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O estudo dos fundamentos da análise econômica

por Mauro Bellesa - publicado 16/06/2005 00:00 - última modificação 01/04/2013 16:05

Projeto será coordenado pelo economista Marcelo Tsuji e terá a participação de lógicos e consultores.

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Existem barreiras metodológicas que impeçam a economia neoclássica de fornecer previsões com maior grau de acerto? Investigar essa questão será o trabalho de equipe coordenada pelo economista Marcelo Tsuji e com a participação dos lógicos Newton da Costa e Francisco Antonio Doria e vários consultores.

A grande característica da evolução da economia no século 20 foi sua transformação metodológica, com a crescente utilização de métodos e conceitos matemáticos mais sofisticados. De acordo com Tsuji, isso colaborou com à criação e consolidação da principal linha de pesquisa em economia, "marcada pelo uso de modelos matemáticos na formulação de teorias e hipóteses e de testes empíricos de base estatística para as suas possíveis validações".

O economista ressalva, porém, que ao se observar de forma mais cautelosa, a partir de critérios amplos aplicados a outras ciências (física e biologia, por exemplo), esse sucesso da matematização da economia não parece ser tão claro: "Por exemplo, no quesito das previsões fornecidas pela economia neoclássica, os resultados foram inquestionavelmente muito reduzidos".

Tsuji explica que os economistas neoclássicos reconhecem tal limitação e argumentam que isso se deve ao pouco tempo em que a economia trabalha com os novos métodos. "Com o aperfeiçoamento dos modelos e melhora na qualidade dos dados coletados sobre as mais diversas atividades econômicas, as previsões tenderiam inevitavelmente a ser aperfeiçoadas".

O que a equipe do projeto propõe é um estudo dos fundamentos das diversas teorias econômicas fornecidas pela economia neoclássica. Isso será feito com o emprego de métodos matemáticos mais gerais do que aqueles comumente conhecidos ou utilizados por uma grande parte dos economistas atuais. Caso o uso de tais métodos possibilite melhores previsões, ficará clara a existência de algo intrinsecamente limitante no tipo de matemática atualmente empregado pela economia neoclássica.

Como exemplos de técnicas matemáticas modernas praticamente desconhecidos pelos economistas e que podem ajudar a esclarecer a questão, Tsuji cita:

. Teoria da Recursão e Complexidade - instrumento para a compreensão se as teorias podem ser computáveis ou não (teoricamente ou na prática);

. Lógicas Não-Clássicas como Fundamento de Teorias da Decisão Econômica - é possível que as pessoas tomem decisões econômicas que violem as leis da lógica clássica, como alguns experimentos de psicologia experimental parecem indicar; em tais condições, a economia neoclássica seria impotente para descrever tal fenômeno, devido à logica (clássica) subjacente à sua matemática de sustentação;

. Teorias Matemáticas Construtivas - com elas, poderiam ser verificadas quais teorias econômicas seriam passíveis de implementação na prática por seres humanos e quais seriam meramente abstrações idealizadas, que nunca poderiam ser concretizadas;

. Topologia Algébrica - em cálculo de variações, a utilização de mais que duas variáveis requer o uso de técnicas extremamente avançadas de topologia algébrica, que estão fora do alcance da matemática atualmente ensinada aos economistas; contudo, parece ser claro que o uso de mais variáveis é extremamente necessário para que o estudo dos problemas econômicos tenha maior detalhamento.

O pesquisador destaca que esse tipo de estudo pode ter enorme relevância do ponto de vista social, "pois se autoridades monetárias e fiscais utilizam teorias inadequadas na formulação de políticas econômicas (com baixo poder de previsão), podem estar infligindo sacrifícios desnecessários à população".

Já aceitaram participar como consultores do grupo: Antonio Delfim Netto, professor emérito da FEA/USP e presidente do Conselho de Economia da Fiesp; Vella Velupillai, da Universidade de Galway (Irlanda) e da Universidade de Trento (Itália); John Casti, do Instituto Santa Fé (EUA) e da Universidade de Tecnologia de Viena (Áustria); Drausio Giacomelli, vice-presidente do JP Morgan Chase Bank (EUA); Paulo Vellinho, empresário, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social; e Raul Velloso, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.