Jeffrey Lesser, novo professor visitante, estudará hábitos culturais e saúde na cidade de São Paulo
Trajetória vinculada ao BrasilHá muito tempo o historiador Jeffrey Lesser se dedica à história brasileira e acompanha a vida no país. Um exemplo desse envolvimento é o artigo que ele escreveu para o site da CNN imediatamente após as manifestações contra o governo Dilma no dia 16 de agosto. Atualmente Lesser é "Samuel Candler Dobbs" Professor of Brazilian Studies, diretor da Iniciativa Brasil e chefe do Departamento de História da Emory University, em Atlanta, Estados Unidos. Ele obteve seu Ph.D. em história na New York University em 1989, tendo como orientador o brasilianista Warren Dean (1932-1994), que foi conferencista no IEA no final dos anos 80. Lesser tornou-se mestre no Programa de Civilização Americana da Brown University, onde se graduou em ciência política. Lesser já lecionou na Universidade de Tel Aviv, em Israel; USP, Unicamp e UFRJ, no Brasil; Connecticut College, Occidental College e Brown University, nos Estados Unidos. O livro mais recente dele é "Imigração, Etnicidade e Identidade Nacional no Brasil", com lançamento ainda este ano pela Editora Unesp (a versão original em inglês saiu pela Cambridge University Press em 2013). Alguns de seus outros livros são: "O Brasil e a Questão Judaica" (1995), "Negociando a Identidade Nacional: Imigrantes, Minorias e a Luta pela Etnicidade no Brasil" (2001) e "Uma Diáspora Descontente: Os Nipo-Brasileiros e os Significados da Militância Étnica, 1960-1980" (2008). |
Contribuir com as políticas de saúde pública de combate a doenças infecciosas por meio da análise de dados históricos e epidemiológicos. Assim pode ser resumido o projeto de pesquisa que o novo professor visitante do IEA, o historiador Jeffrey Lesser, da Emory University, Estados Unidos, desenvolverá a partir de 1º de outubro no Instituto, onde estará vinculado ao Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais.
Intitulado "Metrópole, Migração e Mosquitos: Historiando os Resultados em Saúde em São Paulo", o projeto terá Lesser e o ecoepidemiologista Uriel Kitron como pesquisadores principais. Kitron trabalhará a partir da Emory University, da qual também é professor.
Segundo Lesser, o projeto fornecerá meios alternativos para o entendimento e superação dos obstáculos culturais na atenção à saúde. “Usaremos uma nova abordagem integrada de métodos das humanidades (análise histórica) e das ciências naturais e sociais (ecologia, epidemiologia) para responder a questões sobre imigração, doenças transmitidas por mosquitos e resultados em saúde”, explica o historiador.
As doenças escolhidas para o estudo são a febre amarela, a dengue e a chikungunya, as três causadas por vírus que possuem como vetores os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albapictus. Lesser considera o projeto de especial relevância no momento pelo fato de estar prevista a chegada da chikungunya na cidade este ano.
Eles pesquisarão duas regiões da cidade: Luz/Bom Retiro (70 mil habitantes) e Liberdade/Cambuci (90 mil habitantes). Segundo Lesser, essas áreas “historicamente têm apresentado diferenças na incidência de doenças transmitidas por mosquitos e na resposta a elas”.
Essas regiões foram escolhidas porque nelas vivem, em áreas vizinhas, comunidades de imigrantes brasileiros e de imigrantes estrangeiros. “Nas duas regiões há uma área considerada pela população em geral como de 'estrangeiros' e ascendente socialmente e outra considerada de 'brasileiros' e estagnada socialmente”, explica Lesser
Nas duas regiões, serão examinadas a ecologia das doenças, os padrões demográficos e discursos sanitários nos casos da febre amarela (século 19), dengue (século 20) e chikungunya (século 21), com metodologias interdisciplinares derivadas da etnografia epidemiológica de espaços habitados e abordagens baseadas em um sistema de informações histórico-geográficas, que permite armazenar e analisar dados geográficos do passado e simular as alterações ao longo do tempo.