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Nas Páginas Amarelas da Veja, José Álvaro Moisés fala sobre a crise da democracia brasileira

por Victor Matioli - publicado 17/09/2018 17:30 - última modificação 19/09/2018 12:58

José Álvaro Moisés

José Álvaro Moisés, coordenador do grupo de pesquisa Qualidade da Democracia do IEA-USP, foi o entrevistado das Páginas Amarelas da edição de 19 de setembro da revista Veja (versão online apenas para assinantes). Moisés falou sobre a campanha presidencial em curso, o acirramento dos discursos extremistas e o aumento da polarização política no Brasil. Para ele, este conjunto de fatores coloca em xeque os mais de 30 anos de construção democrática no país.

O cientista político acredita que o atentado sofrido recentemente pelo candidato à Presidência Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), é uma confirmação dessa radicalização política. “Demonstra que estamos chegando a um grau de intolerância em que o uso da violência começa a ser encarado como ‘natural’ na solução de conflitos políticos”, disse à Veja. Moisés lembrou também que outros casos, como o ataque à caravana do ex-presidente Lula no Paraná e o assassinato da vereadora Marielle Franco no Rio de Janeiro, também comprovam o “clima quase generalizado de intolerância” que assola o Brasil. Bolsonaro, segundo ele, instiga ações violentas deste tipo em seus discursos quando afirma, por exemplo, ser necessário “metralhar a petralhada”. “É uma manifestação que induz o indivíduo a pensar que é aceitável usar a violência na disputa eleitoral”, explicou.

As manifestações de Bolsonaro também aprofundam, segundo Moisés, a polarização da sociedade entre “esquerda” e “direita”. “E esse tipo de conduta não deveria, em nenhuma hipótese, ser replicado por um homem público que quer liderar uma nação”, argumentou na entrevista. Ele ressaltou que uma das atribuições dos “homens públicos” é defender a solução pacífica dos conflitos políticos e sociais e garantir o clima de entendimento entre os diferentes. O candidato do PSL faz justamente o oposto, segundo Moisés, ao “desmerecer minorias e pôr em dúvida o processo eleitoral quando questiona o funcionamento da urna eletrônica”.

Ele entende que o tipo de discurso propagado por Bolsonaro ganhou espaço porque “vem crescendo no brasileiro a sensação de que ele próprio é irrelevante para o funcionamento da democracia”, explicou. Essa crise de participação, segundo Moisés, aumenta a percepção da população de que uma mudança para um regime autoritário “pouco importa”. Ele ressaltou ainda que o pluripartidarismo tem efeito correspondente: Os brasileiros não se sentem representados por nenhum 35 partidos que existem hoje no país, o que agrava a descrença nas instituições públicas. Uma solução, para ele, é submeter os partidos a regras de democracia interna, sem as quais “serão cada vez mais rejeitados pelos eleitores”.

Foto: Leonor Calasans/IEA-USP