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Livro analisa as tensões e interações interculturais

por Mauro Bellesa - publicado 12/07/2012 00:00 - última modificação 18/02/2016 16:21

"Diálogos Interculturais: Reflexões Interdisciplinares e Intervenções Psicossociais" foi produzido pelo grupo de pesquisa do IEA a partir de dois seminários.

No contexto de globalização crescente, em que o Brasil figura entre as economias que mais crescem no mundo, o perfil das migrações envolvendo o país vem mudando. Se antes o movimento migratório caracterizava-se pela saída de pessoas, atualmente nota-se um aumento do número de estrangeiros entrando e de brasileiros retornando. Em sintonia com esse novo cenário, marcado pelas tensões que emergem do contato entre culturas, o Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA lança o livro "Diálogos Interculturais: Reflexões Interdisciplinares e Intervenções Psicossociais", editado pelo Instituto e já disponível para download gratuito.

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Organizada por Sylvia Duarte Dantas, coordenadora do grupo, a obra consiste numa coletânea de 17 textos divididos em três partes, precedidos de prefácio escrito pela psicóloga Bader Sawaia, professora titular da PUC-SP e ex-conselheira do IEA, e de introdução de Dantas. A primeira parte compila debates travados no seminário Diálogos Interculturais: O Que Somos e o Que Revelamos, realizado em novembro de 2010 pelo grupo, com apoio do Curso de Serviço Social da Unifesp. São reflexões teóricas de pesquisadores que vêm investigando as interações entre culturas a partir de diferentes disciplinas, como literatura, sociologia, psicologia e antropologia.

A segunda parte reúne estudos apresentados no seminário Orientação Intercultural: Novas Reflexões e Campos de Intervenção, que aconteceu em junho de 2007 como parte do projeto Intervenção Psicossocial no Processo de Inserção Cultural, desenvolvido no Instituto de Psicologia (IP) da USP por Dantas e pelo professor Geraldo José de Paiva. Os textos, produzidos por pesquisadores que integraram a equipe do projeto, exploram casos de orientação e atendimento de pessoas confrontadas com novas culturas.

Dois textos independentes dos seminários compõem a terceira parte da obra. Eles ilustram a interculturalidade através do relato da experiência de imigrantes no Brasil. Trata-se do depoimento de um pesquisador coreano que conta sua vivência pessoal como estrangeiro vivendo no país desde os oito anos; e de um artigo com os resultados de uma pesquisa de mestrado sobre a realidade de imigrantes muçulmanas na cidade de São Paulo.

INTERDISCIPLINARIDADE

Sylvia Dantas - Perfil

Segundo Dantas, o fio condutor de todo o livro é o contato entre culturas visto a partir de uma perspectiva interdisciplinar: "A coletânea de textos expressa a complexidade dessa questão, que não pode ser abordada com base em uma só disciplina. Ao olhar a interculturalidade através das lentes de uma única disciplina corre-se o risco de reduzir e engessar algo que é complexo e paradoxal, pois o contato entre culturas pode ser tanto enriquecedor, por desnaturalizar o que é tido como dado ao expor outras formas de ser, agir e pensar, quanto endurecedor, já que também resulta em manifestações de intolerância, dominação, imposição e violência".

GLOBALIZAÇÃO

A pesquisadora também destaca que a temática do livro é estratégica no contexto atual de globalização e, particularmente, de crise econômica mundial, que vem provocando alterações nos movimentos migratórios, como as que se observam no Brasil, e suscitando novas formas de interação entre as culturas. "É preciso compreender esses fenômenos para então pensar políticas que promovam relações mais igualitárias e humanizadas com os migrantes", alerta.

Na opinião da organizadora do livro, o que ocorre nesse momento de globalização é a desumanização de grupos e o acirramento de fronteiras: "Em qualquer lugar, o migrante sempre é visto como uma ameaça em uma situação de crise, e o Brasil não está isento disso. Nosso histórico de colonização e escravidão deixou marcas profundas, sobretudo na forma de uma hierarquização das etnias e nações. Imigrantes vindos de países do norte e do sul recebem tratamentos diferentes dos brasileiros. Nós sofríamos um preconceito que agora se reproduz aqui, com pessoas vindas da África negra ou do Haiti, por exemplo".

Foto: Mauro Bellesa/IEA-USP

Assista aos vídeos na Midiateca do IEA.