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Estudos em saúde podem melhorar com inovações na captura de dados

por Vinícius Sayão - publicado 12/07/2017 15:25 - última modificação 12/07/2017 17:20

Em encontro realizado no IEA, Christopher Small, geofísico da Universidade de Columbia, e Marcos Rosa, geógrafo da FFLCH-USP, apresentaram pesquisas sobre a morfologia urbana.

 

Remote Sensing - mesa
Da esquerda para direita: Marcos Rosa, Ligia Barrozo, Reinaldo Machado e Christopher Small durante a conferência

Extensos quarteirões, edifícios altos, áreas verdes. Todos estes são aspectos urbanos comuns no ambiente da cidade que podem afetar a saúde dos moradores de diversas maneiras.

Na conferência Remote Sensing, Urban Morphology and Studies on Health, realizada no dia 2 de junho, no IEA, foram apresentados dados e inovações metodológicas na captura de informações a partir de imagens de satélite em áreas urbanas, os quais  podem contribuir para entender como a morfologia urbana afeta a saúde humana. O encontro foi organizado pelo Programa USP Cidades Globais e pelo Grupo de Estudos Espaço Urbano e Saúde, ambos do IEA.

Ao abordar o crescimento vertical tridimensional, relativo a grandes edifícios, o geofísico Christopher Small, da Universidade de Columbia, EUA, comentou o efeito que essas construções têm na transferência de energia, no fluxo de energia solar que envolve a cidade e como isso pode afetar o microclima. Seu trabalho relaciona a morfologia urbana e a reflexão da energia solar com variações na temperatura do ar.

O pesquisador apresentou imagens de satélite da Grande São Paulo em diferentes datas: 1975, 2000 e 2017. Elas evidenciam o crescimento urbano e destacam as áreas com maior número de construções. As diferentes tonalidades de cores nas imagens representam a quantidade de luz solar refletida na área observada.

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Reflexão solar 1975
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De acordo com Small, o crescimento vertical aumenta a quantidade de sombra e, consequentemente, afeta a temperatura, mesmo que seja uma alteração aparentemente pequena, como expandir uma casa de um andar para dois.

Costuma-se pensar que as áreas com mais vegetação sejam mais frias, mas, comparando a imagem que mostra os reflexos da luz solar com outra que mostra a temperatura, Small evidencia que a área mais fria é a região onde existem mais sombras. “A mesma quantidade de energia solar está indo para os dois lugares, mas se uma sombra for projetada de um prédio alto, ela cobrirá outros prédios. Esses prédios não serão iluminados”, explica o pesquisador.  Segundo Small, isso altera o fluxo de energia, já que a luz solar será absorvida pela lateral do prédio ou entrará no prédio maior, sendo irradiada metros acima da superfície do solo. Assim, uma vez que a superfície do solo não é aquecida o suficiente no período da tarde, ele não é capaz de manter calor na parte da noite.

Estudos como este podem contribuir para as pesquisas relacionadas à saúde. Segundo Ligia Vizeu Barrozo, coordenadora do grupo de estudos e professora do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, já existem dados ligando a temperatura do ar e o microclima a algumas doenças infecciosas na cidade. É o caso das epidemias de dengue, por exemplo, identificadas principalmente nas partes mais quentes da área urbana de São Paulo.

Outros estudos mostram que algumas doenças respiratórias estão associadas às populações mais vulneráveis, como idosos e crianças. “Também existem estudos tentando descobrir como a morfologia urbana pode promover ou inibir a prática de atividades físicas e como isso afeta pessoas com hipertensão, diabetes, doenças cardíacas e obesidade”, completou Barrozo.

Christopher Small
Christopher Small comentou o efeito das construções na temperatura do ar

Small comenta que no ambiente construído, ou seja, o ambiente urbano, há a possibilidade de utilização de modelos de construções que gerem menos impactos para o ambiente como um todo e até favoreçam a saúde humana: “Se levarmos em consideração o efeito das sombras e da iluminação solar, conseguiremos, por exemplo, construir ou reconstruir prédios com dispositivos capazes de capturar a radiação em uma parte do ano e refleti-la em outros meses. Isso pode fazer diferença”, exemplificou.

Inovações metodológicas

Estudos mais detalhados da morfologia urbana estão mais fáceis de serem realizados graças a novas formas de pesquisa. O cloud process methodology – metodologia que utiliza o armazenamento de dados em nuvem – é uma delas.

Marcos Reis Rosa, geógrafo da FFLCH, explica que, na metodologia tradicional é preciso escolher uma área, selecionar os dados das imagens, baixá-las, calibrar corretamente todos os parâmetros, fazer processos digitais e classificar imagem a imagem para, só então, ter o produto final. No sistema de armazenamento em nuvem, os passos são os mesmos, porém, é possível programar todos eles no começo da pesquisa. Logo que se obtém os resultados, já é possível iniciar um novo processo, simplesmente alterando os parâmetros, locais e datas. “O pesquisador pode focar seu tempo em analisar as informações e em buscar novos parâmetros”, explicou Rosa.

Exemplo de plataforma que oferece tais possibilidades é o Google Earth. Utilizando processamento de nuvem, ele possui um catálogo de dados de diversas imagens de satélite, além de ferramentas para analisar todos esses dados.

De acordo com o pesquisador, outras vantagens do processamento em nuvem incluem a facilidade em produzir imagens sem nuvens do céu, durante vários dias em um mesmo horário, e, também, facilidade em produzir índices usando todas as imagens de um espaço de tempo específico ou até mesmo de um ano todo.

As falas de Rosa e Small foram comentadas por Reinaldo Pérez Machado, do Departamento de Geografia FFLCH.

Fotos: Leonor Calasans - IEA/USP. Mapas: Arquivo - Christopher Small