Você está aqui: Página Inicial / NOTÍCIAS / O papel dos IEAs na universidade contemporânea, segundo Peter Goddard

O papel dos IEAs na universidade contemporânea, segundo Peter Goddard

por Mauro Bellesa - publicado 14/04/2016 11:35 - última modificação 26/04/2016 12:04

Peter Goddard, ex-diretor do Institute for Advanced Study, em Princeton, EUA, fez a conferência "O Desenvolvimento dos Institutos de Estudos Avançados e seu Papel na Universidade Contemporânea" no dia 11 de março, na Fase Nagoya da Intercontinental Academia.
Peter Goddard - Fase Nagoya da Intecontinental Academia
Peter Goddard, ex-diretor do Institute for Advanced Study em Princeton

As motivações originais para a criação dos IEAs podem ser identificadas desde o final do século 19, quando iniciaram as discussões sobre a função das universidades, se deveriam se dedicar prioritariamente à pesquisa e ao avanço do conhecimento ou se deveriam ser instituições voltadas principalmente à difusão do conhecimento,  por meio do ensino e do desenvolvimento de aplicações tecnológicas.

A primeira proposta em defesa de uma instituição de pesquisa diferenciada, nos moldes do que seria o Institute for Advanced Study (IAS) em Princeton, EUA, apareceu há exatos cem anos, no livro “The Higher Learning in America”, do sociólogo e economista Thorstein Veblen (1857-1929), segundo Peter Goddard, ex-diretor do IAS. Ele fez a conferência O Desenvolvimento dos Institutos de Estudos Avançados e seu Papel na Universidade Contemporânea na Fase Nagoya da Intercontinental Academia,  no dia 11 de março.

O subtítulo do livro de Verblen é  “A Memorandum on the Conduct of Universities by Business Men”, numa referência à substituição de clérigos por homens de negócios na governança das universidades americanas durante o século 19. De acordo com Goddard, Veblen considerava que essa mudança tinha levado à introdução de sistemas de padronização, prestação de contas e remuneração por produção, com a substituição dos ideais acadêmicos por uma "rotina perfunctória de mediocridade".

Relacionado

O FUTURO DAS UNIVERSIDADES

Seminário da Fase São Paulo da Intercontinental Academia — 24 de abril de 2015

Notícia

Multimídia


Artigo


Leia mais notícias sobre a Intercontinental Academia

O primeiro IEA

Coube ao educador Abraham Flexner (1866-1959), um dos responsáveis pela reforma no ensino de medicina e da educação superior em geral nos EUA, ser o proponente de criação do IAS.

No final de 1929, relatou Goddard, Flexner foi procurado por Louis e Caroline Bamberger, que tinham feito fortuna com lojas de departamento e queriam orientação para a criação de uma faculdade de medicina. Em poucos meses eles foram convencidos pelo educador a patrocinar a criação do IAS, do qual ele se tornou o diretor-fundador.

Goddard comentou que no ensaio The Usefulness of Useless Knowledge Flexner defendeu que os avanços nos conhecimentos de maior valor prático não provêm de pesquisas norteadas por objetivos, mas sim daquelas motivadas pela curiosidade intelectual. O melhor exemplo dessa postura não poderia ser outro a não ser o primeiro contratado de Flexner, em 1932: Albert Einstein.

Em 1958, Robert Oppenheimer (1904-1967), então diretor do IAS, atribuiu o surgimento de novos IEAs aos impactos da crescente complexidade da pesquisa e da ampliação do ensino superior, pois isso restringia as oportunidades para que os acadêmicos se dedicassem a questionamentos intelectuais intensos, relatou Goddard.

Atualidade

Para Goddard, embora consistam em relativa pequena parte do mundo acadêmico, os IEAs podem oferecer mais em relação aos desafios enfrentados pelas universidades do que seu tamanho poderia sugerir.

Aos impactos mencionados por Oppenheimer soma-se a cultura contemporânea de auditagem, gerencialismo e sistemas de avaliação e análise institucional. Esse quadro tem aumentado a necessidade de ambientes de pesquisa onde a obrigação de produção de resultados tangíveis em curto prazo não interfira na atividade de pesquisa fundamental, afirmou Goddard.

Dentro desse contexto, IEAs têm sido criados por universidades “como santuários para acadêmicos eminentes, para proporcionar-lhes descanso das demandas dos exercícios de avaliação, e como marcos de padrão internacional", servindo como chancelas para as aspirações das universidades em obter tal visibilidade.

Outro aspecto relevante destacado por Goddard é o de os IEAs promoverem a intersecção de temas de pesquisa, o que lhes permite, “ainda que modestamente, estabelecer cenários para a superação das fronteiras entre as disciplinas, institucionalizadas dentro das estruturas administrativas e de poder das universidades desde o século 19 e agora frequentemente vistas como inibidoras do progresso cientifico”.

Goddard aponta quatro razões fundamentais para o surgimento dos IEAs da atualidade:

  • propiciam oportunidades para os acadêmicos realizarem pesquisa comandadas pela curiosidade e distantes das intensas pressões da universidade moderna;
  • são internacionais num mundo acadêmico cada vez mais internacional;
  • são altamente bem sucedidos em termos de produção da pesquisa e de seu impacto no desenvolvimento de longo prazo dos pesquisadores que neles atuam.
  • são uma referência das aspirações institucionais e de status das universidades.

De acordo com Goddard, as características típicas de um IEA são ter foco na pesquisa e não no ensino, atuar nas intersecções das disciplinas e contar com programa para pesquisadores visitantes. No entanto, eles diferem entre si de várias maneiras, principalmente no que se refere a:

  • quantidade de temas estudados
  • grau de independência constitucional (governança)
  • grau de independência financeira
  • existência ou não de quadro de pesquisadores permanentes
  • existência ou não de temáticas ou programas específicos

Foto: IAR/Universidade de Nagoya