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Cátedra de Educação Básica é renomeada em homenagem a Alfredo Bosi

por Nelson Niero Neto - publicado 01/09/2021 10:45 - última modificação 01/09/2021 14:38

Parceria do Itaú Social com o IEA, a Cátedra criada em 2019 passa a se chamar Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica.

Alfredo BosiA Cátedra de Educação Básica, sediada no IEA, passará a homenagear o professor Alfredo Bosi alterando seu nome para Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica. A ideia, proposta por seus integrantes, foi anunciada pela coordenadora geral Roseli de Deus Lopes durante o evento “Presença de Alfredo Bosi”, realizado entre os dias 24 e 27 de agosto.

“É uma forma de retribuir todo o seu legado, eternizando-o na memória dos que o conheceram, e levando o seu histórico para outras gerações”, disse Roseli, que também é vice-diretora do IEA e professora da Escola Politécnica da USP. “Se considerarmos a grandeza de Bosi, foram poucos os que tiveram a oportunidade de conhecê-lo e apreciar a sua obra em vida. Ele merece muito mais. Merece ser conhecido por muitos, e por muito tempo”.

Roseli destacou a afinidade de Bosi com a temática da Cátedra e a importância de para a educação no país. "Em tempos como os que atravessamos, nós precisamos de mais humanidade, empatia, respeito, generosidade e de cultivar o sensível”, disse, “como o professor Bosi o cultivava e irradiava”.

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Homenagem

Criada em 2019, em uma parceria do IEA com o Itaú Social, a cátedra tem como objetivo contribuir para políticas de formação e reconhecimento do professorado da educação básica no país. Além da realização de pesquisas, eventos diversos têm sido promovidos semanalmente, como minicursos, seminários e colóquios. Todas as atividades oferecidas são gratuitas e abertas a todos os interessados — professores, pesquisadores, estudantes de licenciatura, e demais pessoas envolvidas com a área da educação.

“Os princípios que norteiam a cátedra se assemelham aos propósitos buscados por Alfredo Bosi em sua extensa e rica carreira intelectual”, afirmou Naomar de Almeida Filho, titular da cátedra. “Por isso o desejo de homenageá-lo”.

Filha do homenageado e professora do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Viviana Bosi disse que a família se sente honrada e contente com a homenagem. “O IEA é um local em que os vários ramos do saber que integram a universidade dialogam e se enriquecem, sempre tendo em vista o serviço à sociedade”, diz. “Meu pai tinha um grande apreço por esses encontros frutíferos que poderiam proporcionar maior democratização do conhecimento em todos os aspectos da vida brasileira.”

Para Luís Carlos de Menezes, coordenador acadêmico da cátedra e professor do Instituto de Física da USP, a nomeação é justa porque Bosi é o símbolo do IEA. “E ‘Avançado’ não só porque está à frente da universidade, mas porque está avançado para fora dela. É uma antena de interlocução com o mundo em que Bosi expressava essa vitalidade. Não só na revista Estudos Avançados, mas no conjunto de iniciativas que ele abrigava”.

Um dos criadores da cátedra, o professor da Faculdade de Educação da USP Nilson Machado afirmou que apenas o nome de Bosi, carregado de tanto simbolismo, já justificaria a nomeação. “O centro de gravidade da Universidade sempre esteve e sempre deverá estar na cultura. E Bosi é um sinônimo de cultura”, disse.

Bosi e a educação

Alfredo Bosi se debruçou sobre as questões que envolvem a educação no Brasil. Viviana explica que ele “estudou as constituições brasileiras no que tange ao ensino público e buscou compreender as diferenças e entrelaçamentos entre cultura erudita, popular e de massa”, além de ter publicado diversos artigos sobre os principais problemas da escola pública brasileira.

Mais do que isso, Bosi procurava intervir no debate com uma firme defesa da escola pública de qualidade. Viviana lembra que um dos textos de pai se chama “Proletário do Giz”, pois ele se indignava com a remuneração e as condições de trabalho dos professores do ensino fundamental e médio no país. Para reverter este quadro, Bosi sempre foi a favor de uma verba assegurada pela legislação federal para garantir a qualidade da educação pública.

Pedro Meira Monteiro, professor de literatura brasileira na Universidade de Princeton, EUA teve uma convivência próxima com Bosi. Em junho deste ano, ele publicou na Revista Piauí um ensaio a respeito de sua vida e obra, intitulado “Crítica com Alma”.

Convidado pela Cátedra para participar de uma reunião em julho, Monteiro comentou sobre a ideia de homenagear o mestre, lembrando que o aspecto pedagógico é muito destacado na obra de Bosi. “Ele sempre esteve a par das discussões sobre políticas públicas de educação”, disse durante o encontro. “Para ele, a discussão e a análise dessas políticas significava uma busca de casos que pudessem expressar onde as mudanças estavam acontecendo”.

Monteiro foi indagado por outro dos criadores da cátedra, Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da USP, sobre quais seriam as três razões que justificariam o tributo. Monteiro respondeu que a primeira seria a trajetória e a relação de Bosi com a extensão e com o mundo da licenciatura, lembrando do livro “História Concisa da Literatura Brasileira”. Para ele, Bosi desejava, com a publicação, chegar até os professores de ensino básico, trazendo a literatura para o ensino contemporâneo e para a formação de docentes.

O segundo ponto seria a relação de Bosi com os seus alunos de letras, que, segundo Monteiro relembrou, era pautada por uma grande preocupação com a formação docente. “Para ele não havia distinção entre os que pretendiam seguir na academia e os que desejavam ser professores no ensino básico. Ele tinha a mesma atenção e carinho por todos”.

A terceira razão seria a militância de Bosi na USP e no IEA em relação ao tema da educação. “Ele dedicou vários dossiês da Revista Estudos Avançados ao tema, abarcando discussões amplas”, finalizou.

Alfredo Bosi

Nascido em 26 de agosto de 1936 e morto no dia 7 de abril de 2021, Alfredo Bosi ocupa posição de destaque na vida cultural brasileira, tendo publicado 16 livros, entre os quais clássicos como "História Concisa da Literatura Brasileira", "O Ser e o Tempo da Poesia" e "Dialética da colonização", estudo que conquistou um lugar legítimo ao lado das grandes interpretações do Brasil.

Sua carreira acadêmica desenvolveu-se integralmente na Universidade de São Paulo, onde tornou-se docente da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em 1959 e, em 1985, professor titular em literatura brasileira. No IEA, foi diretor de 1998 a 2001, vice-diretor de 1987 a 1997, e editor da revista Estudos Avançados de 1989 a 2019. Foi o sétimo ocupante da Cadeira nº 12 da Academia Brasileira de Letras, para a qual foi eleito em 20 de março de 2003.

Com colaboração de Daniel Terra