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Os desafios éticos na universidade

por Flávia Dourado - publicado 31/10/2012 00:00 - última modificação 03/02/2016 12:17

As duas primeiras mesas-redondas do ciclo Ética e Universidade acontecem em novembro. Os eventos são fruto de uma parceria entre a Comissão de Ética da USP e o IEA.

A Comissão de Ética da USP e o IEA realizam nos dia 8 e 28 de novembro, às 15 horas, no IEA, as duas primeiras mesas-redondas do ciclo Ética e Universidade. A iniciativa é fruto da constatação da necessidade de a comunidade uspiana discutir temas relevantes sobre o comportamento ético, para que as conclusões atingidas contribuam para a definição de conceitos de conduta ética na USP.

Detalhe do campus da USP, capitalLIMITES
O tema da primeira mesa-redonda será Segurança e Privacidade. Os debatedores serão o professor Sérgio Adorno, diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o professor Leandro Piquet Carneiro, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, e o coronel PM Glauco Carvalho, comandante do policiamento em Guarulhos, na Grande São Paulo. A moderação estará a cargo da professora Maria Hermínia Tavares de Almeida, diretora do IRI. (Leia sobre o primeiro encontro e assista ao vídeo.)

O objetivo do primeiro encontro é discutir as tensões entre medidas tomadas para prover segurança aos membros da comunidade USP e ao patrimônio público e o respeito à privacidade dos frequentadores da Cidade Universitária (alunos, funcionários, professores, fornecedores e visitantes).

Segundo integrantes da comissão, as ameaças à segurança das pessoas e do patrimônio da USP são reais e precisam ser enfrentadas com os instrumentos e recursos de garantia da ordem constitucionalmente estabelecidos, o que, em algumas circunstâncias, pode conflitar com o  também legítimo e constitucionalmente assegurado  direito à privacidade.

A mesa-redonda discutirá os limites aceitáveis de convivência entre os dois direitos. Os participantes tratarão não tanto dos fundamentos últimos dos direitos à segurança e à privacidade, mas sobretudo dos dilemas concretos postos a comunidade da USP e, em especial, aos seus dirigentes, quando da prática cotidiana de garantir os dois.

FRAUDE
Fabricação, Falsificação e Plágio nas Ciências e Humanidades será o tema da segunda mesa-redonda do ciclo, no dia 28 de novembro. O objetivo do encontro é discutir a ética e a integridade na ciência e nas humanidades como uma responsabilidade social. A discussão internacional sobre integridade em pesquisa nos diálogos entre ciência e sociedade será abordada, especialmente no que se refere à comunicação científica e à confiança pública na ciência. Os debatedores serão os professores Edson Watanabe (UFRJ), Sonia Maria Ramos Vasconcelos (UFRJ) e Marisa Russo Lecointre (Unifesp). O professor Luiz Henrique Lopes dos Santos (FFLCH) será o moderador.

Os que lidam com projetos e trabalhos científicos têm notado crescente uso, por parte de alguns autores, de textos de outros, ressalta a sinopse do evento. "Essas cópias vão de pequenos trechos até parágrafos inteiros, seja de trabalhos publicados nos veículos especializados, seja de textos facilmente encontrados na internet. Igualmente graves são a fabricação de resultados e a falsificação de informações cada vez mais freqüentes e que, muitas vezes, residem numa zona de penumbra entre o procedimento não ético e a falsidade ideológica."

De acordo com a comissão, é difícil estabelecer se essas patologias do trabalho intelectual sempre existiram e são mais fáceis de detectar por causa da evolução dos mecanismos de busca ou se estão aumentando pelas facilidades de cópia que os meios de comunicação oferecem, notadamente a internet.

"A cultura da cola sempre existiu entre nós e, por ser praticada por estudantes, tendemos a relativizar seus efeitos na formação do profissional." Por esse motivo, a mesa-redonda também abordará a necessidade de uma revolução educacional, começando nos colégios, onde a cultura de copiar e colar é praxe.

SOCIABILIDADE
A terceira mesa-redonda será realizada em 2013. O tema será Sociabilidade. A idéia é discutir como se apresenta no mundo contemporâneo a dimensão da sociabilidade na sua relação com a ética e como pensar a ética nos diversos domínios da vida social organizada em instituições várias e em registros particulares: a política, a economia, o intercâmbio social no sentido estrito e o registro simbólico na cultura. Os expositores serão os professores Cícero Araújo (FFLCH), Eduardo Bittar, da Faculdade de Direito (FD) e Sylvia Leser de Mello, do Instituto de Psicologia (IP). A moderação será do professor Gabriel Cohn (FFLCH).

Sinopse sobre o evento elaborada pela comissão explica que a ética e a sociabilidade sempre tiveram relação muito próxima e, no entanto, problemática: "Recorrendo ao significado original do primeiro termo, é como se estivesse em causa o ethos, o caráter das relações entre os homens. Mas, se considerarmos o início da questão, na antiguidade européia clássica, encontraremos em Aristóteles uma versão peculiar da sociabilidade, a philia, a amizade, aquilo que se exprime na confiança e na reciprocidade".

Segundo o texto, com a gradativa emancipação de uma específica dimensão social da vida no mundo moderno, "a sociabilidade se adensa e ganha em dimensões, enquanto a ética se converte em campo próprio de referência e de presença naquilo que, agora, passa a ser conhecido como sociedade, distinta do Estado".

Foto: Jorge Maruta/Agência USP

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