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A USP Diante dos Desafios do Século 21

por Fernanda Rezende - publicado 09/05/2018 09:50 - última modificação 15/05/2018 12:29

Objetivo:

Propor ações para adequar a USP às exigências de re-estruturação acadêmica e administrativa para atender às demandas do ensino superior do século XXI procurando soluções com máxima probabilidade de sucesso.

O Comitê propõe-se a identificar os pontos mais críticos na estrutura acadêmica da USP que dificultam a reforma da instituição para se adequar às novas exigências do ensino superior.

Notícia:

Novo grupo apresentará propostas para a USP do século 21

A partir da identificação desses obstáculos, procurar soluções que possam eliminá-los ou contorná-los de modo a adequar a universidade a enfrentar os novos desafios.

Selecionar a solução mais viável, com menor resistência interna e encaminhá-la às instâncias mais adequadas que devem ser definidas ao longo do estudo.

Não é intenção de o comitê escrever apenas mais um documento de análise das dificuldades, com soluções teóricas, ou recomendações gerais sem considerar a viabilidade de implementação. Já existem vários desses documentos.

O comitê se propõe a encaminhar o documento com a assinatura de todos os membros o que requer extrema maturidade com flexibilidade de ceder lugar a soluções possíveis quando confrontadas com soluções ideais sem, ou com baixíssima chance de sucesso.

Estão previstos seis capítulos :

Capítulo 1. Contexto cultural século XXI: A era da onda de choque cultural

Capítulo 2. Contexto internacional. Impacto no Ensino Superior

Capítulo 3. Aspectos Históricos da Universidade Brasileira

Capítulo 4. A Universidade brasileira diante dos desafios do Século XXI

Capítulo 5. Pontos críticos da universidade brasileira e da USP em particular

Capítulo 6. Propostas desejadas, plausíveis e viáveis

Os temas principais previstos para serem tratados nesses capítulos são:

O contexto cultural do Século XXI configura-se como a era da onda de choque cultural. Os extraordinários avanços nos meios de observação, tanto do micro- como do macrocosmo, e a capacidade de computação desenvolvidos nos últimos 70 anos, determinaram uma revolução social sem igual na nossa história. Vários séculos se passaram entre a invenção da imprensa até que a disponibilidade de livros para o grande público se tornasse concreta, mas apenas três décadas separam a invenção da web e o uso praticamente universal da comunicação digital. A velocidade com que se transforma o mundo nos nossos dias, revela claramente que não se trata mais de um processo evolucionário comum. Muito mais que um progresso acelerado, trata-se de uma onda de choque. Onda de choque significa descontinuidade. Portanto deve ficar claro que não estamos diante de uma evolução rápida, mas de um salto para o futuro. As soluções clássicas não valem mais e, se adotadas, vão nos levar de roldão e nos afogar. Não apenas enfrentar fortes correntes, precisamos “surfar” uma onda de choque cultural.

O progresso tecnológico parece não ter limites. O impacto e as consequências dessa violenta onda de mudanças sociais, em todos os seus aspectos, ainda não está bem avaliada. Mesmo que o avanço tecnológico tenha impacto mais visível, as transformações socioculturais também se processam rapidamente.. A universidade também está sujeita a essa descontinuidade. No entanto, embora seja uma instituição das mais responsáveis pela revolução em marcha, não se transforma na mesma velocidade de mudança acelerada do contexto contemporâneo.

O contexto internacional globalizado tem enorme impacto no Ensino Superior. A evolução dos rumos científico, tecnológico, social e artístico não pode ser considerada sem a dinâmica globalização-polarização característica dos dias de hoje. De fato, ainda que ocasionalmente essa distância tenha diminuído, a sustentação dessa posição é dificultada pelos vetores de polarização.

Os principais blocos econômicos têm promovido políticas de inovação na educação superior, visando a manter e consolidar sua liderança na produção científica e tecnológica. A União Europeia implementa, desde 1999, um modelo comum de arquitetura curricular, criando uma rede de cooperação internacional, que veio a ser conhecida como Processo de Bolonha. Governo e academias de ciências nos EUA lançaram recentemente várias iniciativas de reforma universitária profunda, em particular nas chamadas universidades de pesquisa.

As universidades transnacionais estão chegando, trazendo desafios pra os sistemas nacionais de educação superior em países como o Brasil.

As universidades brasileiras devem se posicionar diante da onda de choque da internacionalização. O Brasil, dada a sua extensão territorial e expressiva população, particularmente o enorme contingente que busca acesso à educação superior, tem sido alvo de iniciativas que tratam o ensino superior como oportunidade de negócios. Nesse cenário, a educação torna-se uma questão estratégica nacional da maior relevância. Portanto, o planejamento dos rumos da educação superior nas nossas universidades não pode dispensar a nova realidade acima exposta. A nossa presença precisa ser mais proativa e menos responsiva. A mobilidade externa de docentes e estudantes está se intensificando. Para que seja mais eficaz é necessário estimular a mobilidade interna, ainda incipiente entre nossas universidades.

As melhores universidades brasileiras devem assumir suas responsabilidades, visando a superar o atual estado de distanciamento e inação, levando em conta as possibilidades e as expectativas dos parceiros externos. Além disso, a onda de internacionalização em marcha virá certamente influenciar também a interação com o setor industrial, forçando a universidade a sair de seus muros e discutir com o governo e o meio empresarial mais engajado as prioridades da política de desenvolvimento nacional.

Precisamos avaliar pontos críticos da universidade brasileira e da USP em particular. O contexto internacional afeta particularmente a USP, pela sua importância no cenário nacional. Nesse sentido, a USP precisa estar mais presente em posições decisórias em instituições e organismos internacionais de educação, além de oferecer programas capazes de atrair estudantes do mundo inteiro. Também cabe assumir compromissos de maior porte que ampliem intercâmbio técnico científico e social e mobilidade de recursos humanos, o que exige uma mudança de atitude que nem sempre é considerada. Ademais, a classificação de universidades segundo o desempenho acadêmico para servir de critério de prioridades e investimentos não pode ser adotada sem uma critica cuidadosa dos critérios.

A Universidade precisa interagir com o Estado para discutir critérios de avaliação e padrões de medidas de desempenho.. A USP deve analisar os procedimentos de avaliação dessas diversas agências, verificando como interferem na sua política interna. Ao estabelecer rotas para o futuro, a USP deve considerar sua missão como Universidade de Pesquisa, honrando seu compromisso a Sociedade e com o Estado. Os diversos setores de atividade que afetam a sociedade organizada e reunida em uma nação, relacionam-se com três missões principais da universidade. A primeira que constitui parte essencial e inalienável da missão da universidade é a educação terciária. Essa função deve estar presente em todas as divisões acadêmicas sendo inseparável do seu mandato.

A segunda missão, incorporada mais recentemente com a contratação de docentes em regime de tempo integral, é a contribuição para a solução de problemas críticos que surgem em diversos segmentos de produção de bens e serviços, públicos ou privados, de educação pré-universitária, de planejamento e execução de obras públicas entre outros. A segunda missão precisa considerar que as nossas universidades evoluíram mais depressa do que o setor industrial. Esse descompasso provoca um desequilíbrio entre oferta e demanda por pessoal qualificado, particularmente aqueles formados com graus de mestre e doutor. Portanto é urgente a revisão da política de desenvolvimento econômico-industrial de Estado que permita alcançar avanços tecnológicos originais abrindo novos horizontes para os egressos da pós-graduação. Um quadro semelhante ocorre para as áreas de conhecimento das ciências humanas, sociais e ciências básicas.

A terceira missão é a sustentação do saber como valor essencial para a existência e convivência humana que cobre o arco completo do conhecimento desde o puramente racional até o transcendental. Em contraste com o saber focalizado no fazer, o olhar para fora utilitarista, aqui se trata, sobretudo do saber para ser, o olhar para dentro de nós mesmos e a contemplação do universo ao redor.

A USP é a universidade brasileira com maior número de cursos de pós-graduação. Deve questionar os rumos das políticas de desenvolvimento de Estado, Estadual e Federal, que atualmente dificultam a colocação de seus egressos. Deve tomar iniciativas de aproximação a órgãos representativos do setor empresarial, a representantes do poder executivo e legislativo no sentido de formular políticas públicas de Estado que estimulem o desenvolvimento nacional a partir de grandes projetos desafiadores. s. A USP precisa se envolver nessa dimensão de politica de desenvolvimento para sua própria sobrevivência e para o bem de seus estudantes. Nessa mesma direção, para atender às áreas de ciências humanas e sociais, também é necessário o estímulo a projetos culturais.

Propostas desejadas, plausíveis e viáveis devem urgentemente entrar na pauta da USP. A mais importante universidade brasileira não pode se atrasar no enfrentamento dos desafios atuais. De fato, se a organização da formação pós-graduada e da pesquisa está bem encaminhada, absorvendo sem dificuldades as várias formas de convergência disciplinar, a organização de graduação permanece petrificada na forma de departamentos que não mais respondem aos atuais desafios. Não se trata de destruir o maravilhoso trabalho construído até agora, mas de reorganizar os temas principais mostrando a inter-relação entre eles conquistada com o recente desenvolvimento científico e tecnológico. Isto significa trazer para a graduação o conhecimento integrado pelas convergências disciplinares já em marcha na pós-graduação.

A USP deve ser lugar para aprender mais do que para ensinar. Pata isso, precisa romper as prisões das “gaiolas” disciplinares, atualizando seus programas para atender às novas expectativas dos estudantes e responder aos novos desafios nacionais e mundiais. A educação deve ser focalizada, sobretudo para formação de pessoas com independência intelectual e baixa aversão a riscos. Novas unidades acadêmicas devem ser estruturadas dentro de um novo paradigma, organizadas em Centros Interdisciplinares, superando velhas estruturas, com novos Eixos Temáticos focalizados nas conquistas recentes, caracterizadas pela convergência e articulação de disciplinas clássicas. Além dessas, outras ações são cruciais para que a USP possa se realinhar na direção das demandas atuais, a fim de atender aos compromissos que a universidade deve ter com a Sociedade, com o Estado, com o Mundo e com sua missão histórica.

Nunca é demais insistir na necessidade e urgência para que não se perca mais uma vez o "bonde da história". Uma simples afirmação resume o que está exposto e sugerido aqui: é preciso, mais que nunca, abrir espaços para interação entre docentes e estudantes das diversas opções disciplinares, recuperando o espaço “Maria Antonia” de formação geral, que se encontra na raiz da fundação da Universidade de São Paulo.