Para consolidar um espaço permanente de formação continuada
Pontos-chave |
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1. Os seminários da Cátedra auxiliam no repertório dos professores. Ao fazer uma breve imersão no tema guiados por um especialista, os educadores são instrumentalizados para participar das discussões coletivas. 2. Há muito valor nos espaços de trocas. Muitas vezes, as formações continuadas se concentram na apresentação dos conhecimentos, mas não há abertura para trocas. Os professores enxergam que a troca é importante para a aplicação prática dos aprendizados. 3. O modelo de cursos de curta duração, com participação presencial de pequenos grupos, é visto como uma oportunidade para aprofundar as discussões de forma estruturada. 4. Não dá para ignorar a demanda de formação continuada no Brasil. Para que o conteúdo possa impactar a prática de um grupo maior de profissionais, os cursos serão disponibilizados online. |
O panorama 2020-2023 para os trabalhos da Cátedra de Educação Básica da USP trouxe, entre suas diretrizes, a perspectiva de trabalhar com simpósios e cursos. “A ideia surgiu quando pensamos em aumentar o tempo das atividades. Seria uma possibilidade de aprofundamento das discussões em uma perspectiva mais estruturada do que a das atividades temáticas, que realizamos no segundo semestre de 2019”, disse o professor da Faculdade de Educação da USP Nílson José Machado, membro da Comissão Executiva da Cátedra.
A novidade despertou curiosidade entre a plateia de educadores presentes no quarto e último encontro do Ciclo Escola: Espaços e Tempos das Ações Docentes. O dia foi dedicado à sistematização dos seminários e das atividades do semestre, além de trazer uma apresentação das propostas do grupo para os anos seguintes, que ainda estão em construção. Ao final, os educadores participantes puderam trazer sugestões e dúvidas para aprimorar o desenho realizado pelos pesquisadores que compõem a conselho executivo da Cátedra.
Ao abrir o microfone para os comentários da plateia, surgiu a pergunta sobre o formato dos cursos, propostos: online ou presencial? Luís Carlos Menezes, professor sênior do Instituto de Física da USP e membro da Comissão Executiva da Cátedra, explicou que o planejamento ainda era inicial – sendo que modelos e temáticas ainda estavam sendo discutidos. Entretanto, compartilhou que ambos formatos estavam sendo considerados. “Para garantirmos uma participação ativa nas discussões, pensamos em cursos presenciais com cerca de 15 a 20 pessoas”, esclareceu. O primeiro desenho pensado pelo grupo é de cursos que seriam compactos, com média de 12 horas de conteúdo, dividido em três ou quatro encontros.
Considerando a escolha de temas, Menezes chamou atenção para a necessidade de que essas formações dialoguem com as necessidades reais dos educadores e com os desafios encontrados na escola. Uma das ideias seria levantar tópicos específicos e que mereceriam aprofundamento entre os assuntos abordados nos seminários já realizados.
Apenas oferecer o conteúdo em formato presencial teria um impacto limitado, considerando o número de pessoas que interagiriam com a formação. Visando que o conteúdo extrapole os limites da atuação da Cátedra na cidade de São Paulo, a proposta é que os cursos sejam gravados e disponibilizados online. Também foi levantada a possibilidade de criação de parcerias para ampliar o potencial das ações para outras cidades e estados, assim como trazer aprendizados de outros locais. Machado destacou que estavam sendo pensadas atividades em conjunto com o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo dos pólos de São Carlos e de Ribeirão Preto e também com a Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação, iniciativa do Governo do Estado de São Paulo (EFAPE), iniciativa do Governo do Estado de São Paulo.
Parceiros experientes
Outras iniciativas já existentes e que poderiam colaborar de alguma forma para a inspiração dessas atividades também foram lembradas. Além da EFAPE, foi citado o programa Encontro USP-Escola, que oferece gratuitamente cursos de atualização para professores de diversas disciplinas do ensino básico. Ambos poderiam auxiliar no entendimento dos temas de maior busca dos professores e dos gestores, além de apresentar formatos possíveis para os cursos e para a disseminação dos conteúdos.
Walter Aparecido Borges trouxe um pouco da sua experiência como técnico da EFAPE. Ele compartilhou que em 2019 houve uma grande procura por formações com temas relacionados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Este ano foi praticamente de apresentação da Base e do novo currículo. Não se discutiu conteúdos ou habilidades, mas esses tópicos deverão ser mais estudados a partir de agora”, apontou. O prazo para a implementação do documento é até 2020. Por conta disso, o tema ganhou urgência, tem despertado diversas dúvidas e aumentado a busca de gestores e professores por formações que possam auxiliá-los a colocar em prática as mudanças trazidas pelos novos documentos.
Quem é Nílson José Machado |
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Leciona na Universidade de São Paulo desde 1972. Começou trabalhando no Instituto de Matemática e Estatística e, em 1984, passou a integrar o corpo docente da Faculdade de Educação, onde é professor titular. Além de matemático, é mestre e doutor em filosofia da educação e livre-docente na área de epistemologia e didática. Escreveu cerca de duas dezenas de livros para crianças e publica microensaios semanais em seu site pessoal: www.nilsonjosemachado.net |
Apesar da necessidade de trabalhar temas que levem em conta as discussões atuais da Educação, os participantes levantaram a necessidade de ir além. A sugestão foi incluir no planejamento cursos que contemplem, por exemplo, princípios e ideias fundamentais da Educação, considerando as diferentes etapas de ensino.
Nesse cenário, a colaboração entre diferentes atores apareceu como um caminho relevante para que se consolide um espaço de formação continuada permanente. Além de trocas entre professores da educação básica e superior, o diálogo entre instituições nas diferentes regiões do Brasil também apareceu como possibilidade para expandir o impacto de ações de formação continuada. Assim, seria possível ampliar os olhares das discussões educacionais sob perspectivas de diferentes profissionais do país e criar uma rede de conhecimento e trocas ainda mais potente. Segundo Naomar de Almeida Filho, pesquisador do IEA-USP que apresentou o planejamento estratégico para o período de 2020 a 2023, a Cátedra poderia ser uma catalisadora de ações formativas semelhantes.
Impacto no presente
Quem é Luís Carlos de Menezes |
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Doutor em Física pela Universidade Regensburg, é professor sênior do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Membro do Conselho Estadual de Educação em São Paulo. Consultor da Unesco para propostas curriculares. Principais focos de trabalho em educação: currículos para a Educação Básica, formação de professores e ensino de Ciências. |
Quem é Naomar de Almeida Filho |
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Médico, mestre em Saúde Comunitária, doutor em Epidemiologia. É professor titular de Epidemiologia no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor visitante em universidades nos Estados Unidos, no Canadá, no México e na Argentina. Foi reitor da UFBA e, na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), foi presidente da comissão de implantação e reitor pro-tempore. Autor de diversos estudos sobre a universidade e sua relação com a sociedade. É professor visitante no Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA-USP). |
A tarde do último encontro levou o auditório a vislumbrar cenários futuros de discussões educacionais mais estruturadas e aprofundadas com o intuito de proporcionar uma formação continuada mais sólida aos professores da educação básica. Mas, para além da empolgação com o que está por vir, houve também o reconhecimento do que a Cátedra já tem proporcionado com o formato proposto atualmente, de seminários e atividades temáticas. Alguns dos participantes que estiveram presentes nos encontros anteriores manifestaram como o espaço de discussão das práticas e vivências tem impactado suas práticas.
Adriana Maria Mâncio, professora da rede municipal de Ilha Comprida, no litoral do estado de São Paulo, é um desses casos. “Agradeço muito à Cátedra porque, desde o magistério, este é o primeiro lugar que eu venho em que todo mundo pode falar e compartilhar as práticas docentes que vivencia”. Adriana relembrou que, em um dos momentos de troca dos encontros, acabou tendo clareza de como o clima escolar interfere na aprendizagem e nas relações interpessoais. Sensibilizada pela importância da questão, ela levou a problemática para a diretora da sua escola para que pudessem discutir o tema e considerá-lo nas ações de planejamento. “Tudo que venho aprendendo aqui nos debates, eu levo para meu território para mostrar que essas mudanças são necessárias e possíveis”, disse.
Apesar do caminho ainda estar em construção, os trabalhos da Cátedra têm empolgado os professores. O próximo passo é consolidar essas conquistas. “Queremos estabelecer padrões mínimos para partilharmos o conhecimento [dos dois lados] em uma formação permanente”, disse Machado. Assim, mais um ciclo de formações foi encerrado para retomar suas atividades com muitos planos a serem concretizados entre 2020 e 2023.