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IEA: Espaço Interdisciplinar de Reflexão e Plataforma Metacrítica

por Marilda Gifalli - publicado 10/05/2013 09:55 - última modificação 10/05/2016 11:24

A Criação

...Em síntese, com a criação do IEA, a atual reitoria da USP pretende responder a um dos antigos anseios do corpo acadêmico e oferecer um instrumento a mais para que a instituição se reencontre com sua própria história. Estimula-se, assim, um processo endógeno, porém internacionalista, de reflexão crítica. Advirta-se, desde logo, que o modelo adotado – e que deverá ser aprimorado a partir das sugestões do corpo acadêmico uspiano – exclui radicalmente o perigo de se transformar o IEA numa universidade dentro da Universidade.

O objetivo não é esvaziar as faculdades e os departamentos de suas substâncias. Ao contrário. Diversamente de modelos como o Colégio de México, o Collège de France ou a École Pratique des Hautes Études (externos à universidade), o modelo uspiano de Instituto de Estudos Avançados caracteriza-se pela ativação de um espaço de reflexão onde se cultivem os estudos avançados conduzidos por mestres de excelência nacional e internacional, no interior da instituição.

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A Gestão Atual

Diretor: Paulo Saldiva

Vice-Diretor: Guilherme Ary Plonski

O IEA pretende, ao longo da gestão 2016-2020, reforçar a sua tríplice função acadêmica de local de reflexão crítica, sensor de avanços na fronteira internacional do conhecimento e incubadora de ideias propositivas. Dada a amplitude de suas interfaces com todas as áreas da USP, o IEA se propõe a ampliar o seu papel de favorecer a convergência de saberes, buscando analisar temas complexos a partir de uma visão multidisciplinar e de prototipação de modelos inovadores de intervenção contributiva para se lidar melhor com os grandes desafios da sociedade.

Em suas primeiras três décadas de operação o IEA foi primariamente frequentado por professores eminentes e com carreiras consolidadas. Entendemos que o IEA está maduro para mesclar pesquisadores renomados com docentes e estudantes em processo de consolidação de suas carreiras e vocações, mesclando sabedoria com energia, experiência e sonho. Um passo importante nesse sentido foi dado na gestão do professor Martin Grossmann (2012-2016), com a criação, em parceria com a Pró-Reitoria de Pesquisa, do Programa de Ano Sabático no IEA. Após um processo criterioso de avaliação, foram selecionados seis docentes da USP, que preencheram o IEA com novas ideias e com seus orientados.

Visando a ampliar a política de agregação de novos pesquisadores ao IEA, a atual gestão propõe desde logo quatro novas iniciativas, que passam a ser sucintamente descritas abaixo.

1) Seminários Avançados de Formação de Lideranças Políticas

O Brasil carece de mais lideranças com credibilidade e conhecimento suficiente para o enfrentamento de questões críticas. As consequências negativas desse cenário são por demais evidentes e descrevê-las em sua inteireza foge do escopo deste documento. Em nosso melhor entendimento, os atuais partidos políticos falham no processo de preparação de lideranças com formação e conhecimento amplo a respeito das grandes questões vitais para o desenvolvimento do Brasil. Para abordar desafios complexos como Energia, Saneamento, Meio Ambiente, Logística, Trabalho, Habitação, Educação, Saúde e Cultura, entre outros, é altamente desejável que os futuros líderes de nossa Nação sejam expostos a todos os matizes de saberes que compõem o quadro necessário para a tomada de decisões baseadas no melhor conhecimento. Iniciativas como a Harvard Kennedy School of Government têm se mostrado exitosas, mas estão distantes das peculiaridades do Brasil e da América Latina. Nossa proposição é que o IEA abrigue, durante o período inicial de um ano, pessoas com potencial expressivo de ocupar posições de liderança na sociedade, para um processo de semi-imersão. Serão elas expostas a toda a gama de variáveis relacionadas à gestão de questões complexas e importantes para a formulação de políticas públicas voltadas para o progresso de nossa Nação, valendo-se da riqueza de saberes disponível na USP em todas as suas unidades. Mais especificamente, as atividades desta iniciativa, seriam centradas em dois eixos. O primeiro deles é a realização de seminários e discussões quinzenais, onde serão discutidos os aspectos centrais da gestão democrática e princípios republicanos necessários para a consecução de Políticas de Estado exitosas. O segundo eixo baseia-se no desenvolvimento de projetos mais específicos por parte dos participantes. À guisa de exemplo, tomemos o tema da mobilidade urbana, onde o(a) participante seria exposto a especialistas de diferentes áreas de conhecimento pertinentes ao tema, que podem ser tão variadas como planejamento urbano, zoneamento, engenharia automotiva e ferro-metroviária, combustíveis, poluição do ar e sonora, comportamento humano, segurança pública e gestão, entre outros. Espera-se que, após a exposição a essa ampla gama de informações, o(a) participante possa elaborar uma síntese que privilegie as concordâncias e proponha políticas que integrem as maiores virtudes dentro dos limites da factibilidade.

Os seminários serão liderados pelo professor José Álvaro Moisés, além de tutores, docentes da USP, a serem definidos a partir dos temas de interesse dos participantes. No primeiro ano de atuação, programa receber 10 participantes, três alunos de doutorado, três alunos de mestrado e três alunos de iniciação científica.

2) Estudos sobre a urbanidade e qualidade de vida

As cidades oferecem ao ser humano oportunidades e, ao mesmo tempo, podem ser causadoras de deterioração da qualidade de vida. Pode-se afirmar que as cidades constituem um ecossistema peculiar, que transforma em importantes determinantes da saúde temas como acesso aos serviços fundamentais, mobilidade, clima, matriz energética e uso e ocupação do solo. De uma parte, as Regiões Metropolitanas do Estado de São Paulo podem ser consideradas como laboratórios naturais para o estudo dos problemas e soluções das megacidades. Ao mesmo tempo, a Universidade de São Paulo possui em seus quadros grupos de pesquisa com sólido conhecimento em todas as áreas que afetam a qualidade de vida no ambiente urbano. Nesse sentido, propomos a criação de um espaço de diálogo e convergência de todos os grupos interessados na proposição de estudos científicos e pesquisas voltadas para a melhoria do viver dos habitantes das regiões metropolitanas. A presente proposta está alinhada a um movimento global que busca estreitar o relacionamento entre as universidades e as cidades onde estão localizadas.

O Núcleo será coordenado pelo professor Marcos Buckeridge e prevê receber três pós-doutores, três alunos de doutorado e dois alunos de mestrado.

3) Da transformação da Universidade à Universidade transformadora

A Universidade é instituição ou organização? Uma organização deseja perpetuar-se, mas é somente a instituição que consegue que também outros segmentos influentes da sociedade considerem que ela é vital para o conjunto social. Ser reconhecido como instituição vai bem além de obter um posicionamento destacado nas cada vez mais numerosas classificações (rankings). Em particular, a Universidade de São Paulo, o que é? A sociedade paulista e/ou brasileira considera-a vital, necessária, imprescindível? Como criar – ou aumentar – essa convicção?

Diversos modelos inovadores, como o da universidade empreendedora, vêm sendo implementados para potencializar a produção de conhecimento e a sua transposição, articulando o papel da universidade no processo de desenvolvimento econômico, social e cultural num contexto de sociedades em mudança acelerada. O IEA tem sido locus de sucessivos e importantes estudos, eventos, propostas e publicações acerca da evolução e perspectivas da Universidade em geral e da USP em particular. Nossa proposta tem dois focos complementares.

O primeiro é tornar o Instituto um Centro de Referência, talvez em formato de Observatório, consolidando iniciativas voltadas ao entendimento profundo dos processos e perspectivas de transformação da Universidade que prosperam no próprio IEA ou em outros espaços da USP, como o da “Universidade em Movimento”, retratada na Revista USP Nº 105. Esse Centro naturalmente se conectará com grupos, entidades e redes, no Brasil e no exterior, que esposam objetivos convergentes. O segundo foco é incubar iniciativas inovadoras de atuação da USP como Universidade transformadora da sociedade. Um exemplo é tornar o IEA um canal de conexão da USP com as Casas Legislativas (Assembleia Legislativa do Estado, Congresso Nacional e Câmaras de Vereadores dos municípios em que há campus), em harmonia com ações de articulação naturalmente exercidas pela Reitoria. O objetivo da ação específica do IEA é contribuir para a qualificação da legislação sobre temas capitais, como saúde e educação, geração de trabalho e renda, saneamento e meio ambiente, energia e transportes, segurança pública e segurança alimentar, sustentabilidade e emancipação social, mediante internalização do conhecimento acadêmico abundante na USP, adequadamente transposto. Parceiros potenciais na Câmara dos Deputados são o Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica ou o Centro de Estudos e Debates Estratégicos, enquanto na Assembleia Legislativa o ponto focal pode ser o Instituto do Legislativo Paulista.

4) Núcleo de estudo sobre novas metodologias de aprendizado voltadas ao ensino fundamental e médio

Talvez o maior desafio a ser enfrentado pelo Brasil seja aumentar a eficiência do aprendizado dos nossos jovens. Embora os indicadores de performance educacional venham avançando nos últimos anos, esta melhora ainda é lenta e desigualmente distribuída no País. Recursos digitais têm sido propostos como importantes para o aceleramento e maior eficiência do processo de aprendizado. O Portal do Professor do MEC possui milhares de conteúdos digitais de apoio ao aprendizado. Em discussões com vários especialistas da área, aparentemente este conteúdo não é plenamente eficaz, provavelmente pela natureza da sua concepção. Assim como um e-book continua sendo um livro, aulas e conteúdos expositivos, embora repaginados por mídias eletrônicas, continuam sendo conteúdos expositivos e pouco interativos e desafiadores para os estudantes dos dias de hoje. Todos os que atuam como professores, nos diferentes níveis de ensino, notam que o processo de aprendizado dos dias de hoje é regido por novas vias de processamento mental, muito provavelmente gerado pela exposição precoce às mídias digitais. É como se o processo de transmissão do conhecimento, inicialmente baseado na oralidade, processo seguido pela leitura, tivesse sido dominado por algo que poderia ser definido por cibercidade. Em outras palavras, é como se a escola, concebida segundo o regramento do século XIX, contando com professores do século XX, tivesse que se adaptar a um aluno do século XXI. Em face deste cenário, há diversas tentativas internacionais e locais que buscam aproveitar-se da linguagem digital para facilitar o processo de aprendizado dos jovens atuais. Games educacionais, aulas interativas poderiam ser técnicas que trariam o estudante para a realidade a que estão habituados. Mal comparando, seria possível tentar reproduzir o que foi a FUNBEC do passado para um aparelho multifuncional, criando espaços virtuais para o letramento, o desenvolvimento do raciocínio lógico e para recuperar o encantamento pela ciência.

A tarefa em si não é trivial por demandar a convergência de vários atores, incluindo educadores, professores, cientistas, alunos, game designers entre outros. O IEA propõe criar o ambiente para o diálogo entre as áreas acima citadas e explorar a possibilidade de criar algo à semelhança do que foi a FUNBEC, desta vez estabelecida no cyber espaço;

Para este fim, pretendemos agregar professores, três alunos de doutorado e cinco estudantes de iniciação científica. A coordenação será de Hamilton Varela.

5) Outras metas

Além dos indicadores apresentados acima, ao final de quatro anos, o IEA prevê dobrar a produção de artigos científicos e aumentar em 30% o número de colaboradores internacionais e recursos obtidos com projetos de pesquisa.