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Revista 'Estudos Avançados' chega à 100ª edição e dá continuidade a dossiê sobre pandemia

por Mauro Bellesa - publicado 11/11/2020 20:55 - última modificação 18/01/2021 15:11

Capa de 'Estudos Avançados' 100

Os impactos da pandemia de Covid-19 na economia, mercado de trabalho, sistema educacional, meio ambiente, sistema financeiro, pesquisa com fármacos e agronegócio são analisados no dossiê do 100º número da revista "Estudos Avançados", cuja edição digital já está disponível gratuitamente na plataforma de periódicos científicos SciELO.

O editor da publicação, Sérgio Adorno, destaca que a revista chega à sua 100ª edição sem nenhuma interrupção na periodicidade quadrimestral e mantendo a linha editorial definida desde os primeiros números, que focaliza “nossa contemporaneidade e os desafios que o presente propõe para a consolidação de sociedades mais justas e com qualidade de vida”.

Essa sintonia com os problemas do presente revela-se com a continuidade do dossiê sobre a Covid-19, iniciado no número anterior. Sob o título "Impactos da Pandemia", o conjunto de textos incluí 12 artigos, dos quais cinco são resultantes de ciclo de encontros virtuais sobre os cenários possíveis depois da pandemia organizado pelo IEA, Pró-Reitoria de Pesquisa da USP e Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp).

De acordo com Adorno, as características que se destacam nos artigos são a densidade das perspectivas adotadas, sua atualidade, o embasamento em sólida bibliografia atualizada e em fontes documentais de referência e a escolha de questões fundamentais presentes no debate público, incluindo perguntas correntes no senso comum e nas conversas cotidianas.

Um dos núcleos do dossiê engloba discussões sobre medicamentos e tratamento, saúde, biodiversidade, mudanças climáticas e políticas de proteção da Amazônia. "Há também importantes reflexões sobre os impactos econômicos, sobretudo nas cadeias produtivas de commodities, alimentos, bens e serviços, e nas cadeias produtivas de valor", ressalta o editor. "Em termos sociais, sobressaem reflexões sobre os graves impactos no mercado de trabalho, assim como na educação, em todos os graus.”

A edição traz também textos comemorativos do centenário de nascimento do sociólogo Florestan Fernandes e do economista Celso Furtado e dos 250 anos de nascimento de Beethoven, além de artigos sobre 100 anos da morte de Max Weber.

Adorno destaca como símbolos da número a publicação de um diálogo entre Celso Furtado e Fernand Braudel e o áudio da Sonata nº 23 em Fá Menor, Op. 57, “Appassionata, de Beethoven, interpretada pelo pianista Eduardo Monteiro [vejo os links para os arquivo de áudio no final do artigo de Monteiro e Mônica Lucas].

O número termina com um ensaio a respeito da origem e constituição dos institutos de estudos avançados existentes no mundo e seu papel na produção do conhecimento de ponta.

A 100ª edição é dedicada ao editor anterior da publicação, Alfredo Bosi, que “assegurou por três décadas (de janeiro de 1989 a agosto de 2019) a preservação deste patrimônio da USP e do IEA que é a revista ‘Estudos Avançados’”, nas palavras de Adorno.

Dossiê

Medicamentos

De acordo com os Leonardo Ferreira e Adriano Andricopulo, ambos do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP e do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), há cerca de 2 mil registros de ensaios clínicos para investigação de medicamentos aprovados e outros candidatos para a Covid-19, incluindo moléculas pequenas e medicamentos biológicos, sem contar as vacinas.

No entanto, “o reposicionamento de fármacos não levou a qualquer novo tratamento antiviral contra a Covid-19”.  Segundo eles, o cenário mais realista compreende o desenvolvimento de antivirais específicos contra o Sars-CoV-2 para o tratamento seguro e eficaz contra a doença.

Educação

Os impactos na educação são analisados em artigo de Bernardete Angelina Gatti, integrante do Comitê Consultivo da Cátedra Educação Básica (parceria do IEA e do Itaú Social) e  pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas. Bernardete discute garantia possível de aprendizagem dos alunos durante a pandemia, a diversidade das realidades sociais, a situação dos professores e gestores e aspectos curriculares, relacionais e socioemocionais relacionados com o isolamento e o retorno às escolas. Ela também pondera sobre as possibilidades de mudanças na oferta educacional nas redes de ensino básico.

Cláudia Costin, conselheira do IEA e diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getúlio Vargas, trata das tendências em educação básica no Brasil diante das condicionantes impostas pela pandemia, dos compromissos que o Brasil assumiu em 2015 em relação à sustentabilidade e, em especial, ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4 (proporcionar educação de qualidade) e da chamada Revolução 4.0, tende a eliminar de forma acelerada postos de trabalho.

Ambiente

Para o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP, o mundo e a humanidade enfrentam três crises importantes: 1) a da saúde, intensificada pela pandemia de Covid-19; 2) a de perda de biodiversidade; e 3) a emergência climática. Ele ressalta que as três crises estão ligadas, apesar de diferenças importantes, “mas todas provocam impactos sociais e econômicos fortes e afetam o planeta globalmente”.

Para ele, a pandemia revelou as deficiências na governança global e a crise climática “tem potencial para danos socioeconômicos muito fortes, e seus efeitos já são facilmente visíveis”. Quanto à perda de biodiversidade, ele alerta para o risco à segurança alimentar e ao equilíbrio do sistema terrestre. “A Amazônia, por exemplo, contém milhares de vírus em sua fauna e flora, e a continuar o processo desenfreado de sua ocupação, novos vírus similares ao Sars-CoV-2 possivelmente entrarão em contato com nossa sociedade”.

É preciso reconhecer a ligação entre biodiversidade, serviços ecossistêmicos e a saúde humana e dessa forma reunir esforços de forma a evitar o surgimento de novas pandemias, alertam Carlos Alfredo Joly, do Instituto de Biologia da Unicamp, e Helder Lima de Queiroz, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

Em consonância com o alerta de Artaxo, Joly e Queiroz destacam que países como o Brasil, “com altos graus de vulnerabilidade social e degradação ambiental, possuem grande probabilidade de que novos patógenos que vivem em espécies silvestres pulem para os hospedeiros humanos”.

Economia

Para Simão Davi Silber, professor sênior da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, a pandemia demonstrou como “choques exógenos adversos no sistema econômico” desorganizam a economia e criam um descompasso entre o mundo econômico e das possíveis ações do Estado. Em sua opinião, essas ações não conseguem atingir todos os agentes econômicos para preservá-los da crise e o resultado é “destruição de empresas, de capital físico e humano” que não serão mais recuperados.

Para Camila Villard Duran, da Faculdade de Direito (FD) da USP, no entanto, o mercado financeiro internacional encontrou um meio de se sustentar durante a pandemia graças à consolidação de um modelo de cooperação monetária global. Segundo a pesquisadora, a rede hierárquica de operações chamadas de swaps cambiais, com o Federal Reserve (FED), o banco central americano, em seu topo, “foi o arranjo jurídico estruturado para sustentar o funcionamento do mercado financeiro global e de sua moeda por excelência, o eurodólar”.

A reconfiguração das cadeias globais de valor é o tema do texto de Afonso Fleury, da Escola Politécnica (EP) da USP, e Maria Tereza Leme Fleury, da FEA-USP e da Fundação Getúlio Vargas. Ambos analisam a evolução dessas cadeias – orquestradas por multinacionais com suporte de tecnologias digitais –, como governos e empresas estão reagindo perante as dificuldades impostas pela pandemia e como as cadeias serão reconfiguradas.

Trabalho

Se o mercado financeiro encontrou um meio de se preservar, o mesmo não ocorre com o mercado de trabalho. De acordo com a socióloga Maria Aparecida Bridi, da Universidade Federal do Paraná, a crise sanitária causada pelo Sars-CoV-2 “potencializou a fragilidade do mercado de trabalho, que vinha em franco processo de deterioração nos últimos quatro anos no Brasil”.

Em seu artigo, ela discute os vários aspectos do cenário do mercado de trabalho no contexto da crise econômica pré-pandemia, os indicadores desse mercado durante a pandemia e “os desafios impostos ao sindicalismo decorrentes da intensificação da agenda neoliberal nos últimos quatro anos”.

Agronegócio

O alcance e a profundidade da crise decorrente da pandemia sobre a agricultura e o agronegócio no Brasil são discutidos no artigo escrito por Sergio Schneider, Abel Cassol, Alex Leonardi e Marisson Marinho. Eles também analisam os efeitos da pandemia sobre a agricultura familiar, o setor de processamento de carnes e a distribuição de alimentos.

Se por um lado apontam a possibilidade de maior inserção internacional do agronegócio brasileiro, por outro identificam problemas potenciais no abastecimento interno e eventuais aumentos de preços, bem como “inflação de alimentos, que decorre tanto do aumento da demanda como dos custos de produção em razão da desvalorização cambial, que representa estímulo à exportação”.

A alimentação sob o impacto do Sars-CoV-2 também é o tema do artigo de outros três pesquisadores, Bernardete de Melo Franco, Mariza Landgraf e Uelinton Manoel Pinto. O artigo dedica-se a responder se os alimentos e suas embalagens podem causar a Covid-19, se a indústria e o setor de alimentação podem são responsáveis pela disseminação do vírus e sobre quais são as medidas preventivas que os consumidores podem adotar.

Versão impressa: os exemplares da edição 100 de "Estudos Avançados" estarão disponíveis em meados de dezembro, ao preço de R$ 30,00. Os interessados em reservar um exemplar ou fazer uma assinatura anual da revista (três edições por R$ 90,00) podem enviar mensagem para estavan@usp.br.