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Autofagia da USP

por Rafael Borsanelli - publicado 20/08/2014 15:40 - última modificação 21/08/2014 10:52

Massimo Canevacci
Massimo Canevacci é professor visitante do IEA e professor da Università degli Studi di Roma La Sapienza, Itália

Desculpem-me, amigos brasileiros, mas não consigo ficar em silêncio. Sou professor visitante, em parte estrangeiro (e em parte não!) e com muito carinho quero dizer que a USP está devorando a si mesma.

No ano passado: quatro meses de ocupação que destruíram a Reitoria e o IEA. Agora, de novo tudo bloqueado. Reajuste. Des-ajuste. Não existe uma greve assim em nenhum lugar do mundo. Nem em 68 as universidades foram ocupadas dessa maneira.

O que o prof. Vladimir Safatle escreve (a universidade pública deve ser grátis) é um mito que só no Brasil se poderia acreditar. Elaborar um sistema no qual quem tem mais renda paga mais, quem tem menos paga menos, quem não tem o suficiente não paga nada ou recebe uma bolsa (muitas bolsas!) seria democracia não populista. O paradoxo neocolonial brasileiro é que na universidade particular se paga e muito (em geral estudantes de classe média baixa) e na pública o ensino é gratuito.

O novo reitor parece bloqueado. Não percebo uma iniciativa política progressista que queira resolver com diálogo e competência global (glocal) o que está acontecendo. Há um sentimento de impotência e resignação.

E assim, a USP se autodevora e todos (partidos, sindicatos, Reitoria, intelectuais, funcionários) ficam tranquilos, imaginando-se com razão ao olhar para si mesmos.

USP querida, por favor, vomite sua própria carne e abra-se em direção a comidas cosmopolitas!!!

Massimo Canevacci