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Comunicado da Diretoria da FFLCH

por Rafael Borsanelli - publicado 04/09/2014 09:25 - última modificação 04/09/2014 09:24

Nesta data, o prédio da Administração da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas teve seu acesso bloqueado por piquetes organizados por alunos. Procuravam o Diretor e o Representante da Congregação no Conselho Universitário, o qual deve se reunir hoje para discutir e votar o Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PIDV) e a discussão sobre reajuste salarial. Pretendiam que ambos assinassem um documento se comprometendo a votar contra o PIDV e pelo reajuste salarial, condição para a reabertura do prédio.

Venho – como a grande maioria da comunidade acadêmica da FFLCH - assistindo com estupor, indignação e profunda reprovação os métodos cada vez mais violentos e agressivos com que parte dos alunos e funcionários vêm se valendo para impor propósitos que julgam, sem ampla e democrática discussão, legítimos e supostamente representativos da maioria da comunidade.

Ao fazê-lo, têm agredido todos os direitos consagrados em lei – desde a Constituição até os regulamentos e regimentos universitários. Ao fazê-lo, desqualificam a lei e as instituições oficiais como instrumentos, esses sim efetivamente legítimos, de mediação de conflitos e fixação de consensos mínimos a respeito de questões cruciais da vida universitária. Ao fazê-lo, impõem pelo uso arbitrário da força e de sua ameaça, pela humilhação a que submetem docentes, funcionários e alunos, pelos cadeiraços e bloqueios de prédios, o silêncio a maior número. O silêncio diante do medo e da ameaça de ser vítima de agressão ou grave violência institui a impossibilidade de agir e de pensar livremente, a mais odiosa forma de dominação de uma minoria sobre a maioria. O silêncio interrompe a comunicação política entre os atores. A política falece, a violência prospera. Seu sintoma mais radical é a chantagem.

Quando chegamos a este estado, não mais estamos diante de práticas próprias da Universidade, onde devem prevalecer a razão e a busca de entendimentos consentidos, mesmo que sujeitos à permanente revisão. Os métodos violentos se assemelham aos métodos empregados por ditaduras, pouco importase de direita ou de esquerda, por organizações mafiosas e pelo crime organizado. Em lugar do ensino de qualidade, da pesquisa de excelência e da difusão de conhecimento e cultura, a FFLCH e a Universidade por extensão estão sendo tomadas de assalto por alguns que aprenderam seus métodos violentos nas soleiras dos regimes autoritários, onde se elogia o pensamento único e onde se recusa aceitar o pluralismo, as divergências e a defesa das liberdades civis e públicas.

Como Diretor e pesquisador na área de Direitos Humanos, não posso sob qualquer hipótese aceitar a permanência desses métodos no interior de nossa comunidade. Contra eles, há o império da lei. Contra eles, há a força da opinião pública organizada que será igualmente mobilizada para denunciar e reprovar esses métodos de barbárie e de destruição da Universidade e, em especial, da FFLCH, sede de lutas pela redemocratização da sociedade brasileira e pelo retorno ao Estado democrático de direito. Felizmente, também, estou convicto de que falo pela maioria de docentes, alunos e funcionários que, a despeito da divergência de concepções de como deva ser a universidade e nossa vida acadêmica, não compartilham desses métodos e apostam no diálogo e na argumentação.

São Paulo, 02 de setembro de 2014

A DIRETORIA