceito unânime do que é uma cidade criativa, mas uma pesquisa realizada com 18 autores de 13 países por sua empresa, a Garimpo de Soluções, chegou a três características norteadoras que elas devem ter: inovação, ou seja, a capacidade de se reinventar continuamente; investimento em cultura, que gera um resgate da autoestima das pessoas; e geração de conexões, seja com a história, entre áreas ou até mesmo entre grupos que não se falam.
Debatendo soluções
Durante a participação no debate, o coordenador do IEA Polo São Carlos Renato Anelli lembrou que as pessoas não são apenas consumidores, mas também produtores que podem dar algo à cidade, e destacou a importância dos investimentos em inclusão social.
“Esses investimentos não podem ser pensados como algo ‘dado’, mas como algo que permita a essas pessoas serem incluídas na própria cidade e nas cadeias econômicas, e, a partir disso, criar novas possibilidades de desenvolvimento para a cidade”.
Anelli destacou também uma das linhas de estudo do IEA que trabalha a questão da qualidade de vida com profissionais de saúde pública. “Sabe-se, por exemplo, que locais com mais áreas verdes apresentam menor índice de doenças cardiovasculares, portanto os parques reduzem esse risco. Mas quantos parques há em São Carlos? Acredito que essa discussão não deve ser uma questão apenas de plano diretor, mas de práticas que precisam ser suprapartidárias”, disse.
O professor do Departamento de Sociologia da UFSCar Jacob Carlos Lima, outro participante do debate, reforçou a questão de que o próprio espaço de trabalho está mudando, citada pela palestrante, e lembrou que segurança e acesso a internet em locais abertos, como praças e cafés, são fundamentais para essa mudança. “Em Rio Branco (AC), por exemplo, as pessoas sentam-se com seus notebooks nas praças para usar a internet gratuita. Hoje, esse tipo de espaço é considerado inseguro no Brasil”.
Ele lembrou ainda que a cultura sempre foi vista como “perfumaria”, mas agora começa a ser importante. “Há uma percepção de que ela é necessária para falar de desenvolvimento socioeconômico. É ela que vai somar concretamente e possibilitar que a criatividade aflore”.