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Novo livro de Teixeira Coelho analisa os impactos das tecnologias digitais na arte e na cultura

por Mauro Bellesa - publicado 22/10/2021 11:40 - última modificação 25/10/2021 10:51

A editora Iluminuras lançou no final de setembro o novo livro sobre eCultura de Teixeira Coelho, professor emérito da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e professor sênior do IEA.

Capa do livro "Signs and Wonders"

A editora Iluminuras lançou no final de setembro o novo livro sobre eCultura de Teixeira Coelho, professor emérito da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e professor sênior do IEA, onde coordena o Grupo de Estudos em Culturas e Humanidades Computacionais.

Publicada inicialmente em inglês e formato digital, a obra se chama "Signs and Wonder: Art & Culture in the Digital Age" e contém um ensaio inédito e três publicados anteriormente e agora revistos e ampliados. O ebook está à venda na Amazon, Google Play e Rakuten Kobo [no site da Iluminuras é possível fazer reserva de exemplar impresso e em português, edição que será lançada em breve] .

A primeira parte do título é uma referência à frase de Jesus no "Evangelho segundo João" (4:48): "Se não virdes sinais e maravilhas, não crereis". Teixeira Coelho diz que ao citar essa frase não faz uma advertência premonitória, mas sim um convite para que as pessoas observem o que está acontecendo nesta era digital, prestem atenção no que é problemático e também "fiquem maravilhadas" com as realizações.

No entanto, não está nesse convite ao maravilhamento a chave da interpretação do livro, segundo Teixeira Coelho, mas sim em sua epígrafe, extraída de texto do poeta francês Paul Valéry (1871-1945) no livro "Maus Pensamentos e Outros" (1942): "A existência da humanidade não se justifica a não ser por alguns resultados antinaturais que ela atingiu".

Mas essa concepção teleológica da humanidade apontada por Valéry não dá necessariamente margem para otimismo. Para Teixeira Coelho, essa não é uma questão relevante, pois prefere se identificar com a formulação de Nietzsche, na qual otimismo e pessimismo são faces da mesma moeda.

O ensaio "The Expansion of the Digital Domain", que abre o livro, trata da utilização de games no Centro Memorial do Holocausto de Babi Yar, em Kiev, Ucrânia, numa tentativa de atrair o público, e as polêmicas que isso tem gerado. No final de setembro de 1941, Babi Yar foi local de um dos maiores massacres cometidos pelos nazistas. Em dois dias, mais de 32 mil pessoas foram fuziladas, a maior parte judeus, mas também ciganos e prisioneiros de guerra ucranianos e russos.

O debate sobre as implicações éticas das novas tecnologias digitais também está no texto seguinte, "Artificial Intelligence, Artificial Ethics", dedicado à discussão sobre aspectos éticos suscitados pelo avanço na utilização de algoritmos e outros recursos da inteligência artificial, como no caso dos automóveis autônomos.

Em "Divine Madness and Machine", Teixeira Coelho discute como a tecnologia muda a arte e a cultura em termos gerais e as consequências dessas transformações para a atividade artística e para a vida privada e social. Uma abordagem específica está no quarto ensaio, "Iconic Images Are Fading Away", que trata da transição da "captura da realidade" por meio de imagens analógicas para imagens resultantes de operações matemáticas.

A obra termina com um posfácio motivado por um vídeo assistido por Teixeira Coelho quando o livro já estava pronto para ser publicado. Trata-se de um filme promocional sobre o algoritmo Generative Pre-Trained Transformer-3 (GPT-3) desenvolvido pela Open AI, um dos ramos do grupo do empresário Elon Musk.

Com sua capacidade de 175 bilhões de parâmetros operacionais, o GPT-3 pertence à classe dos algoritmos genéticos e pode significar uma alteração radical na maneira como os seres humanos interagem com ferramentas computacionais, pois permite a comunicação direta com a máquina via linguagem natural (até o momento, apenas em inglês).

Segundo Teixeira Coelho, o GPT-3 permite vislumbrar uma série de aplicações futuras para algoritmos desse tipo, como o diagnóstico de doenças e prescrição de medicamentos, a comparação de um fato criminoso com todos do mesmo tipo existentes, com os argumentos de acusação e defesa e até a formulação da sentença, ou ainda produzir uma pintura que Picasso não pintou mas poderia ter pintado.

No entanto, ele ressalta que o GPT-3 ainda apresenta muitos erros ao escrever programas, com pessoas tendo que acrescentar ou retirar uma linha ou outra da programação. Sua capacidade de "conversação" também diminui depois de algumas linhas, pois ele "não se lembra" do que foi dito minutos ou segundos antes."

Além disso, até o momento "nenhum algoritmo consegue representar as emoções e sentimentos de uma pessoa". Assim, mesmo que possa produzir obras que Picasso ou Edward Munch poderiam ter feito, faltará à máquina a intenção expressiva do artista, uma distinção fundamental explorada por Teixeira Coelho no posfácio.