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Grupo de Pesquisa Alimentos, Nutrição e Saúde Mental

por Fernanda Rezende - publicado 15/04/2024 15:20 - última modificação 30/05/2025 12:13

Guaraná
Guaraná (Paullinia cupana), um dos alimentos nativos brasileiros que serão investigados quanto a possíveis efeitos promotores da saúde mental
Texto de Mauro Bellesa

Investigar o potencial de certos alimentos nativos do Brasil como componentes de um padrão alimentar protetor da saúde mental é o objetivo do Grupo de Pesquisa Alimentos, Nutrição e Saúde Mental, criado em março no IEA. A pesquisa leva em consideração o fato de que já são conhecidos os efeitos desses alimentos na prevenção e no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como as cardiovasculares, câncer, diabetes e obesidade.

Coordenado pelos professores da USP Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva Torres (coordenadora), da Faculdade de Saúde Pública (FSP), e Marcus Zanetti (vice-coordenador), professor da Faculdade Sírio-Libanês, o grupo terá a duração de três anos, com atividades articuladas com parceiros acadêmicos ou não, nacionais e internacionais.

A perspectiva é que os trabalhos resultem em sugestões aos organismos governamentais envolvidos na elaboração de políticas públicas relacionadas com alimentação e saúde mental, além de publicações em veículos acadêmicos e ações de educação alimentar.

Relevância

Os coordenadores ressaltam que o transtorno depressivo maior (TDM) é uma questão de saúde pública relevante, dada sua prevalência ao longo da vida (de 4,4% a 20% da população em geral). “Estudos adicionais destacam essa enfermidade como uma das principais contribuintes para o impacto econômico relacionado aos gastos com saúde pública e à carga global de doenças projetada para o ano de 2030.”

No entanto, há uma elevada taxa de resistência terapêutica em relação ao TDM, “com notável incidência de suicídio em indivíduos não responsivos ao tratamento”, além de um ônus financeiro elevado para as pessoas nessa condição. Esse quadro impõe, afirmam, a necessidade premente de desenvolvimento de novas alternativas de intervenção terapêutica para a prevenção e controle do TDM.

Principais objetivos
  • Avaliação do impacto de compostos bioativos (polifenóis, carotenoides, vitaminas, minerais) na função cerebral.
  • Estudos sobre os efeitos da alimentação na modulação da microbiota intestinal, hormônios intestinais e neurotransmissores.
  • Investigação da ação anti-inflamatória de alimentos na prevenção de transtornos mentais.

Na proposta apresentada ao Conselho Deliberativo do IEA para criação do grupo, os pesquisadores enfatizam que o consumo alimentar e a qualidade da dieta exercem impacto direto na função cerebral, tornando a dieta uma variável modificável para a manutenção da saúde mental, do humor e do desempenho cognitivo. Segundo eles, diversos estudos indicam que certos alimentos nativos do Brasil, como o guaraná, têm participação na redução de risco e controle de doenças crônicas não transmissíveis, mas, surpreendentemente, dietas como a mediterrânea, a Dash (sigla em inglês para Abordagem Dietética para Controle da Hipertensão) e a fusão das duas, a chamada dieta Mind (sigla em inglês para Intervenção Mediterrânea-Dash para Atraso Neurodegenerativo), não incluem esses alimentos como potenciais promotores da saúde mental.

Os coordenadores destacam que evidências científicas recentes apontam a existência de uma relação direta entre a nutrição ao longo da vida e a saúde mental: “Indicam que a composição, estrutura e função cerebral estão intrinsecamente ligadas à disponibilidade de nutrientes apropriados, que desempenham papéis cruciais em processos metabólicos, incluindo a modulação de hormônios intestinais endógenos, neuropeptídeos, neurotransmissores e a regulação da microbiota intestinal”.

Outro aspecto a ser considerado é a associação entre níveis elevados de mediadores inflamatórios e o surgimento e progressão de transtornos neuropsiquiátricos, logo, compostos com propriedades anti-inflamatórias presentes em alimentos podem ser considerados possíveis auxiliares no controle do TDM, afirmam as pesquisadoras.

Impactos esperados
  • Subsídios técnicos para políticas públicas em alimentação e saúde mental;
  • Publicações científicas de alto impacto e livros técnicos;
  • Produção de conteúdos multimídia (podcasts, vídeos, redes sociais) para ampliar o acesso ao conhecimento;
  • Promoção de eventos científicos como workshops, seminários e webinars, com foco em diálogo intersetorial e educação em saúde.

Diante disso, elas julgam fundamental a condução de estudos com alimentos nativos do país ricos em compostos bioativos (polifenóis, carotenoides, minerais e vitaminas) para que seja definido um padrão alimentar brasileiro. “Isso permitiria a inclusão desses alimentos na rotina alimentar da população, possibilitando a produção de alimentos funcionais e suplementos alimentares que contribuam para a proteção da saúde mental.”

O projeto do grupo inclui a criação de grupos de discussão e a realização de workshops, seminários e webinars, como o objetivo de promover o diálogo intersetorial e a disseminação da educação em saúde. Além das sugestões a serem apresentadas a órgãos públicos, os resultados obtidos deverão resultar em livros técnicos e artigos a serem propostos a revistas científicas de alto impacto. Os trabalhos deverão ter divulgação via séries de podcasts, redes sociais e por intermédios dos meios de comunicações tradicionais.

Contatos:

Pesquisadores(as), docentes e profissionais interessados em cooperação científica, eventos ou projetos conjuntos podem contatar a coordenação do grupo:

Profa. Dra. Elizabeth A.F.S. Torres – eatorres@usp.br www.linkedin.com/in/elizabethtorresusp

Prof. Dr. Marcus V Zanetti – zanetti.mv@gmail.com

Foto: Siglia Regina dos Santos Souza/Embrapa