IEA e IRI organizam série de debates sobre o futuro da democracia
Manifestação de 'Indignados' em Palencia, Espanha, em maio de 2011: sintoma do empoderamento dos cidadãos |
Como as grandes tendências mundiais podem impactar a democracia no mundo e no Brasil? A expansão da democracia é hoje mais difícil? Será que as democracias enfrentam novas democracias e esse processo leva à entrada num período de involução política?
Para discutir essas questões, o IEA e o Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP criaram o Laboratório Megatendências Globais e Desafios à Democracia, proposto por Álvaro Vasconcelos, professor colaborador do IRI.
O laboratório organizará três debates, cada um relacionado com uma megatendência. O primeiro deles será dedicado ao tema O Desafio do Nacionalismo Identitário e acontecerá no dia 24 de junho, das 14h30 às 17h30, na Sala de Eventos do IEA, com transmissão ao vivo pela internet.
Os aspectos a serem tratados no debate e seu expositores são:
- Tendências Mundiais e Desafios à Democracia – com Álvaro Vasconcelos, do IRI, e Renato Janine Ribeiro, ministro da Educação (por teleconferência – a confirmar);
- O Desafio do Nacionalismo Identitário na Europa – com Álvaro Vasconcelos, do IRI;
- O Nacionalismo Identitário no Oriente Médio – com Arlene Clemesha, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH);
- Tendências Identitárias no Brasil – com Leandro Karnal, da Unicamp.
Os debatedores confirmados até o momento são: Marcelo Neri, da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV); Martin Grossmann, diretor do IEA; Sylvia Dantas, da Unifesp e do IEA; Geraldo de Campos, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM); e Félix Ramon Ruiz Sánchez, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Os temas dos dois outros debates (em datas a serem definidas) serão: O Desafio do Financiamento das Campanhas Eleitorais e O Desafio da Democracia Participativa.
Megatendências
De acordo com Vasconcelos, os estudos recentes indicam que três megatendências terão impacto sobre o futuro da democracia: a emergência do nacionalismo identitário, a difusão do poder do Estado para instituições não estatais e o empoderamento dos cidadãos.
No que se refere à emergência do nacionalismo identitário, ele ressalta que a globalização da economia e da informação tem sido acompanhada por uma crescente afirmação das identidades locais, religiosas e culturais.
Na opinião do pesquisador, ao contrário da tese do “fim da história”, surgida após a crise das ideologias políticas, emergiu, como alternativa à democracia, o nacionalismo identitário.
Segundo ele, o nacionalismo identitário tem assumido várias formas, “desde o nacional-comunismo sérvio nos Balcãs, nos anos 90, até o populismo anti-imigrantes e islamofóbico da extrema-direita europeia e as várias correntes do extremismo político em nome da religião, como é o caso das formas mais radicais do islamismo político”.
Quanto à difusão do poder do Estado para instituições não estatais, Vasconcelos destaca que isso acontece principalmente em direção às grandes corporações, movimento acompanhado por uma enorme concentração de capital.
“O custo astronômico das campanhas eleitorais leva à corrupção da política, já que os candidatos ficam dependentes do financiamento de uma minoria, a qual detém a maior parte do capital, o que lhe possibilita exercer enorme influência no processo político, naquilo que o movimento ‘Occupy Wall Street’ chama de ‘corporatocracy’, que significa o poder corrosivo de 1% da população sobre o processo democrático.”
A tendência para o empoderamento dos cidadãos contempla vários aspectos, segundo Vasconcelos, entre os quais: a progressiva redução da pobreza e o simultâneo crescimento da classe média; a emancipação das mulheres; os progressos significativos na educação, bem como o desenvolvimento das tecnologias da informação.
“O empoderamento dos cidadãos tira dos partidos o monopólio da política e tira dos meios de comunicação tradicionais o monopólio da informação”, argumenta o pesquisador.
A consequência disso é “a ampliação da liberdade de expressão acompanhada pela exigência de uma democracia mais participativa e crítica – a que o movimento de indignados na Espanha chama de ‘Partidocracia’ –, sendo certo, porém, que a crescente crítica à democracia também cria condições propícias ao crescimento do populismo”.
Democracia brasileira
Identificadas por relatórios europeus e norte-americanos, as três tendências a serem discutidas no laboratório têm um significativo impacto no futuro da democracia brasileira, segundo Vasconcelos.
“Isso foi confirmado em trabalho desenvolvido por um grupo de pesquisa do IRI e discutido na conferência internacional Brazil: Surfing Global Trends Citizens and the Future of Governance in a Polycentric World, organizada pelo IRI e o Global Governance Group (GG10) em abril”, acrescentou o pesquisador.
O Desafio do Nacionalismo Identitário
1º debate do Laboratório Megatendências Globais e Desafios à Democracia
24 de junho, às 14h30
Sala de Eventos do IEA, rua Praça do Relógio, 109, bloco K, 5º andar, Cidade Universitária, São Paulo (localização)
Evento gratuito e aberto ao público, sem necessidade de inscrição — Transmissão ao vivo pela internet
Informações: com Cláudia Regina Tavares (clauregi@usp.br), telefone (11) 3091-1688, ou Sandra Sedini (sedini@usp.br), telefone (11) 3091-1678
Ficha do evento: www.iea.usp.br/eventos/o-desafio-do-nacionalismo-identitario
Foto: Manu Torío